Curta de vargengrandense foi selecionado para a Semana da Crítica de Cannes 2020

Curta de 22 minutos faz parte da seleção divulgada em junho

Um dos mais tradicionais e respeitados eventos do cinema mundial, o Festival de Cannes de 2020 não pode acontecer em seu formato presencial, devido à pandemia da Covid-19. No entanto, fez a sua seleção de produções, que foi divulgada em junho. A Semana da Crítica de Cannes, um dos eventos concomitantes com o festival e que também não pode seguir seu formato tradicional, divulgou a sua concorrida seleção. Entre as obras que receberam o seu prestigiado selo, está o curta-metragem Menarca, da cineasta vargengrandense Marília Halla.
Uma das mostras do Festival de Cannes, a 59ª Semaine de La Critique Cannes 2020 é organizada pela União Francesa de Críticos de Cinema, composta por mais de 240 profissionais, como críticos, escritores e jornalistas. A primeira exibição da produção será neste final de semana, prevista para o dia 18, na Cinematheque Francesa, em Paris, como parte da seleção Semaine de la Critique Cannes 2020.

Menarca
No curta metragem de Lillah Halla, duas garotas moram numa vila de pescadores que se vê no meio de uma estranha infestação de piranhas. Quando um corpo é encontrado enroscado numa rede de pesca, elas acreditam que este acontecimento pode lhes oferecer uma saída para a violência que as cerca. Ainda não há previsão de estreia da obra no Brasil.
Na crítica que fez sobre a obra, Léo Soesanto, coordenador de curta-metragem da Semaine de la Critique, mencionou que a produção aborda lendas e mitos, e usando o realismo mágico traz a tona problemas como masculinidade tóxica, que no filme ameaça as meninas Nanã e Mel, salvas por um peixe e uma mulher.
Lillah Halla, ao falar sobre a produção, lembrou do mito amazônico do Boto Rosa, lenda que conta a aparição de um boto disfarçado de homem, vestindo um terno e chapéu, em noite de festa, para seduzir garotas indefesas e levá-las ao fundo do rio, de onde retornam grávidas. No entanto, essa aparição ficou famosa por acobertar casos de incesto familiares, atribuindo a responsabilidade da gravidez a uma entidade fantástica.
“Durante o processo de Menarca, fizemos o exercício de imaginar essa jovem realmente fecundada pelo Boto, dando a luz a um ser híbrido, meio-mulher e meio-peixe, com um mecanismo de defesa mutante, auto-desenvolvido, que protegesse interrompesse o ciclo de violência às quais suas antecessoras foram submetidas”, comentou.
No caso da infestação das piranhas, Lillah lembrou que além do que o peixe em si, apalavra é usada de maneira pejorativa e misógina uma mulher cuja sexualidade é livre das normas morais.
Já menarca, nome dado à primeira menstruação da mulher, é apresentado como um grito de liberdade de duas crianças inseridas num contexto hostil. “Eu acredito que quando os mecanismos regentes são opressores, a transgressão tem que ser uma saída. E para mim, é importante materializar este símbolo. Claro, a resolução que Nanã encontra para lidar com seu conflito é mágica, metafórica, e não poderia ser aplicada didaticamente… Mas como contadoras de histórias, apostamos na força dos símbolos e na potência que exerce o lúdico. Os contos de fadas tiveram este poder no imaginário popular, assim como as narrativas religiosas seguem tendo”, afirmou.

Biografia
Lillah Halla é diretora e roteirista, formada em direção pela curso regular da Escuela Internacional de Cine y TV de San Antonio de los Baños, Cuba (2010-2013), onde realizou posteriormente uma especialização em roteiro (2013- 2014). Participou do programa de pesquisa ELAP (Emerging Leaders of America) em linguagem cinematográfica narrativa e experimental da Universidade Concordia, em Montréal (2014-2015).
Lillah foi consultora de roteiro no filme Island of the Hungry Ghosts (2018), dirigido por Gabrielle Brady, indicado ao Film Independent Spirit Awards 2020, vencedor do prêmio de melhor documentário no festival de Tribeca (2018), vencedor do prêmio Buyens-Chagoll do festival Visions du Réel 2018, entre outros. Lillah também foi roteirista do filme Ensaio (2018), de Tamar Guimarães, comissionado pela Bienal de Artes de São Paulo 2018, com estreia na Forum Expanded da Berlinale 2019. Colaborou como dramaturga e diretora audiovisual da obra teatral Stabat Mater (2019), direção e dramaturgia de Janaína Leite, vencedora do Prêmio Shell de Melhor Dramaturgia 2020. É roteirista do longa-metragem Ainda, finalista do prêmio Frapa e vencedor do prêmio Cabíria de Melhor Roteiro 2018. O projeto, que participará futuramente do laboratório NEXT STEP da Semana da Crítica do festival de Cannes em 2020, participou da Berlinale Coproduction Market em 2019, Cinemundi 2018, Fundación Carolina 2018, Bafici-Bal 2018, Sesc Novas Histórias 2018, BoliviaLab 2018, Brlab 2016, tem sua produção agendada para 2021.
Junto com Iana Cossoy Paro, Manoela Ziggiatti e Caru Alves de Souza, Lillah é fundadora do Coletivo Vermelha, uma rede de fortalecimento, pensamento dramatúrgico e ações políticas feministas e queer dentro do audiovisual brasileiro. Como produtora, assina gerência de produção do longa documentário Island of the Hungry (citado acima), produção executiva e gerência do curta metragem Vargem (2018), e gerência de produção das ações do Coletivo Vermelha desde 2014.

A cineasta Lillah Halla é vargengrandense

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