Foram 25 anos construindo sem a devida presença do poder municipal no Jardim Ferri. Sem fiscalização, ou um plano ou programa municipal de caráter social voltado para as famílias mais pobres, que poderia ter uma planta fornecida pela prefeitura, o bairro foi crescendo com suas casas sendo construídas como se não existisse um poder disciplinador, ao arrepio da lei. Dividiram-se terrenos em duas partes sem que a lei permitisse, venderam, construíram sem plantas e o bairro foi tomando a forma que está hoje.
Desde que foi aprovado, passaram-se os prefeitos José Reinaldo Martins, quando tudo começou, depois Denira Tavares Rossi, Locateli, Celso Ribeiro (dois mandatos) Amarildo Duzi Moraes, Celso Itaroti e novamente Amarildo Duzi Moraes para só agora procurar a atual administração resolver a questão, depois das irregularidades cometidas.
O que aconteceu no Jardim Ferri explica bem o crescimento desordenado da cidade e a dificuldade que os responsáveis pelo desenvolvimento de Vargem Grande do Sul têm em trabalhar com a questão do urbanismo do município.
O problema já tinha vindo à tona quando a prefeitura aprovou o loteamento do Jardim Paraíso II lá pelos idos de 1990 e sem lei que regulamentasse a questão dos desdobros, o mesmo teve quase a totalidade de seus terrenos originais divididos em dois, com os consequentes problemas advindos com a multiplicação do número de casas, que afetou a capacidade de fornecimento de água ao bairro e também a questão do esgoto, pois o loteamento foi aprovado para ter um número de lotes e acabou tendo o dobro. Certamente alguém ganhou com esta situação e não foi o município.
Uma lei foi aprovada em 1996 para justamente evitar que terrenos fossem desdobrados a partir desta data, mas no Jardim Ferri a lei não foi respeitada e tão pouco houve por parte do poder público municipal a devida fiscalização e acabou ocorrendo o mesmo. Dos quase 200 lotes aprovados originalmente, hoje o bairro deve ter o dobro ou mais de construções.
Enquanto isso, os moradores tiveram de conviver como cidadãos de segunda classe, pois nem ligação de água podiam ter, já que estavam todos irregulares com suas construções.
Se houvesse planejamento, a presença do poder público municipal, uma ampla discussão, reuniões com os moradores, participação comunitária, descentralização de poder, a situação poderia não ter chegado a tanto, com mais de uma centena de moradores vivendo irregularmente nos seus imóveis, sem planta, sem escritura, sem garantias e sem poder ter acesso à sua própria água.
A cidade teve aprovado dois Planos Diretores e outro está nas gavetas dos processos burocráticos da prefeitura para ser aprovado. Mas, afinal, para que serve mesmo um Plano Diretor?