Sérgio Argeu Scacabarrozzi
Bertolt Brecht, dramaturgo alemão, escreveu que “há homens que lutam um dia e são bons, há outros que lutam um ano e são melhores, há os que lutam muitos anos e são muito bons, mas há os que lutam toda a vida e estes são imprescindíveis.” Geraldo Majella Furlani, conhecido por gerações de alunos por Professor Majella, se encaixa perfeitamente entre os homens imprescindíveis. Por toda a sua trajetória de vida, como filho, professor, esposo, cristão católico praticante e fervoroso, político honesto e exemplar, foi um casa-branquense de quem a sua cidade e os seus conterrâneos podem, e devem, muito se orgulhar. Foi, seguramente, uma das maiores, e talvez a última, das grandes inteligências de Casa Branca. Dedicou a maior parte da sua vida ao estudo e à pesquisa da história e formação física do município onde nasceu e viveu.
Possuidor de uma cultura ímpar e inigualável, deixou duas obras imprescindíveis para quem deseja conhecer Casa Branca, sua origem e sua formação: a primeira, Estudo Geomorfológico das Boçorocas de Casa Branca, 1980, proveniente da dissertação de mestrado em geografia apresentado na USP, e O Município de Casa Branca, cuja primeira edição foi publicada pela Imprensa Oficial do Estado, em 1987, e a segunda edição, totalmente revista e ampliada, em 2003, edição do autor. Participou de diversas instituições acadêmicas, culturais, filantrópicas, esportivas e religiosas, dentre as quais foi presidente da ACCPE, confrade vicentino na Sociedade de São Vicente de Paulo (por mais de 60 anos), membro-fundador da Academia de Letras de São João da Boa Vista, professor da rede estadual de ensino, da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de São José do Rio Pardo e da Faculdade de Casa Branca (FACAB), entre outras. Ingressou na vida pública sendo eleito vice-prefeito municipal junto com o prefeito Walter Eduardo Pereira Avancini, exercendo mandato de 1983 a 1988. Foi eleito prefeito municipal em seguida e comandou os destinos da cidade de 1989 a 1992. Seu mandato foi coroado com importantes e grandes realizações, destacando-se pela honestidade e seriedade na condução da coisa pública.
Em 1990, Majella recebeu da Câmara Municipal o Troféu Jabuticaba, por sua contribuição à defesa e preservação do meio ambiente, tendo sido escolhido por unanimidade. Em 11/11/1987 recebeu, pelo Decreto Legislativo nº 22, o diploma de Honra ao Mérito, pela Câmara Municipal. Pelo Decreto Legislativo nº 02/2009, de 23/9/2009, foi agraciado, também pela Câmara Municipal de Casa Branca com o Diploma de Mérito Comunitário, pela sua contribuição social, profissional e cultural para o município. Tomou posse na Cadeira 27 da Academia de Letras de São João da Boa Vista, da qual foi membro-fundador, em 15/11/1971, passando, em 1982, à condição de Membro Correspondente.
Pertenceu à Associação dos Geógrafos Brasileiros, ao Centro de Estudos Euclides da Cunha (São Paulo), ao Grêmio Euclides da Cunha (São José do Rio Pardo) e foi participante ativo do Ciclo de Estudos Euclidianos da vizinha cidade. Publicou inúmeros artigos e estudos em importantes jornais e revistas do Brasil, sobre temas culturais e literários. Em 1986 produziu o vídeo Os Sertões de Canudos, com apoio da Casa de Cultura Euclides da Cunha, tendo passado temporada de pesquisas no sertão da Bahia, onde se desenrolou o conflito narrado por Euclides da Cunha, em Os Sertões. Foi fundador e presidente em diversas ocasiões, da Associação dos Antigos Alunos da Escola Normal (E.E. Dr. Francisco Thomaz de Carvalho), escola que ele muito amava e onde se formou, tendo exercido ali o magistério por quase a vida toda como professor.
No campo esportivo, apaixonado por futebol. Atuou profissionalmente como jogador em equipes de Campinas, Vargem Grande do Sul e São João da Boa Vista, sendo considerado um craque no esporte bretão. Uma das últimas e merecidas homenagens que recebeu foi em 25/5/2012, da Academia de Letras e Artes de Ribeirão Preto, durante a 12ª Feira do Livro de Ribeirão Preto/SP, em reconhecimento à sua contribuição prestada à Literatura Regional.
Fui agraciado com a sua amizade desde os tempos dos bancos escolares, quando tive a felicidade e o privilégio de tê-lo como meu professor de Geografia no Instituto de Educação Dr. Francisco Thomaz de Carvalho, entre os anos de 1975 e 1977. A partir daí, nossa amizade durou pela vida toda. Quando estava elaborando o seu livro O Município de Casa Branca (1987), fui seu datilógrafo, sendo que ele me honrou com uma dedicatória no livro como “co-autor” da obra. Posteriormente, quando da elaboração e publicação da segunda edição do livro, em 2003, acompanhei passo a passo todo o seu trabalho, desde as primeiras páginas até a publicação. Fizemos o lançamento festivo em sessão solene na Câmara Municipal, na noite de 14/11/2003.
Recebia sua visita constantemente, pode-se dizer que quase diariamente, na Câmara Municipal, durante o expediente, onde suas conversas sempre tinham proveito e ensinamentos, graças à sua elevada cultura e discernimento. Teve uma vida longa e respeitada, deixou um legado que jamais será apagado e sua contribuição à cidade de Casa Branca nunca será esquecida. Vai-se o homem, mas ficam as suas obras que, no caso de Geraldo Majella Furlani, não foram poucas e tiveram um valor inestimável.
Parabéns ao colega cronista Sérgio Scacabarozzi pela excelente homenagem ao saudoso Professor.