Como retratar uma mãe cigana de Vargem Grande do Sul?

Mulher cigana em comunidade localizada na Bahia. Foto: reprodução/geledes

Tadeu Ligabue
Em busca dos personagens para as matérias do Dia das Mães, que se comemora neste domingo, dia 8 de maio, a reportagem da Gazeta de Vargem Grande se deparou no Jardim Ferri com um terreno não cercado, onde havia uma pequena tenda, muito simples, coberta com uma lona, chão de terra batida, poucos pertences, umas galinhas ciscando pelo terreiro, um sofá onde um senhor descansava, uma criança em busca de um prato de arroz e lá estava dona Sueli Ferreira, 54 anos, cigana com sua cor bem definida, mais morena, o rosto com traços de quem muito já labutou para viver e nos dentes, um pouco de ouro, coisa bem característica de seu povo.
Detalhe para os utensílios de alumínio pendurados em um arame, brilhando, sempre uma presença marcante em todo lar cigano. A reportagem falou das suas pretensões em fazer a matéria sobre o Dia das Mães e ela bem tímida, pouco respondia, vindo as respostas do seu marido. Foi então que aprofundamos mais a conversa com ela, pois toda a matéria dizia respeito ao que ela tinha vivido e aos poucos, dona Sueli foi se soltando e a conversa se aprofundando.


Sempre lembrando da desconfiança nata deste povo, dado as constantes discriminações sofridas ao longo dos séculos, eles tendem a ser muito suspeitosos de jornalistas inclusive, não estando muito motivados para compartilhar e divulgar as suas tradições, menos ainda entre os gadjés, ou “não ciganos”, que eles normalmente consideram como impuros e ignorantes, segundo fui pesquisar depois ao redigir a presente matéria. Foi por esse motivo que dona Sueli não se deixou fotografar, dizendo que seu povo não apreciava muito que fossem fotografados.
Os dados sobre os ciganos são fartos nos sites de pesquisas da Internet. Lá, podemos ver que os dois grupos principais de ciganos no Brasil são os calon e os rom. A primeira onda de migração romani do Leste da Europa para o Brasil começou por volta de 1880, e a segunda maior onda de migração pouco antes da Segunda Guerra Mundial.

Estima-se de 800 mil a 1 milhão de ciganos no Brasil, o que torna o país possuidor de uma das maiores populações de ciganos no mundo, atrás apenas dos Estados Unidos. Conhecidos também como boêmios e quicos em Minas Gerais e São Paulo, provém principalmente dos grupos calé ibérico, ciganos portugueses e espanhóis, também conhecidos como gitanos. Segundo apuramos, os calon tendem a ser mais pobres e a exibir mais o seu ethos, vestindo roupas típicas em público e cultivando o nomadismo, enquanto os rom tendem a se misturar mais à sociedade, mostrando-se sedentários ou parcialmente nômades.
O censo de 2010 do IBGE encontrou acampamentos ciganos em 291 dos 5.565 municípios existentes no país. Vargem Grande do Sul é um destes, sendo que eles hoje moram em alguns bairros da cidade, principalmente no Jardim Ferri. Natural de São Sebastião do Paraíso (MG), dona Sueli disse que está em Vargem há cerca de 30 anos. Casada com o cigano Hildo Ferreira, 56 anos, ela é mãe de três filhas, Bianca de 15 anos, Benedita, 29 e Ilaine de 27. Também tem seis netos, inclusive o pequeno João Nogueira, de seis anos, que naquele momento estava como os avós.


As filhas, todas casadas, foram criadas em Vargem e ela nos conta que na época não era tão difícil criar os filhos, a comida era mais barata, e que hoje está mais complicado de se viver. Para sobreviver, cata recicláveis, cuida das galinhas, recebe ajuda governamental e também dos membros de sua comunidade e da rede municipal quando necessita.
Indagada sobre o papel de uma mãe cigana, afirmou; “Os filhos e os netos são os maiores presentes que Deus nos deu. Educação é a primeira coisa que damos para nossos filhos”. Disse que procurou passar os valores de sua cultura para as filhas, os mesmos com os quais foi criada. “O respeito aos mais velhos, não serem malcriadas com as pessoas”. A religião fez questão de dizer que é mesma nossa, com muita fé em Deus.


Sempre hostilizados e perseguidos pelas suas tradições e modo de viver, durante a Segunda Guerra Mundial, cerca de meio milhão a um milhão e meio de ciganos foram assassinados pelos nazistas. Originários do Noroeste da Índia, o povo cigano ou rom, partiu em êxodo desta região por volta do ano 1000 por razões ainda hoje não totalmente esclarecidas, espalhando-se pela Ásia, Norte da Europa, Península Ibérica e Sul da Europa. Todos partilham a mesma herança cultural da Índia, transformada por séculos de itinerância e nomadismo em contato com povos de todo o mundo.
Dia 8 de abril, comemora-se o Dia Internacional do Cigano e no Brasil, já tivemos inclusive presidentes descendentes de ciganos. Juscelino Kubitschek (1956 – 1961), era 50% checo cigano por causa de sua mãe. Antes de Juscelino, o Brasil teve outro presidente de origem cigana do grupo calé, o Washington Luís (1926 – 1930).

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