A Praça Capitão João Pinto Fontão, criada em volta da Igreja Matriz de Sant’Ana foi projetada para ser o ponto central do município. A primeira capela foi construída no ano de fundação da cidade, em 1874.
O Largo da Matriz, que deveria ser um dos cartões postais de Vargem, é sede dos principais eventos vargengrandenses, como por exemplo, a Programação Natalina, o Desfile da Cidade e a Romaria dos Cavaleiros de Sant’Ana. O local, que deveria servir de ponto de lazer para as famílias e diversão na cidade, recebe queixas por maus cuidados, visto que, embora esteja atualmente bem cuidado, provavelmente por conta da Festa do Milho que será realizada no próximo final de semana, carece de um novo projeto de paisagismo.
Questionados pela reportagem da Gazeta de Vargem Grande, José Francisco André, de 70 anos e Luís Antônio Primo, de 53 anos, que frequentam a Praça todos os dias há mais de 10 anos, disseram que acham necessário, por exemplo, ter um banheiro no local, assim como um novo bebedouro de água.
Deixar a praça mais agradável pode atrair mais pessoas para o local, que atualmente tem sido queixa constante de frequentadores por conta da presença de usuários de entorpecentes. Assim, a população pede para que o espaço seja reformado e revitalizado, de maneira a deixá-lo mais bonito e atrativo aos moradores. A demanda também parte da Câmara Municipal, com muitos vereadores cobrando uma melhoria na praça.
A Gazeta de Vargem Grande questionou a prefeitura no final de janeiro quais os projetos que o Executivo têm para a Praça Capitão João Pinto Fontão, mas até a conclusão desta edição, não recebeu nenhuma resposta.
História
A reportagem da Gazeta buscou saber a história da criação da praça, que foi ponto de referência para o crescimento da cidade, junto ao historiador Mário Poggio Jr. em sua série de artigos “Passeio pela Pérola da Mantiqueira”.
Com o falecimento de sargento mor José Garcia Leal, a partir de 1828, surgem questões jurídicas para a divisão da fazenda Vargem Grande. Em 1873, há nova divisão da Fazenda “Várzea Grande”, terminada em 26 de setembro de 1874, data oficial da fundação da cidade. Ainda em 1874, o coronel Francisco Mariano Parreira conseguiu licença para construir uma pequena capela, instalada na atual Praça João Pinto Fontão, em torno da qual agruparam, aos poucos, os moradores que deram início ao povoado.
A construção da primeira Igreja Matriz iniciou em março de 1893 e terminou em setembro de 1894, e para sua inauguração, o coronel Francisco Mariano Parreira e o major Antônio Oliveira Fontão idealizaram uma banda para tocar em sua inauguração. Para isso, reuniram músicos amadores da cidade, que ensaiaram e se apresentaram em público junto ao Maestro Aquilino de Mello, convidado para a ocasião.
Em 1905, a prática do futebol chegou até a praça. Conforme crônica de José Leal e confirmação do professor Pedro dos Santos Tatoni, tudo começou por iniciativa de Arthur D’Avila Ribeiro, que trouxe uma bola de futebol e se reuniu com amigos para jogar bola no local. Logo, alguns dias depois, formaram o primeiro time da cidade. Arthur foi árbitro do jogo entre os Camisas Vermelhas e os Camisas Azuis, o primeiro da cidade.
Conforme relato do professor Gilberto Giraldi, em 1918 havia dois cinemas no largo do jardim, o Sant’Anna e o Recreio. Como na época o cinema era mudo, segundo o professor João Wilson Forlin, durante as exibições dos filmes, os músicos tocavam, fazendo efeitos especiais. Nos anos seguintes, outros cinemas foram criados em volta da praça, para que os casais de namorados passeassem e sentassem-se nos bancos de madeira, após assistirem os filmes.
Com o falecimento do capitão João Pinto Fontão, em 1934, a Câmara Municipal da época prestou uma homenagem decretando luto oficial e alterando o nome de Praça da Matriz para Praça Capitão João Pinto Fontão.
A Rádio Municipal, que funcionava no coreto da praça com alto-falante e vitrola, surgiu em 1938. Para a comemoração de seu primeiro ano, foi realizado um festival humorístico, com apresentações musicais de artistas amadores da cidade.
Em 24 de maio de 1940, na residência do Vigário da Paróquia, foi criada a “Associação dos Amigos de Vargem Grande”. O grupo estabeleceu entre suas metas, a conclusão de obras da Igreja Matriz e o ajardinamento da Praça que a circunda.
Em 1942, Felippe Moiysés atuou como marceneiro e jardineiro do jardim da praça. Como inicialmente os bancos eram de madeira, alguns dos quais foram reformados pela marcenaria “A Progressiva”, de propriedade de José Luiz Miranda. Em 13 de agosto de 1944, o jornal O Vargengrandense noticiou o início da campanha de doação bancos de granito, com a primeira oferta de Antônio Longuini. Os cálculos aritméticos para a criação dos canteiros da praça foram feitos pela professora Anézia Andrade Cossi, esposa do ex-prefeito Huber Cossi.
Segundo um artigo publicado na Gazeta em 2004 por Mário Poggio, conforme ensinado pelo professor João Forlin, antigamente cada lado da praça era destinado a determinados grupos de pessoas. Na parte de cima ficavam os filhos de fazendeiros, a lateral era ocupada pelos casais de namorados, a parte de baixo era onde os casais de namorados e negros sozinhos andavam e os casais de idosos negros caminhavam na lateral em frente à Igreja. No entanto, anos depois, essa divisão já não mais existia.
No centro, havia o coreto, onde a banda se apresentava às quintas-feiras, sábados e domingos, reunindo a todos para apreciar o evento. Nos anos 60 e 70, os casais de namorados ocupavam a parte de baixo da praça, e na parte de cima, as meninas ficavam andando em grupos na rua e os rapazes estacionavam na calçada. Quando havia troca de olhares, o rapaz aproximava-se e caso houvesse consentimento, passavam a caminhar juntos e sentavam nos bancos em volta da fonte luminosa.
Na praça, dois marcos foram colocados em comemoração ao primeiro centenário da cidade, em 1974. Um dos marcos é em homenagem a composição da Câmara Municipal da época, e o outro como forma de eternizar o nome dos fundadores da cidade. Em 1996, foi colocada uma estátua em homenagem ao Padre Donizetti, que atuou em Vargem de 1909 a 1926.