Ao lado do marido, Aparecido Contini Ossete, Lúcia Ossete começou a participar do desfile de cavaleiros em 1989 e tornou-se uma das romeiras mais tradicionais da Romaria dos Cavaleiros de Sant’Ana. Quando seu marido faleceu, em 1995, Lúcia foi convidada a participar da Comissão Organizadora da Romaria e lá se mantém desde então. Sua filha e sua neta seguiram seus passos e também fazem parte da Comissão.
Durante a infância, ela começou a se aproximar do evento. “Sempre moramos na roça, meu pai sempre teve gado, cavalo. Éramos pequenos e viemos para a cidade e sempre gostamos de acompanhar a Romaria. Eu comecei a desfilar em 1989, desfilei sete anos seguidos, depois perdi meu marido e meu cavalo em 1995 e parei de desfilar”, disse.
A perda, que aconteceu há um mês e meio da Romaria daquele ano, foi devastadora. “Eu fiquei muito triste e me convidaram para participar da organização da Romaria. Meu marido tinha falecido em 19 de junho e eu entrei em desespero e eles me convidaram, pois já que eu não ia a cavalo, era pra participar da organização. Eu comecei a participar e este ano faz 27 anos que eu participo, que faço parte da organização”, contou.
Hoje, Lúcia é encarregada de entregar os troféus no palanque para os cavaleiros e amazonas que participam, bem como os carros de boi. Ao jornal, ela comentou que a pausa do evento devido a pandemia da Covid-19, dificultou o trabalho da Comissão. “Como ficou dois anos sem fazer essa Romaria para Nossa Senhora Sant’Ana é muito mais difícil, mais trabalhoso, porque o pessoal está tudo parado, ficou muito tempo. Então a dificuldade maior é que o evento tem que ser divulgado, falado e comentado para começar de novo, porque a pandemia parou tudo”, disse.
“Foi muito difícil ficar dois anos sem a Romaria, pois anualmente fazemos uma organização, trabalhamos, faz aquele processo inteiro para o desfile, arruma a rua, coloca a faixa avisando, a água para os animais… Então foi muito difícil, quando eu lembrava, ficava muito triste. Foram dois anos complicados, mas esse ano vai estar tudo certo”, completou.
A romeira contou que toda a Comissão trabalhou arduamente nas últimas semanas para que o evento fique lindo. Para ela, voltar ao trabalho é uma grande emoção. “Foi muito difícil ficar sem essa cavalhada, que é uma Romaria religiosa a Nossa Senhora Santana, por dois anos. Voltar é uma emoção muito grande, pra mim é muito importante mesmo. Eu fico gratificada porque eu desfilei, estou participando das entregas dos troféus, então é bem bacana o trabalho que fazemos”, disse.
Lúcia pontuou que para ela, a Romaria é um lembrete de que seu marido está sempre ao seu lado. “Eu e meu marido sempre desfilamos juntos, sempre juntos, sempre um do lado do outro. Ele também gostava muito de cavalo, sempre amansou cavalo, era um domador, então estávamos sempre juntos. Depois da perda dele, foi muito mais difícil andar a cavalo e ir na Romaria, mas eu sinto meu marido sempre ao meu lado, porque éramos verdadeiramente apaixonados por essa Romaria. Não víamos a hora que chegava para lavar os cavalos, trazer na porta de casa e andar a Romaria inteira. Eu sempre com aquelas roupas de amazona e ele gostava muito também, então eu tenho certeza que ele está comigo”, disse.
Lúcia ressaltou que como participou vários anos desfilando e hoje faz parte da organização do evento, vê-lo ser um sucesso é muito gratificante. “Todos estão trabalhando muito para que saia uma Romaria muito boa, como sempre saiu. A parada pela pandemia dificultou para nós um pouco mais, mas vai dar tudo certo e a Nossa Senhora Sant’Ana abençoará todos nós e será uma linda Romaria”, comentou.
Entra ano e sai ano, a importância do evento na vida da romeira não diminui. “A Romaria é muito importante para mim, muito mesmo. Fui à Missa da Romaria no último final de semana e fiquei emocionada, pois o padre veio me entregar o estandarte de Nossa Senhora Sant’Ana para que a Comissão entrasse na igreja. Para mim, foi uma emoção muito grande e eu entrei chorando então é muito importante participar dessa Romaria”, comentou.
Homenagear a padroeira, para ela, é um privilégio. “É uma emoção muito grande. Não tenho palavras para homenagear ela, a Romaria é muito importante para mim e homenagear essa Santa tem uma importância muito grande”, disse.
Para dar continuação à tradição da família, Lúcia já colocou sua filha e sua neta para desfilarem no evento e, hoje, ambas fazem parte da organização. “Vai dando sequência aos anos, vão colocando os mais novos e a gente vai ficando. Minha neta, quando desfilou, tinha nove meses e foi puxada pela Romaria inteira em um cavalinho de pau com rodinhas nos pezinhos”, contou.
De todos os momentos da Romaria, Lúcia vê o beija-fitas e a bênção do padre àqueles que assistem o evento, como os mais marcantes. “É muito importante, ele passa no palanque e todo mundo fica aguardando a benção do padre. Para nós, é muito gratificante, e esses momentos são os mais marcantes para mim”, contou.
Durante os sete anos que desfilou a cavalo, Lúcia fez história, uma vez que era uma das poucas mulheres que participava e foi a pioneira em se vestir como amazona. “Eu fui a primeira mulher que saiu na Romaria com roupa de amazona, aquelas roupas todas enfeitadas. Para mim, foi gratificante porque depois começou todas as mulheres a quererem fazer aquelas roupas bonitas para estar todas diferentes uma das outras, enfeitando a Romaria cada vez mais, então foi um marco muito importante”, relembrou.
De lá para cá, Lúcia vê que a festa mudou. “Foi perdendo as pessoas mais velhas e os mais novos, infelizmente, não fazem muita questão de ser uma Romaria religiosa. É muito mais complicado hoje, ficou muito diferente. Mas mesmo assim, as pessoas que participam têm muita responsabilidade de não beber, de ser uma romaria religiosa, de respeitar Nossa Senhora Sant’Ana pelo dia dela”, comentou.
Para os carreiros e romeiros da cidade e região, a romeira deixou um recado especial. “Venham participar da nossa Romaria religiosa para que possamos homenagear Nossa Senhora Sant’Ana. Esse ano chegarão 12 carros de boi neste sábado e iremos recepcioná-los, porque os carros de boi são fundamentais na Romaria para carregar a Santa”, finalizou.