De passatempo a esporte profissional, o skate surgiu em meados dos anos 60 e veio ganhando espaço e muitos adeptos com o passar dos anos. Em Vargem Grande do Sul há duas pistas de skate: uma na Barragem Eduíno Sbardellini e outra no Jardim Ferri, à Rua Carino José Bernardes, ambas carecendo de manutenção e segundo os skatistas ouvidos pela Gazeta, um melhor planejamento.
Neste ano, pela primeira vez, o skate esteve presente nas Olimpíadas, nos Jogos Olímpicos de Tóquio 2020, que se encerra neste domingo, dia 8. A estreia da modalidade colocou o Brasil, um dos principais centros do skate no mundo, no pódio três vezes.
No dia 25, o skatista Kelvin Hoefler conquistou a primeira medalha do Brasil nos jogos e também na modalidade. O atleta levou a prata na final do Skate Street. No dia 26, Rayssa Leal, 13 anos, que chegou à Tóquio como a brasileira mais jovem da história das Olimpíadas 2020, ficou com a prata no Skate Street e entrou para a história. Nesta quinta-feira, dia 5, o atleta Pedro Barros conquistou mais uma prata para o Brasil, na modalidade Skate Park.
A representatividade do skate nas Olimpíadas incentivou ainda mais crianças e meninas a praticarem o esporte. Em especial, à conquista de Rayssa, que encantou o país e o mundo. Em sites de material esportivo, as vendas de skates subiram nesses últimos dias, para se ter uma ideia do impacto das conquistas brasileiras na modalidade junto ao público.
A reportagem da Gazeta percorreu as pistas da cidade atrás de praticantes da modalidade. Porém, por conta do começo das aulas, foi difícil encontrar algum jovem skatista. Outro ponto negativo é a situação das pistas, com buracos e mal cuidadas. Ainda assim, uma moradora vizinha à pista do Jardim Ferri contou à reportagem que aos finais de semana, muitas crianças se reúnem pelo local para praticar manobras. Sugeriu inclusive, que a prefeitura fizesse reparos na pista e organizasse um torneio para envolver as crianças da vizinhança.
Skatistas
À Gazeta, o empresário Caio Rossellini, de 35 anos, falou sobre a prática do esporte na cidade. “Comecei a andar em meados de 1999 e 2000, com um skate emprestado do meu cunhado, que era um skate no formato tubarão e fui pegando gosto até ganhar meu primeiro Skate dos meus pais, pegando cada vez mais”, contou.
“Infelizmente não ando mais. Após a abertura do Santo Pastel, há mais ou menos três anos, acabei me dedicando 100% à pastelaria e o lazer foi ficando para trás. Porém, pretendo voltar a andar assim que possível. Acredito que em breve”, disse.
Para ele, o skate, principalmente na modalidade Street, é muito versátil. “Nós costumamos dizer que ‘Tudo é Skateável’. Andávamos muito em alguns pontos como a Escola Alexandre Fleming e na Praça da Matriz. Porém o Skate, por ter muito impacto, pode acabar danificando os locais. Por isso que nós sempre lutamos por uma pista de Skate em Vargem Grande do Sul, para que possamos praticar de forma correta e segura”, pontuou.
Caio comentou que não acha as pistas da cidade boas para incentivarem as crianças a praticarem “Chega a doer o coração, das oportunidades que tivemos e o modo como ele foi executado. A pista localizada no Jardim Ferri praticamente não existe mais. Na pista da Represa, um dos principais cartões de visita da cidade, na minha humilde opinião, o projeto foi mal executado, desde as inclinações das rampas, até a distância entre um obstáculo e outro. Fora o chão que parece um ralador de queijo, talvez cair no asfalto não machuque tanto. É triste”, relatou.
Ele falou sobre o skate ter se tornado um esporte olímpico este ano. “Vejo isso como uma enorme vitória para esse esporte maravilhoso, que vem ganhando cada vez mais destaque no mundo todo”, disse.
O skate, segundo Caio, além de ser um esporte com um altíssimo grau de dificuldade em se executar as manobras, é principalmente um esporte que não há rivalidade. “Somos todos amigos e estamos lá para nos divertir. Até mesmo no campeonato, por mais que tenha aquela disputa, nós skatistas, estamos realmente preocupados em: 1º Nosso amigo não se machucar em nenhuma manobra; 2º Tentar mandar a manobra mais complexa possível; 3º Todos se divertirem e voltarem felizes para casa. Esses são os principais princípios dos skatistas, tanto nos campeonatos, quanto nas ruas”, informou.
Ele disse perceber que hoje, as crianças praticam mais o skate. “Justamente pelos princípios mencionados anteriormente. Além de ser um esporte que desenvolve praticamente a musculatura do corpo todo, também estimula a mente, a concentração e a socialização das pessoas, onde uma sempre está disposta a ajudar e ensinar o próximo. Nós nos preocupamos se alguém cai, logo vamos conferir se o skatista está bem, e se podemos voltar a diversão. Skate é Vida, Skate é União”, finalizou.
Preconceito
Bruno Cesar Daloca, de 34 anos, pratica skate desde 2001. Ele falou sobre o esporte em Vargem. “O skate é praticável em todos os lugares, mas sentimos falta de uma pista ou skate plaza, um formato de lugar para skate que seja praticável desde o skatista iniciante até o profissional, exemplo das pistas em cidades ao redor da nossa”, disse.
Ele falou sobre as Olimpíadas. “O skate cresceu muito até os dias atuais. Com certeza, depois das Olimpíadas vai crescer mais ainda e ser mais desmarginalizado. O skate foi apresentado ao mundo pelos brasileiros e também pelos demais skatistas da melhor forma: dando show”, comentou.
Bruno contou que vê muitos skatistas começando a andar de skate, inclusive as meninas. “Porém, necessitamos de uma pista realmente praticável, que todos possam aprender. Tenho certeza que nossa cidade seria um nome no skate regional, nós temos muito potencial para isso. Lembrando que para o skate alcançar as Olimpíadas, passamos por anos de preconceito e luta, mas o interior é cheio de atletas de nível que deveriam ser reconhecidos”, finalizou.