Lígia de Paiva Ligabue
Neste Dia das Mães, as receitas que estão publicadas neste Guia, ocupam um lugar especial, pois pedimos que os colaboradores enviassem aquelas que tinham um significado especial, que aprenderam com suas mães.
Ao pensar no assunto, recordei da minha infância e o quanto as receitas que hoje a gente faz em família já existiam desde o começo dos anos de 1980. Quando éramos crianças, os finais de semana seguiam um ritual. Passávamos na casa dos meus avós maternos, onde a comida era bem simples, mas muito saborosa e farta.
O cardápio da vó Glória não variava muito, mas era muito bom. Todos os domingos a gente se servia de lombo assado com batatas, salada de tomate e palmito, macarrão ao sugo, arroz e feijão. De sobremesa, sorvete de bombom Sonho de Valsa. Aos sábados, adorava assistir minha avó fazer pão caseiro. Ela sovava a massa em cima da pedra da pia e separava os pedaços para fazer seis pães grandes e quatro menorzinhos, para cada uma de nós. Todas as semanas.
Também passávamos na avó Odíla. Me lembro dela sempre lutando contra a bronquite, contra o parkinson, contra as dores. Me recordo mais dela sendo cuidada do que cuidando. Mas me lembro sim, do seu espaguete e do bife bem temperadinho.
Em casa, minha mãe sempre cozinhou muito bem. Doces de compota, massas, caldos, patês, sorvetes, um menu para atender os gostos de quatro crianças com paladares mais do que diversos. Quando chega o Natal, por exemplo é até engraçado. Uma vez havia 12 tipos de sobremesas diferentes, muitas feitas por ela. Tudo para agradar todo mundo.
Quando cada uma de nós morava em uma cidade diferente e conseguíamos passar o final de semana em Vargem, minha mãe usava a mesa como estratégia para segurar a gente sempre um pouquinho mais.
No domingo, a mesa do café da manhã ficava até a hora do almoço quase. Cada uma acordava num horário e ia se servindo… Depois, juntava todo mundo na cozinha para preparar o almoço, cada uma picando um ingrediente, cozinhando outro, correndo no supermercado para buscar algum ingrediente que sempre faltava.
De repente, todos estávamos ao redor da mesa novamente, almoçando. Mal terminava de tirar o último prato, logo vinha a sobremesa. A conversa ia se estendendo, às vezes chegava nossos primos, alguma outra visita e ficava. Uma de nós conseguia sair e fazer a mala para ir embora. Outra já estava com tudo pronto, só procurando um potezinho para levar o restinho da sobremesa para viagem e quando a gente menos esperava, nossa mãe já estava passando café e esquentando uns pães de queijo no forno para todos voltarmos para a mesa para o café da tarde.
Assim, nunca ninguém saía antes da hora do jantar de casa.
Hoje, continuamos nos reunindo em volta da mesa. Domingo sim, outro também corremos até lá para dividir o almoço. Ou quando a sopa da janta está especial, ela sempre me traz um pouco para eu levar para a minha casa.
Esse amor pela cozinha, pelas receitas, por dividir uma dica ou outra de culinária, ela passou para minhas irmãs, que cozinham muito bem. Eu, particularmente, não cozinho tanto. Fico mais na equipe de apoio, cortando ingredientes, lavando louça, correndo ao supermercado. Mas assim como minha mãe, adoro esses momentos ao redor da mesa. Quando todo mundo conversa junto, quatro, cinco assuntos diferentes ao mesmo tempo e todos se entendendo. Porque quando tem amor ao redor da mesa, ninguém quer sair.
Caldo Verde
Em uma rápida eleição, que não foi fácil, eu e minhas irmãs Helena, Sara e Fernanda escolhemos uma receita de caldo verde que nossa mãe costuma fazer para compartilhar neste Guia.
Ingredientes
Entre 1 quilo a um quilo e meio de batatas, 2 calabresas, Azeite, 4 dentes de alho, 1 cebola pequena, Pimenta de bode em conserva, 1 maço de couve
Preparo
Descasque e pique as batatas. Coloque-as para cozinhar na água com um pouco de sal. Quando as batatas estiverem cozidas, bata-as no liquidificador na própria água do cozimento, juntamente com meio maço da couve. Ficará com uma coloração verde claro vivo. Reserve. Em outra panela, coloque água e dê uma fervida nas calabresas. Retire-as do fogo e pique-as em rodela. Com um pouco de azeite, dê uma apurada nas calabresas na panela que será usada para a sopa. Retire-as do fogo e as reserve. Nesse mesmo azeite da calabresa, frite a cebola, o alho e o restante do maço de couve (picadas em tiras finas). Nessa fritada, junte o caldo da batata batido com a couve e a calabresa apuradinha. Acerte o sal e coloque 1 ou 2 pimentas de bode. Deixe o caldo verde ferver. O verde do caldo ficará um pouco mais escuro que incialmente. Essa quantidade serve de 5 a 8 pessoas.