Nas farmácias de Vargem Grande do Sul, a cena se repete. Os pais entregam ao atendente a receita de antibiótico para o filho, mas invariavelmente, o medicamento receitado está em falta. Perguntam sobre uma segunda opção, às vezes, precisam ficar com a terceira. Há falta de dipirona, antialérgicos, especialmente para o uso infantil. Se na rede particular já está difícil encontrar muitos tipos de remédios, as famílias que dependem das farmácias da rede pública também não está tão fácil. Por mais que a prefeitura tente comprar medicamentos, os produtos não são encontrados e não são entregues.
No entanto, o mais grave é que essa situação se repete em todo país. Levantamento da Confederação Nacional de Municípios (CNM) feito com 2.469 prefeituras brasileiras mostra justamente o cenário do desabastecimento de medicamentos em todo território nacional. A pesquisa constatou que mais de 80% dos gestores relataram sofrer com a falta de remédios para atender a população.
A falta de antibiótico foi apontada por 68% (1.350) dos municípios que responderam ao questionamento. A ausência de dipirona na rede de atendimento municipal (anti-inflamatório, analgésico e antitérmico) foi apontada por 65,6%, ou 1.302 cidades e prednisolona, utilizada no tratamento de alergias, distúrbios endócrinos e osteomusculares e doenças dermatológicas, reumatológicas, oftalmológicas e respiratórias, foi destaque por 45,3%. A maioria dos gestores informou que a falta dos medicamentos se estende entre 30 e 90 dias.
A diretora municipal de Saúde, Maria Helena Zan, contou que ao buscar orientações na Diretoria Regional de Saúde foi informada que não há previsão para que o mercado se restabeleça. Já o vereador Serginho da Farmácia, com décadas de experiência no segmento, acredita que a situação só deve apresentar uma melhora no final do ano.
Reportagem publicada nesta sexta-feira pela Folha de São Paulo, trouxe que o Ministério da Saúde diz que o desabastecimento de remédios é resultado de diversas causas globais que extrapolam sua competência como a dificuldade de importação da matéria-prima dos medicamentos, que foi impactada pela guerra na Ucrânia, pelo fechamento de portos na China em decorrência da pandemia de Covid-19 e pela alta do dólar.
Na outra ponta, a população. O pai e a mãe que estão aflitos atrás de um antibiótico par uma criança. Um idoso que precisa de um antialérgico nessa época de seca. Até uma enfermeira, que vê o estoque de soro no fim sem previsão de reposição adequada. Nesse momento, o melhor mesmo é que ninguém mais fique doente.