Por Márcia Ribeiro Iared
Assim como era chamada na minha casa…
Na minha infância, vivia sempre às voltas com a casa da minha madrinha Olinda ou da vó Hermantina, que eram daquelas animadas casas de costureiras, onde lindos vestidos eram montados enquanto da cozinha o cheiro delicioso de bolachas ao forno anunciavam mais uma quitanda das antigas à moda de Maria Mulatinha. E foi assim que Chiquinho, o filho mais novo, se casou com a filha de Manuel Martins, pedreiro, espanhol da Rua do Feijão Queimado, como era chamada a animada Primeiro de Maio.
Na vó Hermantina tinha agora aquela moça loira, muito agradável, que ali foi formando família e assim a casa foi se enchendo de novas crianças, que se misturavam às freguesias, ajudantes e à família. Eu já era mocinha, mas vários filhos da Jenny e do Chiquinho eram contemporâneos de meus irmãos. Bete e Maria da Graça, Celso e IIzidrinho eram parcerias constantes naquela casa.
Jenny não era só amiga querida de minha mãe e contemporânea da famosa tecelagem, era amiga particular de cada um de nós… Com o tempo, veio para trabalhar com ela a Josina que muito a ajudou com a então já numerosa prole.
Quando eram só a Maria da Graça, Izidrinho e o Francisquinho ainda era mais fácil, mas quando a prole aumentou, me lembro da Jenny sair à porta como era costume na época para chamar algum deles e desfiava a longa chamada bradando Quiquinho, Zidrin, Mauricim, Claudim, até acertar quem chorava ou reclamava.
Jenny era da paz… Só tinha um medo insano de chuvas bravas, quando no seu senso de proteção costumava colocar filhos e amigos até em baixo da mesa. Nunca a vi se alterar apesar do alarido dos meninos que , que se somavam aos meus irmãos, a Maria da Graça e a pequena Catarina. A todos chamava de “meu bem.” Sua alegria era explícita quando nos encontrava nas frequentes festinhas de família. Com o tempo, como Chiquinho era caseiro e as crianças cresceram, Josina passou a ser sua dama de companhia e por anos juntinhas andavam no mesmo passo a visitar a já numerosa e unida família. Sua casa nas últimas décadas se transformou na de todos os seus descendentes.
Jenny, com a falta do Chiquinho, foi o centro das preocupações e da atenção de todos. Em sua última foto de família é visível a alegria da matriarca leve e alegre que por onde passava deixava seu sorriso.
Ah Jenny do Chiquinho… Penso que nem ela se deu conta da grande tarefa que cumpriu, respeitada não só pelos seus numerosos filhos e dos outros incondicionais membros deste tão precioso núcleo, assim como ainda conseguia dividir seu desvelo a todos nós, os agregados desta tão deliciosa família dos Antunes João e Martins.
Tivemos o orgulho de homenageá-la em outubro de 2018 por ocasião do Centenário do Prédio da antiga Sociedade Espanhola, hoje Escola de Música Manuel Martins, quando representou seu pai, um dos pioneiros daquela obra, construída pela operosa colônia espanhola que aqui cuidavam de fazer os terreiros de café.
Jenny estava lá na grande ocasião, como sempre foi, sorridente e feliz, orgulhosa da história de seu pai, das bandas musicais de sua família e, principalmente, como filha mais velha alcançar e participar com saúde daquele momento e poder mostrar a todos os seus filhos e netos o legado que devem passar para os que virão.
Estava ela lá abraçada às suas flores como sempre abraçou a todos que a rodeavam.
E VIVA A JENNY DO CHIQUINHO!!!
Minha avó amada! Quantas saudades irri sentir !
Linda homenagem! Infelizmente não conheci Dona Jenny, mas quero parabenizar a Dona Márcia e ao Tadeu Ligabue, por proporcionar à todos nós Vargengrandenses, momentos de pura delicadeza, ao relatar a deliciosa história desta família. Fica aqui minha sugestão aos editor deste Jornal: A cada semana trazer uma família Vargengrandense; contar sua trajetória, resgatar suas memórias, trazer um pouco de nossa Cidade através destas familias. Quanta vida, quantos momentos, quantos causos, quantos risos, e assim proporcionar um pouco de alegria nesta leitura. É viajar no tempo, e elevar o ego destas famílias, neste momento delicado que hoje estamos vivendo. Abraço a todos e boa tarde!