A importância de Ganymédes José para Casa Branca

50 anos da publicação de A Vida de Cristo, primeiro livro de Ganymédes José

por Sérgio Argeu Scacabarrozzi
Muito se fala de Ganymédes José em Casa Branca, especialmente nos primeiros dias do mês de maio de cada ano, depois da sua morte, em 1990, quando acontece a Semana Ganymédes José, evento criado pela Prefeitura Municipal e levada a termo, geralmente, nas proximidades do dia do seu nascimento.
Ganymédes José nasceu em 15 de maio de 1936, em Casa Branca, filho primogênito do cartorário João de Oliveira, também natural de Casa Branca, e de Rita Conceição dos Santos de Oliveira, de Mococa. Teve apenas um irmão, Clístenes, também casa-branquense, que ficou conhecido por Tenê. Cresceu e foi educado em um ambiente muito equilibrado, por uma família bem estruturada, aqui desenvolveu seus estudos, tendo se formado na Escola Normal, posteriormente bacharelando-se em Direito pela PUC de Campinas e, depois, licenciando-se em Letras (português e inglês) pela Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de São José do Rio Pardo.
O curso de Direito foi, muito provavelmente, por influência da profissão do pai, no cartório onde Ganymédes também iniciou sua vida profissional. Consta que nunca exerceu a advocacia. A faculdade de Letras, certamente, deveu-se ao seu pendor para a escrita, que começou a desenvolver desde a mais tenra idade. Com essa formação, foi professor em várias escolas de Casa Branca e região, lecionando na escola de Comércio, Colégio Casa-branquense, Instituto de Educação e Escola Industrial. Não sei se em outras escolas locais também.
Mas, o sonho que Ganymédes perseguiu foi o que o tornou conhecido em todo o Brasil: ser Escritor. Conseguiu isso a duras penas, como ele disse em várias ocasiões. Só teve o primeiro livro editado aos 36 anos de idade, em 1972, com A Vida de Cristo, pela Editora Três, por influência do escritor Ignácio de Loyola Brandão. Depois disso, não parou mais: nas décadas de 1970 e 1980 seus livros foram publicados em profusão pelas maiores e mais importantes editoras do Brasil: Ediouro, Moderna, Brasiliense, Salesianas Dom Bosco, Atual, do Brasil, Salamandra, Pioneira, etc. alcançando a respeitada quantidade de mais de 150 títulos, lidos em todas as partes do Brasil, de norte a sul, de leste a oeste. Ganymédes se tornou um dos maiores escritores de literatura infanto-juvenil do país.
Mesmo sendo um escritor famoso nacionalmente, reconhecido em vida por milhares e milhares de leitores, com milhões de livros espalhados por praticamente todos os municípios brasileiros, dos menores e mais distantes aos maiores e mais importantes, Ganymédes lutava incansavelmente para ser reconhecido em sua cidade: a pequena Casa Branca, de pouco mais de 20 mil habitantes, onde nasceu e viveu a vida toda e onde era a pessoa simples e comum que andava pelas ruas, frequentava as missas, ia diariamente ao correio, lecionava em diversas escolas, participava de eventos festivos e culturais como carnaval, procissões, festivais de música, bailes de debutantes, etc.
Uma das maiores e recorrentes reclamações de Ganymédes era que na sua cidade, onde ele nasceu e viveu, não eram encontrados os seus livros à venda. E, quando alguém se interessava por alguma de suas obras, ia à sua casa pedir. Para um escritor que vivia do que escrevia, não havia maior dor e pior desaforo. Repetia, também, que raramente era convidado a falar nas escolas, enquanto viajava para várias partes do Brasil para conversar com os estudantes. Ganymédes morreu com essa mágoa.
Mas, 32 anos depois da sua morte repentina, aos 54 anos, em 9 de julho de 1990, a pergunta que fazemos é: “Qual a importância de Ganymédes José para Casa Branca?”.
Essa pergunta se torna importante, neste momento, pelo seguinte: mesmo sendo lembrado anualmente nesta cidade, em função de um evento criado e promovido pela Prefeitura Municipal, quem dos casa-branquenses sabe realmente quem é Ganymédes José? A cada ano, os contemporâneos do escritor vão diminuindo. Atualmente, quem são os cidadãos que tiveram o privilégio de conviver ou de conhecer Ganymédes José? Quem, de nós, pode testemunhar qualquer fato relacionado a Ganymédes? Acredito que muito poucos. Em breve, com o correr dos anos, não haverá mais ninguém que se lembre de Ganymédes enquanto viveu. Neste ano, Ganymédes faria 84 anos. Atualmente, a memória do escritor está praticamente restrita aos livros que ele escreveu e deixou.
Se perguntarmos a qualquer jovem ou adulto com até 32 anos de idade, tempo passado desde a morte de Ganymédes, qual a importância dele para Casa Branca, o que responderia?
Meu propósito, aqui, é ajudar nessas respostas.
Primeiro, Ganymédes José fez da cidade onde nasceu e viveu, personagem de muitos e muitos de seus livros, levando Casa Branca para o Brasil inteiro.
Segundo, além de escritor reconhecido nacionalmente, Ganymédes nunca deixou de se interessar pela sua cidade, sua história, seus problemas, suas mazelas, suas carências. Ganymédes não vivia numa torre, distante do dia a dia. Muito pelo contrário: envolvia-se em lutas pela falta de água, pelas pichações, pelo barulho que incomodava, pela destruição da natureza e do patrimônio histórico. Ao escrever suas crônicas e artigos para os jornais locais, coisa que ele fez durante mais de 20 anos, expunha suas lutas, suas reclamações, suas sugestões para que Casa Branca melhorasse e corrigisse seus problemas.
Terceiro, Ganymédes era extremamente participativo no que acontecia em Casa Branca. Nos carnavais, fazia blocos, enfeitava salões. Nos festivais, apresentava, inscrevia composições suas. Nas atividades religiosas, organizava procissões, novenas e outros eventos com grande participação popular. Nos bailes de debutantes, um dos momentos sociais mais prestigiados dos anos 1960 e 1970, que mobilizava a sociedade, era figura indispensável na organização.
Quarto, participou e dirigiu restaurações em templos religiosos católicos, como Igreja do Rosário, primeira igreja da cidade, Santuário de Nossa Senhora do Desterro e Igreja Matriz de Nossa Senhora das Dores. Teve grande participação na luta pela preservação arquitetônica do município.
Quinto, escreveu um livro importante sobre a história da cidade, publicado pela Prefeitura Municipal, em 1973, “…uma vez Casa Branca”, onde deixou registrado fatos sobre Casa Branca para a posteridade, fruto de longa e incansável pesquisa.
Sexto, criou os símbolos do município, o brasão e a bandeira, em 1958, em concurso promovido pela Prefeitura Municipal.
Sétimo, recuperou, em seus livros, incontáveis personagens ilustres da história de Casa Branca e também figuras simples e folclóricas que, sem isso, seriam esquecidas para sempre. Muitos livros trazem personagens inspirados em personagens reais.
Oitavo, em cada livro que publicou, cujas tiragens ultrapassaram milhares e milhares de exemplares, fez questão de mencionar Casa Branca, sua terra, fazendo-a conhecida onde chegassem. Muitas pessoas testemunham e testemunharam, pelo Brasil afora, que conheceram Casa Branca através dos livros de Ganymédes José.
Nono, deixou, para Casa Branca, especialmente seus jovens leitores, o orgulho de ser casa-branquense, sua terra natal. Ganymédes José é nosso maior nome na cultura e falar dele para os que não conhecem Casa Branca, é motivo de grande satisfação.
Décimo, cumpriu, dessa maneira, a promessa que fez quando criança à professora que lhe perguntou o que queria ser quando crescesse: “Quero ser escritor, para trabalhar por minha terra”.
Enfim, Casa Branca ainda não descobriu todo o potencial da presença de Ganymédes José entre os seus filhos. Quando entendermos realmente e plenamente o que a figura de Ganymédes pode trazer para a cidade em relação ao Brasil, talvez possamos usufruir totalmente da herança que ele nos deixou.
A inauguração da Sala de Leitura Ganymédes José, na E. E. Dr. Francisco Thomaz de Carvalho, escola que viu o jovem Ganymédes como estudante em seus bancos, e o professor Ganymédes lecionando em suas salas, é um reconhecimento que, embora tardio, merece aplausos.
Aos poucos Casa Branca saberá que Ganymédes José foi uma das melhores dádivas dessa terra.
Casa Branca, maio de 2022. 84º aniversário do nascimento de GJ e 32º da sua morte.

Ganymédes José nasceu em Casa Branca, em maio de 1936

3 COMENTÁRIOS

  1. Tenho 19 anos, li Ganymédes pela primeira vez aos nove anos em seu livro “Amarelinho”. A segunda vez foi no Ensino Médio em seu livro “Um Amor de Outro Mundo”, também muito bom. Gosto muito da escrita dele, é um de meus escritores preferidos. Quero ainda ter a maioria dos livros dele aqui em casa!

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