Com o aumento expressivo nos casos de covid-19, doença causada pelo novo coronavírus em Vargem Grande do Sul, inclusive com a necessidade de internação de pacientes, a Gazeta entrou em contato com José Gustavo Bombini, CRM-SP 112.643, médico anestesiologista, membro do Corpo Clínico do Hospital de Caridade e Coordenador da Equipe de Tratamento dos Casos de Covid-19, para detalhar como é feito o acolhimento e o atendimento destes pacientes na cidade.
De acordo com o especialista, o Hospital de Caridade de Vargem Grande do Sul, acompanhando as orientações do Ministério da Saúde, desde o final de março deste ano, vem tomando medidas para lidar com os casos de Síndromes Respiratórias Agudas Graves (SARS), que pudessem ocorrer como resultado da infecção humana pelo Coronavírus (COVID-19).
Segue a entrevista com o médico:
Gazeta: Quais são os protocolos seguidos?
Dr. José Gustavo Bombini: “São atendidos no Hospital de Caridade pacientes encaminhados pelo PPA ou Unidades Básicas de Saúde que apresentem critérios de internação. Para os pacientes que necessitarem de internação, os cuidados de enfermagem, de fisioterapia e médicos, seguem cumprindo os protocolos de tratamento proposto pelo Hospital das Clínicas da USP de Ribeirão Preto, periodicamente revisado, de acordo com recomendações científicas atualizadas”.
Quantos leitos do Hospital são direcionados ao tratamento da Covid-19?
“Por se tratar de uma doença com potencial de contágio fácil e rápido, o Hospital de Caridade destinou uma ala inteira com sete quartos com um total de doze leitos, para os cuidados dos pacientes internados. Caso haja piora do estado de saúde dos pacientes internados, necessitando de intubação e ventilação mecânica, o Centro Cirúrgico principal foi preparado para receber cinco pacientes em leitos com suporte de respiradores, além de outros três leitos que seriam ativados de forma emergencial utilizando como ventiladores os aparelhos de anestesia”.
Como é a chegada do paciente com suspeita de Covid-19 ao Hospital de Caridade?
“Os casos suspeitos encaminhados são atendidos de forma prioritária e em local apropriado. Ao paciente é fornecido álcool em gel para higienização das mãos e máscara cirúrgica. O primeiro atendimento é realizado pelo médico plantonista da unidade, preparado com Equipamentos de Proteção Individual (EPI). O caso é notificado à Vigilância Sanitária, e dois caminhos são possíveis a partir daí, a depender de sintomas e ou exames que indiquem gravidade, tais como alterações cardíacas, respiratórias entre outras:
1. Se não houver sinais de gravidade, o paciente será acompanhado em casa, orientado a manter-se isolado, e procurar diretamente o hospital em caso de piora dos sintomas;
2. Se houver sinais de gravidade, o paciente será internado e os cuidados ficarão a cargo da equipe de enfrentamento de casos suspeitos de Síndrome Respiratória Aguda Grave (Equipe COVID)”
Desde o início da pandemia, quantos pacientes já permaneceram internados no hospital? A ocupação destes leitos chegou a ficar perto da capacidade?
“Desde o início da pandemia, 30 pacientes necessitaram de internação, com graus variados de gravidade. Já houve a necessidade de utilizarmos seis dos quartos disponíveis, para tratarmos sete pacientes num mesmo período. A ocupação do Centro Cirúrgico para os casos que necessitaram de intubação e suporte de respiradores ocorreu em duas ocasiões”.
Quantos casos se agravaram? Algum paciente já precisou de ventilação mecânica no Hospital?
“Dos pacientes que necessitaram de internação, cerca de dez pacientes tiveram considerável gravidade e em algum momento a equipe esteve em alerta para a necessidade de intubação. Felizmente, a doença conseguiu ser controlada nesses casos. Precisaram ser transferidos para UTIs em outros hospitais, até o momento, cinco pacientes, sendo que dois deles foram intubados e iniciado ventilação mecânica no Hospital de Caridade”.
Geralmente, quanto tempo permaneceram internados?
“O tempo de internação dos pacientes no Hospital de Caridade variou de 3 dias até 19 dias para os casos mais graves”.
Quais os principais problemas de saúde que apresentam?
“Dos pacientes internados, a grande maioria tinha problemas cardiovasculares tais como a Hipertensão Arterial e o Diabetes. Dos pacientes que precisaram ser transferidos, em apenas um caso o paciente não relatava qualquer doença pré-existente”.
Os pacientes que têm o estado agravado são encaminhados para UTIs em outros municípios. Por qual razão eles não ficam internados em Vargem, mesmo com a ampliação da oferta de respiradores no município?
“Os pacientes que têm o estado de saúde agravado, necessitando de intubação e ventilação mecânica, devem ter seus cuidados em uma Unidade de Terapia Intensiva (UTI). Enquanto houver vagas de UTI na região, os pacientes que necessitarem serão encaminhados para esses leitos. Caso cheguemos ao ponto em que não haja vagas para esses leitos de UTI, o Hospital de Caridade está adequadamente preparado para dar o suporte necessário até que a vaga solicitada esteja disponível”.
Como você avalia as ações desenvolvidas pela prefeitura e órgãos da saúde no enfrentamento da pandemia na cidade?
“Os gestores da saúde municipal, desde o início da pandemia, vem desenvolvendo ações para o enfrentamento da pandemia em nosso município, seguindo as recomendações que até o momento se mostraram eficazes em permitir que algumas cidades ao redor do mundo conseguissem equilibrar o número de infectados com o adequado cuidado com seus doentes. Nesse sentido, a prefeitura e os órgãos de saúde estão sempre presentes, em diversos meios de informações, solicitando a colaboração de cada vargengrandense com a saúde um do outro”.
O aumento do número de casos preocupa?
“O aumento no número de casos em nossa cidade e em nossa região preocupa, pois sabemos que quanto mais casos ocorrerem, mais pacientes precisarão de internação, mais pacientes serão intubados e terão suas vidas ameaçadas”.