A boa formação intelectual, o saber acumulado e a experiência adquirida no preparo da organização das aulas, contribuíram certamente para a professora Márcia Ribeiro Iared ser a diretora de Cultura que é, cargo que exerce há mais de 20 anos na prefeitura municipal e também a presidenta da Comissão Organizadora da Romaria dos Cavaleiros de Sant’Ana que se tornou.
Não existe Romaria dos Cavaleiros sem uma Comissão Organizadora por trás, e este ano a Edição Especial da Gazeta de Vargem Grande, que há 40 anos traz em suas páginas, artigos referentes à Romaria que se realiza neste mês de julho, focou na importância da Comissão Organizadora para a boa realização da festa que homenageia a padroeira da cidade.
A entrevista com dona Márcia aconteceu na sacada de sua casa, ela se restabelecendo da Covid-19 e numa distância segura, falando sobre o tema. A intenção era abordar a renovação dos membros da comissão, mas a conversa foi se estendendo e de tudo se falou um pouco.
Disse que se ligou na questão da Romaria por causa da sua marca cultural e também por ser neta de fazedor de roda de carro de boi. “Meu bisavô veio de Minas para Vargem para fazer polvilho. É algo atávico na gente”, comentou. Por ter sido por um bom tempo da Comissão Julgadora dos melhores animais que desfilavam na romaria, antes de 2.000, aprendeu a gostar ainda mais da festa e quando passou a ser diretora de Cultura, jamais deixou de exaltar a Romaria dos Cavaleiros, evento que para ela é de maior significado para a cidade.
Conhecida pela sua determinação e exigência nos detalhes para que tudo ocorra da melhor maneira possível, quem com ela convive certamente sai engrandecido ao absorver tanto talento e disposição para o trabalho. Bom para os mais jovens que podem beber na boa fonte tudo que ela tem para ensinar, não só na parte cultural como também na organizacional.
Espera já estar plenamente restabelecida para logo na manhã deste domingo, por volta das 6h da manhã, poder coordenar os carros de boi no largo da Igreja São Joaquim, para que tudo esteja pronto às 11h e dar início à 46ª Romaria dos Cavaleiros de Sant’Ana.
Fala que se os carros de boi não estiverem prontos e alinhados, complica toda a Romaria, pois os animais não se movimentam no meio dos cavalos, do povo que vai chegando no local de saída da Romaria. “São tão dóceis, amo os bois, os carreiros, a tranquilidade dos mineiros em separar cada boi, cangar os animais. O carro de boi é um espetáculo à parte”, comenta, deixando seus pensamentos fluírem para o espetáculo que está por vir.
Lembra com carinho dos carreiros chefes, que vem lá de Minas participar do evento. “Os mais velhos já perdemos, os mais antigos. Hoje os filhos e netos vão seguindo a carreira, a tradição e fazem questão de desfilar na Romaria dos Cavaleiros de Sant’Ana. Eles se habituaram a vir a Vargem. Há um sentimento de pertencer a esta Romaria, algo que marca muito”, discorre.
Divaga então sobre a importância do carro de boi quando da formação de Vargem Grande do Sul, dos pioneiros da cidade, quando não tinha ainda a linha de trem para escoar o café produzido no município e tudo era feito com dezenas de carros de boi. Fala então da importância e o valor dos cavalos, algo que não se perdeu e continua perpetuado pela Romaria dos Cavaleiros de Sant’Ana.
Para ela, a Romaria de Sant’Ana tem um pé na história da cidade, por tudo que a zona rural, o cavalo, o tropeiro representou no desenvolvimento do município. “Eles, os cavalos, foram o braço forte da nossa lavoura, na era cafeeira, juntamente com o carro de boi”, explica.
O lado religioso da Romaria também é abordado. Dona Márcia começa falando da Comissão de Frente, onde vão os mais antigos e tradicionais cavaleiros, levando o estandarte de Sant’Ana e demais santos, onde está presente também o padre da comunidade.
Para a presidenta, a história da Santa Padroeira se confunde com a dos tropeiros que iam passando pela nossa região, plantando os primeiros povoados. “Sant’Ana é a protetora da família, uma santa muito antiga, muito cultuada no Oriente. Avó de Jesus e tem uma história maravilhosa. Os tropeiros antigos deixavam suas famílias e traziam a imagem da santa com eles, pedindo sempre sua proteção aos seus familiares”, discorre a também diretora de Cultura.
Durante as paradas dos tropeiros, alguns foram se fixando e deixando a imagem de Sant’Ana pelos caminhos. Para ela, foi o que aconteceu em Vargem Grande do Sul, cidade fundada pela família Garcia Leal, que deveria ter como padroeira a santa avó de Jesus.
Disse que a Romaria foi desenvolvendo cada vez mais seu caráter religioso. Cita que a saída no largo da Igreja São Joaquim dá-se com as bênçãos do padre, há o Beija Fitas no largo da Igreja Nossa Senhora Aparecida, a missa celebrada em homenagem à Romaria. “Sant’Ana é um símbolo forte, fazendo com que a Romaria dos Cavaleiros de Sant’Ana a distingue de uma cavalgada, pois a presença religiosa está muito evidente”, afirmou.
Sobre a expectativa para este ano, a presidenta mostra preocupação por causa da crise econômica que o país atravessa e o custo do transporte dos animais. Também a não realização da Romaria nestes últimos dois anos preocupa. Teme que em algumas cidades cujos cavaleiros sempre vinham participar, a notícia da realização da 46ª Romaria dos Cavaleiros de Sant’Ana pode não ter chegado. Mas, deixa transparecer que a festa pode superar as expectativas e o evento ser um sucesso de cavaleiros e público.
Finalizando, agradece através do seu vice Prates, a todos os membros da Comissão Organizadora que preside, de retomar a difícil tarefa de realizar a Romaria dos Cavaleiros este ano e também ao prefeito Amarildo Duzi Moraes pelo empenho e contribuição para a realização da 46ª Romaria dos Cavaleiros de Sant’Ana, desejando a todos os participantes, uma festa com muita religiosidade e respeito aos animais. Faz um verdadeiro apelo neste sentido, para que os animais sejam bem tratados, uma luta que é uma prioridade para ela e demais membros da entidade que preside.


