Jair Bolsonaro é o presidente eleito do Brasil. Conquistou a maioria inconteste nas urnas. Em Vargem Grande do Sul beirou os 80% dos votos. Porém, passado o período eleitoral, é necessário fazer, toda a nação, uma autorreflexão. A maneira como muitos se comportaram durante este pleito foi reveladora.
No caldeirão que foi essa campanha, quem escondia seus preconceitos num cantinho envergonhado de sua alma, a expôs sem o menor pudor. Ser contra petistas era suficiente para taxar quem era contra dos mais variados estereótipos e aproveitar para destilar uma maldade sem tamanho. Ser minoria, sofrer preconceito, sentir na pele a ruindade humana virou coitadismo.
No outro lado, quem apenas defende um viés mais mercadológico da economia, que prega valores mais conservadores, foi apontado também sem a menor ponderação de fascista. Sim. Houve extremos dos dois lados. Porém, o lado mais fraco, o das minorias, sentiu muito mais, pois a carga de ódio que receberam nas costas vinha acumulada desde 2006.
Sem dúvida que uma onda conservadora tomou conta do país e foi a grande responsável pela vitória do capitão do Exército. O Partido dos Trabalhadores não convenceu a maioria dos eleitores que o trágico legado de corrupção, de mensalão, de Lava Jato, já não faz mais parte da vida da legenda. A ligação umbilical com Lula e a maneira como o ex-presidente conduziu a sua pretensa candidatura e em seguida, orquestrou a escalada de Fernando Haddad, foi muito mal vista. Parecia até mais uma maneira de mostrar seu poder do que pensar de fato no melhor para o país.
Porém, bastaria apenas Haddad ter declarado independência a Lula e expurgado os corruptos do partido? Isso seria suficiente para que a rejeição ao PT fosse superada? Já não há mais como saber.
O que os brasileiros pagaram para ver é se o discurso do deputado Bolsonaro, muitas vezes carregado de truculência, de desrespeito às minorias, que exaltou um torturador, que ofendeu mulheres e que disse uma vez que fuzilaria Fernando Henrique Cardoso, um dos maiores presidentes que o Brasil já teve será mantido ou valerá o discurso amenizado do candidato a presidente Bolsonaro. Qual dessas duas personalidades subirá a rampa do Palácio do Planalto no dia 1º de janeiro?
Até lá, esses dois meses são fundamentais para acalmar os ânimos, apaziguar os espíritos e rever atitudes. É preciso repensar o Brasil. O país que se revelou nestas últimas semanas e trabalhar muito para que o próximo presidente tenha a coragem para cortar o que precisa ser cortado, desenvolver aquilo que é necessário e nunca esquecer que o país é composto não apenas pelos 57 milhões que votaram em seu programa de governo, mas todos os milhões de pessoas que aqui vivem.