Desde o início da pandemia da Covid-19, o Brasil inteiro paga o preço altíssimo da falta de uma política pública nacional de enfrentamento à doença. O presidente Jair Bolsonaro simplesmente abriu mão de liderar esse enfrentamento ao se esconder atrás da falsa afirmação de que foi impedido de tomar qualquer ação por conta do Supremo Tribunal Federal (STF).
Na verdade, o Supremo não afastou o presidente do controle das medidas estratégicas contra a pandemia. O STF julgou três ações e entendeu que governadores e prefeitos têm autonomia para traçar planos de combate ao vírus em seus respectivos territórios, incluindo o fechamento do comércio, por exemplo. Contudo, o entendimento dos ministros era que a União também poderia traçar estratégias de abrangência nacional. Assim, o STF não determinou que todas as ações fossem tomadas pelos governadores e prefeitos, e sim que o governo federal não poderia interferir em ações locais, como o estabelecimento de quarentenas e o fechamento do comércio.
A falta de uma liderança nacional, de uma política sanitária única de enfrentamento da Covid-19 fez com que cada governador e cada prefeito fosse obrigado a assumir esse papel.
O presidente preferiu investir recurso público e um tempo precioso em medicamentos que já tinham sido descartados há muito tempo em outros países do mundo, como os Estados Unidos, por exemplo, além de outros desserviços como promover aglomerações, fazer ironias sobre o uso de máscaras e jogar dúvidas sobre a única arma eficiente que existe nesta pandemia, que é a vacina.
Como não há vácuo na política, governadores assumiram esse papel deixado de lado pelo presidente e passaram a combater a pandemia, criando protocolos, planos e ações. Somente agora, com a nomeação do novo ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, o governo federal passou a investir em campanhas de conscientização e incentivar a vacinação.
Aos prefeitos coube o pior. Pois as pessoas moram nas cidades, vivem, trabalham, formam suas famílias nos municípios e sentem na pele o resultado nefasto que essa falta de uma política nacional causa.
Em Vargem Grande do Sul, 80 famílias já choraram a perda de um filho, esposa, marido, pai ou mãe.
Há ainda o efeito econômico sentido na carne pelos pequenos comerciantes, estabelecimentos mais afetados nas medidas de restrição de circulação de pessoas como maneira de combate à Covid. Como é plausível permitir o funcionamento de empresas de telemarketing e determinar que uma lanchonete não pode trabalhar em serviço de drivethru?
São questões que nem presidência, nem governo ou prefeitura tiveram que pensar antes dessa pandemia, mas que passados mais de um ano já deveriam ter sido analisados. Isso se houvesse no Ministério da Saúde um grupo de estudos formados por cientistas que estiverem pesquisando a evolução, o comportamento e o impacto da doença. Mas se ele existe, ainda não mostrou seu trabalho.
Por fim, também quem está pagando esta conta são também muitas famílias que perderam renda e precisam cada vez mais de assistência social, ajuda do poder público municipal, de grupos de voluntários, de entidades e igrejas.
Se desde o início o foco fosse o combate à doença, a manutenção da vida e da Saúde e o apoio aos geradores de emprego e não disputa política, negação da ciência e divulgação de notícias falsas recebidas em grupos de Whatsapp, talvez o saldo dessa conta não fosse tão mortal.