Safra da batata tem início em Vargem Grande do Sul e região

Colheita da batata realizada em 2021, em propriedade de Pedro Marão, presidente da ABVGS. Foto: Arquivo Pessoal

Segundo dados do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada Esalq-Cepea, os preços da batata tipo ágata especial (saca de 25kg) começaram a apresentar queda nas últimas semanas e a desvalorização segue sendo atribuída à maior oferta do produto, sobretudo devido ao início da safra de inverno em Vargem Grande do Sul.
A Gazeta de Vargem Grande também apurou que no mês de abril, a batata lavada tipo ágata chegou a ser comercializada à média de R$ 103,00 a saca de 25 kg e neste início de safra, ela estava sendo comercializada em média a R$ 64,18 no atacado de São Paulo, com tendência da desvalorização se manter, segundo dados do Cepea.
Para os produtores da região, as oscilações de preços no início da safra de batata de 2022 não causam surpresas e com os anos de lida, eles aprenderam a trabalhar este período, geralmente segurando a colheita para não inundar tanto o mercado com o produto. Oficialmente, a safra da batata de inverno de Vargem e cidades da região, tem início neste mês de julho, se estendendo por cerca de 90 dias, terminando no início de outubro.
O presidente da Cooperbatata, Lucas Ranzani, entidade que tem cerca de 320 cooperados e é uma das referências não só no Estado de São Paulo, como também no Brasil no plantio de batata, em entrevista à Gazeta de Vargem Grande afirmou que o principal problema enfrentado pelos produtores este ano é o alto custo de produção, que hoje está entre R$50 mil a R$ 60 mil o hectare.
Argumentou também que o preço inicial da saca de 25 kg beneficiada não está bom, sendo pago ao produtor algo em torno de R$ 55,00 a saca e que a tendência do mercado vai depender da oferta e da procura do produto. Que devido ao alto custo da produção, o resultado econômico este ano pode ser pior que a do ano passado. Mas, afirmou que a situação dos cooperados está sob controle, pois colheram uma boa safra de milho e soja este ano.
Tradicionalmente a região planta em torno de 10 mil hectares, mas neste ano o presidente da ABVGS, Pedro Marão estima em mais de 15 mil hectares plantados nas cidades que compreendem além de Vargem Grande do Sul, as vizinhas Casa Branca (maior área plantada), Santa Cruz das Palmeiras, Itobi, Mococa, Porto Ferreira, São João da Boa Vista, Aguaí e Mogi Guaçu. A média de produção é de 700 a 750 sacas de 50kg, sendo a espécie mais plantada a ágata. Mas, como o clima está bom, a produtividade pode ser maior que a média.

Custos em alta
O jornal apurou que o preço pago ao produtor estaria variando neste início de safra de R$ R$ 40,00 a R$ 60,00 a saca de 25kg, o que daria para pagar os custos de produção. Este ano, para se plantar um hectare de batata, o valor que inicialmente alguns bancos trabalharam para financiar o plantio, estava orçado em R$ 26 mil, porém, os preços dos insumos subiram muito em decorrência da guerra entre a Rússia e a Ucrânia o que elevou consideravelmente o custo de produção, chegando a dobrar de valor.
Os preços dos adubos que custavam em média R$ 1.500,00 a tonelada no final do ano passado, hoje passam de R$ 7.000,00, sem falar no aumento exorbitante do preço do diesel, dos agroquímicos, o que inflacionou sobremaneira o custo da produção que utiliza ainda as sementes, tem de se fazer o preparo do solo, as irrigações, a dissecação aos 90 dias após o plantio e finalmente o custo da colheita.

ABVGS
O agricultor Pedro Marão Neto, presidente da Associação dos Bataticultores de Vargem Grande do Sul (ABVGS) falou sobre o aumento dos custos de produção deste ano, destacando que apesar de variar de produtor para produtor, sendo muito difícil estabelecer um valor real, foi possível através de um levantamento realizado no começo do plantio, chegar à conclusão que o custo pode girar em torno de R$ 50.000,00 o hectare.
Para Pedro, a safra deve se intensificar a partir do dia 10 de julho e nas suas previsões, os produtores ligados à Associação plantaram em uma área de mais de 10.500 hectares, mas a região apresenta um número maior, algo em torno de 16.000 hectares segundo ele e que se for levar em conta uma produtividade média de 700 sacos por hectares, deverão ser colhidos 11.200.000 sacos de 50kg na região.
Para o presidente da ABVGS, o plantio da batata este ano foi prejudicado no início, devido ao forte calor que fez, já que as temperaturas esse ano demoraram um pouco para diminuir. Mas, os meses seguintes foram bons para o desenvolvimento da cultura, apesar de alguns dias nublados que fazem com que a fotossíntese seja menor. Para ele, a cultura de batata 2022 desenvolveu bem, deixando a expectativa de boa produtividade no decorrer dos meses seguintes.
Os principais problemas enfrentados pelos produtores e apontados por Marão, foram os custos de produção, que tiveram um aumento significativo conforme já relatado, além de algumas doenças que apareceram durante o plantio. “Com o clima mais ameno, aumenta a probabilidade de doenças fúngicas e bacterianas e os dias mais quentes, a incidência de pragas aumenta a população de determinadas espécies que atacam a batata”, disse o presidente que também é agrônomo.
Indagado sobre o preço da saca de batata de 25kg pago aos produtores neste início de safra, o presidente da ABVGS disse que o preço está variando de acordo com a qualidade dos tubérculos, mas que os produtores estão procurando negociar a R$ 55,00 a saca e que devido aos altos custos da produção, este valor não pode cair, pois dependendo da produtividade e do custo do produtor, esse valor não consegue pagar o que foi investido na cultura.
Pedro também definiu que o mercado tende a sofrer uma queda quando aumentar a chegada do produto que está sendo colhido nas lavouras. “Se os dias seguirem mais amenos, o produtor consegue colher a quantidade que o mercado necessita, mas se os dias estiverem mais quentes, a necessidade de colheita é maior para que o produto não perca a qualidade”, explicou o presidente. Maior oferta do produto, significa maior queda no preço da batata.
A atual safra deve se estender até o mês de outubro e segundo Marão, os cultivares mais plantados na região são a orchestra, a ágata e cupido para mesa. Para a indústria, são plantadas as batatas da espécie atlantic, asterix e markes.
Com 140 associados, a ABVGS é uma sólida entidade que contribui para o fortalecimento dos seus membros. Ao ser perguntado como está a situação em geral dos associados, o presidente da ABVGS disse que eles conseguiram boas produtividades com milho e soja que são as culturas que antecedem o plantio da batata e que não tem nenhum relato de associado que esteja em situação ruim.
Com relação às expectativas da safra de batata deste ano, afirmou que sempre são as melhores possíveis. “Sempre tentamos melhorar nossa produtividade a cada dia, mas os preços tem que estar de acordo com o nosso orçamento senão fica complicado conseguir o capital investido”, afirmou.
Disse que a expectativa é de uma safra boa, mas que é algo difícil de mensurar. “No ano passado não imaginávamos que teríamos uma geada e de quebra, vieram três quedas bruscas na temperatura. Isso desestrutura completamente a planta, pois ela precisa de muito mais energia para se manter em condições de pleno desenvolvimento, consequentemente ela não consegue produzir o que era esperado. Um ano é diferente do outro, qualquer coisa, para uma cultura sensível com é a de batata, pode prejudicar ou beneficiar muito o seu desenvolvimento. O mercado é de oferta e demanda e como o produto é perecível, a necessidade do seu consumo rápido é necessária”, explicou Marão.
Finalizando a entrevista que concedeu ao jornal, o presidente da ABVGS disse que a necessidade de alimentos a cada dia que passa vai se tornando vital, devido ao aumento da população. Falou do trabalho árduo do produtor em produzir cada vez mais e das condições adversas que ele enfrenta, quando problemas surgem e podem prejudicar toda a cadeia produtiva de alimentos. Sendo assim, para ele que preside uma entidade que engloba mais de uma centena de produtores, deve-se valorizar todos os dias estes homens que fazem do sustento da terra, a sua maior luta.
“Desde a hora do preparo do solo até o produto chegar na prateleira dos supermercados, o processo é gigantesco, a demanda de energia gasta pela cadeia como um todo é muito grande. Então, temos que valorizar o nosso produtor, que produz alimentos saudáveis e sustentáveis”, finalizou Pedro Marão.

Processos movidos contra Condomínio foram arquivados em junho

Em setembro do ano passado, equipes do Ministério Público do Trabalho, Fiscalização do Trabalho, com apoio da Polícia Rodoviária Federal estiveram em Vargem realizando diligências em empresas e lavouras da cadeia produtiva da batata, chamando a atenção pelo aparato policial que empregou.
Em entrevista ao jornal esta semana, o coordenador do Condomínio dos Produtores Rurais de Vargem Grande do Sul, Lenoir dos Santos afirmou que os processos foram todos arquivados no dia 15 de junho deste ano, principalmente no tocante às denúncias que falavam em trabalho análogo ao escravo e a falta de pagamento aos trabalhadores rurais.
Citou que a fiscalização, porém, solicitou providências e melhorias no campo, como a utilização de banheiros químicos e o registro mecânico dos funcionários desde que iniciam o trabalho e quando deixam de trabalhar, registrando através de máquina ou aplicativo, o início e o final da jornada diária de cada trabalhador. Segundo Lenoir, que administra o condomínio que congrega cerca de 60 produtores rurais, todas estas providências estão sendo implantadas para a safra deste ano.
Este ano o condomínio deverá empregar cerca de 800 trabalhadores, sendo a maioria de Vargem Grande do Sul, mas também empregará cerca de 300 trabalhadores procedentes do Nordeste, que durante estes meses de safra chegam a Vargem para trabalhar nas lavouras e também nas máquinas de beneficiar batata.
Eles ficam entre 90 a 100 dias trabalhando no município e após o término da safra ou retornam para seus lares ou vão trabalhar em outras lavouras em outros estados. Além dos 300 trabalhadores nordestinos que o condomínio deve contratar, Lenoir acredita que outros 300 devem ser contratados para trabalharem nas mais de 10 beneficiadoras de batata existentes em Vargem e região.
Cada trabalhador deverá colher em torno de 80 sacas diárias de 50 kg, tirando entre R$ 120,00 a R$ 150,00 por dia, além das verbas rescisórias quando fazem o acerto de contas. Como no ano passado, a safra de batata este ano deverá dar trabalho a mais de mil trabalhadores, movimentando a economia do município e da região.
Com relação à pandemia da Covid, que nos anos anteriores foram uma das principais preocupações do Condomínio na contratação dos trabalhadores, este ano, segundo Lenoir, embora os cuidados continuam, ela não deve mais ser obstáculo para os trabalhos. “Estamos exigindo a carteira de vacinação, sem a qual não contratamos e o uso de máscara no transporte”, falou o administrador do condomínio. Para ele, a situação já normalizou o que representa um enorme alívio não só para a classe que está contratando, como também para os próprios trabalhadores que se sentem mais seguros no trabalho após os piores momentos que a pandemia do Coronavírus causou nos últimos dois anos.

DEIXE UMA RESPOSTA

Por favor insira seu comentário
Por favor insira seu nome aqui