Bastou anunciar que contraiu covid-19, a doença causada pelo novo coronavírus, que o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) se tornou alvo de comentários que mostram a barbárie que se tornou a política brasileira. Em redes sociais, muita gente explicitou o desejo da morte do Chefe da República.
Bolsonaro sempre desdenhou da covid-19, nunca se engajou na coordenação de um plano único nacional de combate à doença, defendeu medicamentos que são contestados pela comunidade médica e científica mundial. Se num momento de crise, os verdadeiros estadistas aparecem, a figura do presidente brasileiro se apequenou, procurou um conflito ideológico e culpou a mídia, a oposição, os outros para disfarçar a inaptidão em conduzir a nação por este momento de crise.
No entanto, nada justifica desejar sua morte. Por mais que seja difícil ver o governo se perder em tantas crises que ele mesmo gera, por mais triste que seja ainda não ver ninguém ocupando a cadeira de Ministro da Educação ou o Ministério da Saúde seguir sem um titular definitivo, o país precisa que o presidente se restabeleça, esteja saudável, para quem sabe assim, dirigir esta nação.
Mas, Bolsonaro não foi o primeiro presidente a ter tanta gente desejando sua morte. “Espero que o mandato dela acabe hoje, infartada ou com câncer, ou de qualquer maneira”, disse Bolsonaro sobre a então presidente Dilma Rousseff (PT). Quando Marisa Letícia, a esposa do ex-presidente Lula (PT), faleceu, médicos zombaram de sua morte. Procuradores da Lava Jato, em vazamento de conversas, também ironizaram a morte de Marisa Letícia. Nem a morte do garotinho Arthur, 7 anos, neto de Lula foi poupada pelos bárbaros da Internet. Uma blogueira, ao comentar uma reportagem sobre o falecimento da criança escreveu “Pelo menos uma notícia boa”.
Esse é o esgoto que se transformou parte da política brasileira. Não há espaço para o debate. Sobram palavrões, desrespeito, num nível baixíssimo. Qualquer assunto vira uma disputa maniqueísta sem embasamento. Os ânimos estão tão exaltados e as pessoas tão cegas de ódio que desejar a morte de uma pessoa, celebrar a morte de uma criança, pedir que alguém tenha câncer não são mais exceções extremas, pois são cada vez mais recorrentes.
Discorde do presidente, apoie Bolsonaro. Mas faça isso com civilidade, respeitando o contraditório. O país já vive um momento tão conturbado e cada gesto de empatia conta para que o Brasil consiga sair dessa sombra em que está.