Tadeu Fernando Ligabue
Foi um ano pagando as parcelas da pescaria, da viagem e acompanhando a contagem regressiva que todo dia nosso companheiro Marcão, organizador do grupo, colocava no Whatsapp. Quanto mais perto chegava o dia, mais ansiedade nos dava. Coisas de pescador. Até que na sexta-feira, dia 7 de setembro, já devidamente de férias, eu mais o companheiro Luís Carlos Valezin aqui de Vargem, rumamos para o aeroporto de Guarulhos, saindo bem na madrugada.
Com toda a traia arrumada, mais o que era necessário, chegamos em Manaus onde fomos recepcionados pelos amigos que compunham o grupo de 12 pescadores que a princípio ia subir o Rio Alegria, afluente do Rio Negro para pescar tucunaré, principalmente o tucunaré açu. A alegria foi grande e comemoramos a chegada com um delicioso almoço no restaurante da capital manauara, onde a costela do tambaqui era o prato principal.
Pernoitamos em Manaus e no dia seguinte mais um voo de uma hora até chegarmos em Barcelos, onde nos esperava a tripulação do barco Savana que ia nos guiar até a sexta-feira seguinte em busca dos bocudos. Mas, pescaria não são somente sonhos, a realidade era que as notícias que vinham do Rio Alegria era que o mesmo estava muito cheio e pescaria difícil, com dias que ninguém pegava um peixe sequer, pois estavam todos no meio da mata, alagado que estava o rio, cerca de dois metros acima do seu nível normal.
Depois de muitas discussões, ouvindo os piloteiros que são os mais indicados nestas ocasiões, resolvemos subir o Rio Aracá onde pescamos alguns dias, aventurando também pelos rios Cuiuni, Itu e Demeni. A realidade era a mesma, rios muito cheios e poucos peixes. Na terça-feira, um calor enorme, exausto de tanto pescar com isca de hélice, no Rio Itu, junto com meu companheiro Blas, o argentino, tendo como pirangueiro o Abdias, arremessei a hélice perto de umas folhas de palmeiras caídas e o estrondo veio assustador, com um lindo tucunaré açu bocando a hélice. Alegria imensa de pegar o bitelo que pesou cerca de 5 kg, medindo 67 cm, todo negro, peixe lindo, cujo recorde mantive até na quinta-feira, quando o Marcão pegou um açu de 71 cm e foi o campeão da temporada.
Como os rios acima estavam ruins, decidimos voltar e pescar no próprio Rio Negro e suas lagoas, o que acabou acontecendo até na sexta-feira, quando pescamos até na hora do almoço. Acordávamos de madrugada, com o Marcão e seu indefectível rádio tocando as mais bizarras músicas para nos acordar. Tomávamos café e com o sol raiando saímos eufóricos para pescar.
Foi na quinta-feira, com meu companheiro Valezin que consegui fazer a melhor pescaria. Usando muito a hélice, nosso pirangueiro Aldinho nos levou até a Lagoa do Ratão, já próximos de Barcelos e de manhã, batendo hélice para tirar o peixe do meio do mato, Valezinho linguiçou (kkkk) e com uma isca de meia água pegou um bonito tucunaré paca. Animei com o peixe e consegui que um paca bonito estourasse em minha hélice. Almoçamos e voltamos no mesmo lugar. Aí eu e o Valezin lançando hélice feitos loucos, só esperando a “porrada” do bicho. Conseguimos pegar mais cinco tucunarés de bom tamanho na hélice nesta tarde e foi o que salvou nossa pescaria. Pegamos durante a semana vários tucunarés pacas, alguns borboletas, mas muito poucos, perto do que aquela região pode propiciar aos amantes da pesca esportiva. Pegávamos, tirávamos fotos e devolvíamos à água, tomando cuidado para o boto não abocanhar eles. Na sexta-feira, com o braço quase paralisado de tanta dor, mais as costas, voltamos na Lagoa do Ratão com a esperança de fisgar mais uns belos açus. Não pegamos nada, nem um rebojo de peixe houve. A pescaria terminou por volta das 11h.
O que vale ressaltar nestas pescarias que participamos é o grupo unido, as pessoas que são companheiras e amigas. Os que já conhecíamos de outras pescarias e as novas amizades que fazemos. Se não pegamos peixes na quantidade que queríamos, a forte amizade, as brincadeiras sadias, a exuberância da mata amazônica e seus rios, valeram a viagem.
Conto as impressões que eu vivenciei nesta pescaria, mas cada companheiro teve sua história. Por falar neles, foi um grupo de doze companheiros vindos de partes distintas do Brasil e até um internacional, o argentino Blas, que mora nos Estados Unidos e vem de lá celebrar conosco estes momentos inesquecíveis. O Marcos Cintra, que organiza o grupo, o Valezin de Vargem, Geraldo Magela, Edvaldo, Nelson, Gilberto, Vicente Triska, paulistas, Celso e seu filho Elysson Bresolim, ambos de Sorocaba, o Eduardo, lá do sul do país e mais este escriba.
Foram bons momentos, sem maiores incidentes, com muita alegria compartilhada, conhecimentos, experiências e para o ano que vem, já estamos estudando a possibilidade de realizar uma pesca no Rio Uatumã, também no Amazonas. Peço a Deus para ter força e disposição de poder fazer mais uma pescaria na minha vida. Comemorei meus 61 anos no Rio Negro e não sei até quando poderia ficar em pé, lançando isca artificial mais de 500 vezes num dia, para poder fisgar o tucunaré, principalmente o açu, que é um dos peixes mais esportivos do mundo.