Ciro Manzoni, agrônomo, durante 11 anos chefe da extensão rural da Cati em Vargem Grande do Sul e agora na defesa pecuária em São João da Boa Vista, falou como agrônomo à reportagem da Gazeta de Vargem Grande, abordando o tema sobre a estiagem prevista para este ano na Bacia do Mogi Guaçu, da qual o Rio Jaguari Mirim faz parte e também sobre o comunicado expedido pelo DAEE de Ribeirão Preto sobre a estiagem prevista na região do Rio Verde, que faz parte da Bacia do Rio Pardo.
Formado em agronomia há quase 20 anos, Ciro vem mudando seus conceitos sobre o plantio agrícola ao longo de sua carreira. Ele elogia os produtores rurais, verdadeiros heróis para ele, que ajudam a conservar a vegetação, mas “a agricultura atual, se não dar uma parada e mudar procedimentos, nós não vamos ter mais água”, afirmou ao jornal.
Para ele, alguns produtores ainda não manejam o uso da água adequadamente. Ele cita a agrônoma e professora Ana Maria Primavesi, falecida em 2020, autora de vários livros e estudos sobre o solo, cujos “ensinamentos viraram parâmetros para cientistas e pesquisadores do país, assim como agricultores”. Seus estudos apontam, segundo Ciro, que mudanças têm de ocorrer para que haja equilíbrio do solo e também preservação dos mananciais de água.
Conhecedor da micro bacia do Rio Verde, cuja extensão em boa parte já percorreu, Ciro cita que o rio nasce em Vargem, próximo à divisa com São Sebastião da Grama e não no Barro Preto como muitos acreditam. Disse que nesta região nasce o Córrego do Barro Preto, também conhecido como Córrego das Três Cruzes, conforme consta na Carta do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
Sobre a agricultura produzida na região e que consome grande quantidade de água, com vários pivôs, Ciro falou que os produtores são bem conscientes, trabalham certo e na sua opinião, a falta de água não é culpa deles. “Talvez algumas nascentes não estejam ideais, mas eles conservam. São produtores quase familiares e pela própria geografia do local não teria como eles fazerem uma cultura mais intensiva”, explicou o agrônomo.
Ele acredita que o poder público deva voltar suas ações a esta região que faz parte do Rio Verde e estimular os produtores a reflorestar onde não haja matas. Explicou que foi feito o cadastro ambiental rural, com o produtor tendo um prazo para se adequar e regularizar estas áreas que não contam com vegetação.
Perda de água
Falando sobre o Rio Verde, Ciro afirma que na sua opinião cada ano vai ser pior com relação à seca. Analisando a parte agronômica e ambiental, o agrônomo disse que é preciso analisar a capacidade do solo, de evitar a sua degradação, quer seja no uso extensivo da agropecuária, da agricultura, pois fazendo mau uso do solo, acarreta tudo isso que está correndo atualmente.
“Solo mau nutrido produz pobreza em geral. Muitos produtores não são conservacionistas do solo, não fazem uma adubação verde, importamos tecnologia de países temperados para usarmos em clima tropical. Aração e gradagem excessiva é uma péssima ideia”, argumenta o agrônomo falando sobre as técnicas de conservação do solo que acabam implicando com menos água preservada nos lençóis freáticos.
Explicou que solos pobres produzem plantas doentes, precisando cada vez mais de produtos tóxicos para combater as pragas e isso tudo está envolvido. Afirma que o produtor é o guardião da nossa riqueza hídrica e um solo mau preparado, com excesso de gradagem, depois de um certo tempo acaba tendo uma baixa capacidade de penetração de água. “Essa água vai escoar causando erosão, arrastando a rica matéria orgânica, que acaba sendo depositada no fundo de uma represa e a água vai embora, não fica depositada na nossa micro bacia”, concluiu.
“Solo com vegetação, bem estruturado, tem mais porosidade, funcionando como uma esponja e quando chove a água não vai escorrer. Ela entra no solo e forma as caixas de água naturais que na seca aos poucos vai se diluindo e mantendo o fluxo”, disse Ciro.
Afirmou que o mau uso do solo em geral, não só o da região do Rio Verde, produz um solo degradado, com baixa capacidade de retenção de água e o pouco de água que às vezes fica no solo acaba sendo perdida também pela ação do vento, que causa muito evaporação da água nestas circunstâncias. “Temos então que chove bem em dezembro e janeiro, parece uma maravilha, mas essa água entra pouco no solo duro e o agricultor gasta muito em agrotóxico para combater as doenças que infestam as plantas doentes. Se não trabalharmos esta parte da agricultura, ambiente, junto com o poder municipal estimulando e conversando com os produtores rurais, pouco vai adiantar”, prosseguiu.
Citou que no ano passado houve uma seca terrível na região onde passa o Rio Verde, que devastou muitas áreas verdes, atingindo muitas minas e essa queima da vegetação deixou o solo exposto a um sol muito quente, o que, na sua opinião contribuiu muito para a situação deste ano vir a piorar na questão da seca.
É preciso valorizar o Rio Verde
“Precisamos valorizar o Rio Verde, estudar, ver, aplicar as legislações ambientais”, disse. Para ele, o Rio Verde tinha de ser muito mais valorizado do que é hoje. “A gente praticamente esquece o Rio Verde, que abastece uma população de mais de 40 mil habitantes”, afirmou o agrônomo.
Ciro fala com apreço sobre o afluente e disse que os vargengrandenses deveriam ter um carinho especial pelo rio que abastece a cidade. “Às vezes a gente trata ele como se fosse um mero coadjuvante em Vargem, e não é, ele é nossa estrela principal e todas as políticas públicas, como saúde, educação, meio ambiente, teriam de ser feitas para o Rio Verde, não só do poder público como da população em geral”, afirmou.
O agrônomo falou que vão faltar chuvas este ano, o ano que vem e nos próximos anos se nada for feito, pois elas estão cada vez mais escassas e mais concentradas. “Se não tiver as águas das chuvas reservadas nas calhas naturais do município, que é o lençol freático, com vegetação em cima do solo, conservação das minas, não vai adiantar nada, a água vai embora, vai sair e não vai voltar mais”, sentenciou.