Vargengrandense é um dos principais nomes na pesquisa e produção de sementes de batata do país

Em suas empresas, Pedro realiza uma série de estudos sobre batata e cultiva sementes. Foto: Reportagem
Em suas empresas, Pedro realiza uma série de estudos sobre batata e cultiva sementes. Foto: Reportagem

A região de Vargem Grande do Sul produz cerca de 60% da safra de batata de inverno do país. Por isso, a cidade é conhecida como a terra da batata. O vargengrandense Pedro Cândido Rytsi Hayashi é um dos principais pesquisadores de sementes de batata do país.

Em suas empresas, o engenheiro agrônomo faz pesquisas e cria sementes. “São duas coisas distintas. Primeiro tem a parte de pesquisa onde fazemos novas variedades, e depois tem a parte estabelecida da produção da batata semente, onde fazemos no nosso laboratório de cultura de pesquisa da mesma maneira que fazem fora do país”, conta o agrônomo Pedro Hayashi.

O engenheiro, que trabalha com batatas há 35 anos, teve seu maior incentivo no desafio que a cultura representava. “O que me chamou atenção é que era necessário aprender tudo nessa cultura, pois no Brasil não temos nada feito, tudo tinha que ser aprendido já que a batata não tem uma fórmula igual as outras culturas, como soja ou milho. Batata é uma cultura um pouco mais complexa”.

Na área responsável pela pesquisa, o destaque está no melhoramento genético, onde a empresa tenta resgatar e readaptar a batata que foi ajustada para dia longo da Europa. “A batata é originalmente de dia curto, cultura de origem sul-americana que foi ajustada para dia longo quando levada à Europa, então somos obrigados a plantar a batata de dia longo no dia curto, o que faz com que nossa produtividade seja sempre mais baixa que o pessoal lá fora. Nosso laboratório, por exemplo, é de 16 horas de luz para tentar se igualar à Europa”, conta o engenheiro. “Então na pesquisa eu procuro através de cruzamento e seleção, variedades que se adaptam às nossas condições de dia curto, aumentando nossa produtividade e qualidade para que possamos ser competitivos no mundo”.

O melhoramento genético ocorre em diversas culturas pelo país, com o objetivo de aumentar a produtividade e qualidade. “Essa parte de melhoramento genético é fundamental. Por exemplo, se fossemos plantar soja da maneira que entrou no Brasil, nós plantaríamos do estado de São Paulo para baixo. Ela não seria plantada no Mato Grosso que só é o grande produtor de soja por terem melhorado geneticamente”, informa.

O objetivo de aumento da produtividade se dá por meio da competitividade no mercado mundial. “Se não tivermos produtividade, quilos e toneladas por hectare, não somos competitivos no mercado mundial, já que o pessoal de fora tem subsídios e nós taxações e impostos. Em Vargem, por exemplo, dificilmente nossa produtividade ultrapassa 38 toneladas por hectare, e em qualquer país do hemisfério norte, é 60 ou 65 toneladas por hectare”, alega.

Pesquisas

O melhoramento genético na cultura é constituído por duas linhas distintas. “A primeira é o cruzamento onde escolhemos os parentais, ou seja, as batatas que sobressaem por alguma característica, seja resistência ou produtividade. E a outra é seleção. Depois do cruzamento, fazemos a seleção daquilo que é viável para nossas situações”, conta o agrônomo.

Com o objetivo de enriquecer a base genética da batata, Pedro faz o melhoramento genético de algumas espécies diferentes. “Eu também trabalho com espécies diferentes, espécies silvestres e diploides. A batata doméstica é tetraploide, ela tem o jogo de quatro cromossomos e eu trabalho com diploides também, com o intuito de enriquecer a base genética”, diz Pedro. “Se você ver no mundo, a base genética da batata é muito estreita, então comparando a milho e soja ou a qualquer outra cultura, ela não teve ganho expressivo mesmo lá fora. Então o que falta é enriquecer a base, o que tentamos fazer aqui. Não tenho notícias de resultados práticos sobre cruzamento de espécies primitivas selvagens em outro lugar, acredito que só eu trabalho com isso”.

Nas últimas pesquisas, o agrônomo obteve resultados de variedades com polpa colorida. “A polpa colorida chama bastante atenção, principalmente a de cores mais carregadas que tem uma quantidade muito grande de antocianina, que são pigmentos antioxidantes, ou seja, fazem bem para a saúde e retardam o envelhecimento, além de equilibrar todas as funções do organismo”, conta Pedro. “Alguns de nossos clones têm mais de 600 miligramas por quilo de batata, enquanto que o normal é ter um miligrama por cada quilo de uva, então essa batata é 600 vezes mais rica que a uva. O pessoal diz que tomar vinho é bom, mas comer bata é mais eficiente que o vinho”.

As batatas coloridas ainda não ganharam espaço no mercado. “Eu não tenho expectativa de que sejam como a batata comum de grandes volumes, essas são batatas que chamamos de especiais, serão usadas para pratos gourmet ou irão atingir pessoas que querem fazer dietas específicas”, informa.

O valor biológico de uma batata normal é de 1,8 a 2% de proteínas, sendo o segundo alimento mais importante neste quesito, atrás do ovo. “Mandamos algumas batatas coloridas para análise para ver a quantidade de proteínas. Se conseguirmos de 4 a 5% de proteína isso será excelente, principalmente para vegetarianos e veganos. Então essa é nossa expectativa”, fala o agrônomo.

Parceria

A empresa também trabalha com a Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (Esalq), unidade da Universidade de São Paulo (USP). “Trabalhamos juntos na parte de virologia. Nos últimos anos, nossa região e o Brasil inteiro foram atacados por uma porção muito grande de mosca branca, que transmite um vírus que até então era pouco conhecido na batata. Fazemos trabalho de limpeza desse vírus com termoterapia, quimioterapia e extração de meristema, para sabermos qual o dano desse vírus e como faremos para combater isso no futuro, sendo muito relevante para a cadeia da batata”, finaliza Pedro.

Sementes

Na produção de sementes, a empresa é equipada tecnologicamente com o laboratório de cultura de pesquisa, onde inicialmente todas as sementes eram importadas e agora são fabricadas na própria empresa. “Há, infelizmente, um paradigma de que tudo que é de fora do país é melhor que as coisas nacionais, mas isso não é real, temos a possibilidade de fazer aqui, tendo a vantagem que remuneramos nosso trabalhador em reais, e quando você compra uma batata importada, você remunera um trabalhador europeu em euro, por exemplo”, afirma o produtor.

O Ministério de Agricultura exige que sejam feitos testes na produção de sementes. “É exigido apenas um teste de Elisa para diagnosticar doenças, e nós fazemos três. Além disso, também fazemos teste de vírus que não são exigidos pela legislação, como o da mosca branca, por exemplo, e fazemos a renovação do jardim clonal a cada seis meses, enquanto o Ministério exige renovação a cada três anos. Portanto, nossa produção é bem rigorosa”, pontua Pedro.

A semente é o carro chefe da empresa e 80% de seus clientes são da indústria alimentícia, inclusive multinacionais. “Em termos de qualidade, não tenho dúvidas que as nossas sementes são melhores que as importadas, pois nas importadas há risco de trazer doenças exóticas, como aconteceu esse ano com vários lotes que vieram do Canadá com uma doença que não existe no Brasil. O Ministério da Agricultura pegou nas amostras e tudo foi incinerado, um risco que não se corre com batata nacional. Quando isso acontece, toda a programação de produção futura em produção para fábricas é atrapalhada”, comenta.

Mercado

Na avaliação do agrônomo, o mercado da batata fresca na região vem diminuindo ano a ano. Segundo Pedro, vários fatores contribuem anualmente para isso. “A primeira razão para essa diminuição é o hábito dos jovens de quererem coisas práticas, então não vem diminuindo só a batata, como o feijão também, por exemplo”, conta.

A segunda razão, segundo o agrônomo, é a frustração pela falta de qualidade. “Os consumidores tradicionais de batata que vão ao mercado e não compram batata de qualidade se frustram. Por exemplo, temos uma batata chamada Ágata, que é de origem europeia e foi introduzida ao Brasil pela estética. Ela é bonitinha e tem a pele brilhante, mas a qualidade e a culinária dela são péssimas”, cita Pedro. “Na Europa ela é boa mesmo, pois plantada lá ela tem um ciclo de cerca de 150 dias, e no Brasil, de no máximo 100. Portanto, nesse período que ela vegeta mais na Europa, automaticamente ela acumula mais matéria seca, ficando com cerca de 17%, enquanto aqui em Vargem Grande do Sul, sua porcentagem é de 13%, perdendo seu sabor”, informa.

O terceiro motivo para a queda no mercado na avaliação de Pedro é resultado de ter uma batata ruim no mercado fresco. “Como há uma batata ruim no mercado fresco, o pessoal opta por comprar batata processada, aquelas de pacotes, por ter certeza que após fritar, sairá um prato apresentável”, observa. “Todas as batatas introduzidas no Brasil são de gosto neutro. Por exemplo, se for feita com carne, ficará com gosto de carne, e se for feita com bacalhau, ficará com gosto de bacalhau. Precisamos resgatar o gosto de batata para motivar o pessoal a consumir batata in natura do mercado fresco”.

Na opinião de Pedro, o quarto motivo é a crise econômica. “Após a mudança do hábito dos jovens, a batata de nível inferior, a apresentação das batatas processadas, temos a crise que vivemos. Com isso, todos os hortifrútis estão sendo penalizados. Esse ano mesmo, conseguiram gradear a cebola. Então falta também organização entre as cadeias produtivas, falta um acordo para limitar área e tamanho de produção, pois são produtos inelásticos na economia, então se tiver uma oferta maior que a demanda, irá sobrar e esses são produtos que não dá para estocar”, finaliza o engenheiro agrônomo.

2 COMENTÁRIOS

    • Olá. Segue os dados da empresa do Sr. Pedro

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      E-mail: contatol@soleilpapa.com.br
      Telefone: +55 (19) 992167267
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