Uma data importante da história da emancipação do município de Vargem Grande do Sul aconteceu na quarta-feira, dia 1º de dezembro. Comemorou-se neste dia, 100 anos da aprovação da Lei nº 1804, pelo Congresso Legislativo do Estado de São Paulo, transformando o então Distrito de Paz de Vargem Grande, pertencente à Comarca de São João da Boa Vista em município, com a lei sendo aprovada pelo Legislativo Paulista.
A lei foi então sancionada pelo presidente do Estado de São Paulo, Washington Luís Pereira de Souza, no dia 1º de dezembro de 1921. Concretizou-se neste dia, uma longa luta dos homens públicos e moradores do pequeno povoado, cuja data de fundação é comemorada no dia 26 de setembro, quando no ano de 1874, a Fazenda Várzea Grande foi dividida e os herdeiros da família Garcia Leal, Antônio Rodrigues do Prado, José Moreira e dona Maria Antônia Eufrazina Alves da Cunha doaram os terrenos para a formação do que viria a ser a Vargem Grande do Sul atual.
Destaque especial para a atuação do subprefeito Belarmino Rodrigues Peres, que preparou todo o distrito para que pudesse ser alçado à categoria de município. Também elogiável a atitude dos políticos de São João da Boa Vista que fizeram de tudo para que Vargem se tornasse um município. O então deputado estadual Theophilo Ribeiro de Andrade, de São João da Boa Vista, tornou-se o maior defensor da emancipação de Vargem junto ao Legislativo Paulista.
A instalação do Município só viria a ocorrer no ano seguinte, no dia 24 de fevereiro de 1922, com grandes festejos em toda a cidade. Segundo o jornal A Imprensa, que teve grande atuação na luta pela emancipação, a pequena comunidade amanheceu com alvorada de fogos e missa solene, celebrada pelo padre Donizetti.
O povo então participou da solenidade de posse da primeira Câmara Municipal de Vargem Grande, que elegeu seu presidente Joaquim Octavio de Andrade, o Quinzinho Otávio, com Francisco Thomaz de Andrade na vice-presidência. Na ocasião os vereadores elegeram também o primeiro prefeito do município recém criado, o capitão Belarmino Rodrigues Peres, que até então, vinha exercendo o cargo de subprefeito. Também compuseram a primeira Câmara Municipal de Vargem Grande os vereadores Eustáquio Ferreira Lima, Joaquim Maciel de Godoy e major Antônio de Oliveira Fontão.
Segundo relata o livro História da Câmara Municipal de Vargem Grande do Sul, nesta data também são homenageados os fundadores de Vargem Grande, seus intendentes, vereadores, subprefeitos e todos os que contribuíram para que o pequeno povoado se tornasse município.
Banquetes e baile encerram as grandes festas de um dia memorável para o povo de Vargem Grande e seu sonhado município, que emergiu do decreto-lei com as divisas desejadas. À área territorial do antigo distrito, de 208 km, passou para 269 km, após a incorporação de áreas dos municípios de Casa Branca e São João da Boa Vista.
Dados interessantes
Ao pesquisar junto à Assembleia Legislativa sobre a lei que emancipou Vargem, a reportagem do jornal deparou com vários dados interessantes sobre como era a cidade no ano de 1921. Os dados eram solicitados aos responsáveis junto às instituições, geralmente pelo subprefeito Belarmino Rodrigues Peres, que assinavam os documentos e depois as assinaturas eram registradas em cartório para que não houvessem fornecimento de dados falsos à Assembleia Legislativa.
Segundo as informações repassadas aos deputados para conseguir a emancipação, foi dito que a cidade tinha na ocasião 10.086 moradores, sendo que destes, 2.343 moravam na zona urbana e a grande maioria na zona rural, 127 propriedades agrícolas, tendo a sede do distrito 458 prédios, com rede de água, esgoto e iluminação pública, sede própria para a Câmara, e o prédio das Escolas Reunidas adaptado para a cadeia pública. Na época o distrito tinha 255 eleitores e 52 jurados.
O número de comerciantes na época era de 42, sendo que haviam cinco farmácias, cinco médicos, cinco indústrias. Em 1919 foram registrados 546 nascimentos, 290 óbitos e 88 casamentos. Em 1920, foram registrados 481 nascimentos, 216 óbitos e 83 casamentos. Em 1919 foram lavradas 114 escrituras no cartório local e no ano seguinte, 156. Estes dados também foram fornecidos pelo padre Donizetti Tavares de Lima, que na época era o pároco do distrito.
Número de alunos
O diretor Gilberto Giraldi das Escolas Reunidas, onde hoje é a Casa da Cultura, envia documento à Assembleia Paulista afirmando que em 1918 haviam, segundo levantamento feito, 402 crianças em idade escolar, entre 7 a 12 anos no distrito, sendo 218 meninos e 184 meninas. Em 1919 descreve que estavam matriculados na escola 132 alunos e 116 alunas, totalizando 248 estudantes até o quarto ano de escola. Em 1920 foram 260 alunos, sendo 144 meninos e 116 meninas. Em 1921 eram 214 matriculados, 123 alunos e 91 alunas. Estatística da escola apresentada em 1918, mostrava ainda que havia no município 9 meninas, sem lugar para frequentar a escola. Também dados fornecidos pelo diretor, indicavam 210 meninos analfabetos e 104 meninas sem saber ler ou escrever.
Movimento dos correios
Os deputados queriam saber de tudo para que pudessem dar a emancipação ao distrito de Vargem Grande e o comportamento dos correios era fundamental. Principal meio de comunicação da época, a agência local dos correios em 3 de novembro de 1920 informou o seguinte aos responsáveis pela emancipação do município.
Correspondência ordinárias recebidas foram 18.680, impressos 1.078, jornais 1.600, ofícios 264 e postais 216. Correspondências ordinárias expedidas foram 15.070 cartas, 1.612 impressos, 810 jornais, 258 ofícios e 314 postais.
Das correspondências recebidas registradas, foram 397 cartas com valor, 286 cartas sem valor, 231 encomendas, 232 impressos, 146 ofícios e 38 cartas expressas. Com relação às correspondências registradas expedidas, com valor foram 732 cartas, 261 sem valor, encomendas sem valor 118, impressos 104, ofícios estaduais 96, ofícios eleitorais 32, manuscritas 39, ofício de estatística 48 e postal 12.
Casa Branca cedeu a maioria das terras
Um dos municípios mais grandes em extensão territorial do Estado de São Paulo, foi de Casa Branca que veio a maior parte das terras que ajudaram a compor o novo município de Vargem Grande do Sul. Na época, as terras de Casa Branca vinham até a divisa do Rio Verde, sendo que as terras da atual Vila Polar pertenciam ao município vizinho.
Num dos documentos assinados pelo juiz de Direito de São João na época e enviado à Assembleia Legislativa, para justificar a criação do município de Vargem com relação à segurança, afirma que um dos agravantes com relação à criminalidade que ocorre no distrito é devido à divisa de Casa Branca ficar encostada na vila de Vargem Grande e quando os criminosos são perseguidos, eles saltam o rio e fogem da ação da polícia, por passarem para o outro município, no caso, o de Casa Branca.
Também através de abaixo assinado à Câmara dos Deputados em 1919, mais de 60 proprietários de terras que estavam localizadas em Casa Branca, mas eram próximas da vila de Vargem, pedem que suas propriedades passem a pertencer ao novo município a ser criado, o que aumentou em muitos quilômetros quadrados a área de Vargem Grande.
Alegaram que faziam a maior parte das transações comerciais no distrito e que seus cafés também eram exportados pela estação de Vargem. Também disseram que distavam poucos quilômetros da nova cidade, no máximo sete quilômetros, sendo que para irem para Casa Branca, tinham de percorrer mais de vinte quilômetros de estrada ruim. Afirmaram também que seus filhos já estudavam em Vargem e que com a inclusão de suas terras no novo município, suas vidas só tinham a melhorar.