Todas as eleições são momentos que marcam profundamente a história de um país. Mas parece que o segundo turno do pleito deste ano tem algo ainda mais emblemático: a polarização sem precedentes que evoluiu de maneira belicosa e trouxe elementos cada dia mais alarmantes para o eleitor que neste domingo escolhe entre Jair Bolsonaro (PL) e Lula (PT).
Um ex-deputado federal, em prisão domiciliar, receber a tiros e granadas uma equipe da Polícia Federal que veio cumprir um mandado de prisão uma semana antes da eleição foge completamente ao que deveria se esperar da chamada Festa da Democracia, que é uma eleição. Denúncias titubeantes de falta de equilíbrio inserções de rádio que soavam como pretensa bala de prata para o eleitorado e que não colaram.
Até no Estado de São Paulo, onde tudo caminhava para um debate de nível mais civilizado entre os concorrentes Haddad (PT) e Tarcísio (Republicanos) descambou após a troca de tiros na favela Paraisópolis ter tomado rumos muito complexos nos últimos dias.
Por isso, pedir ao eleitor que se atenha às propostas dos candidatos é algo que beira a ingenuidade. Essa eleição foi tratada do começo ao fim como uma guerra, envolvendo paixões, raiva, idolatria. Sentimentos muito primitivo que ofuscam a racionalidade e se tornam armas poderosas nas mãos de quem não tem escrúpulos.
Mas cabe ao eleitor buscar a sensatez que falta aos dirigentes, a sobriedade que muitos políticos deixaram de lado e o equilíbrio emocional que os correligionários de candidatos já não possuem em muitos casos, para tentar lembrar que passada essa guerra fabricada, sobre o Brasil, sobra o Estado de São Paulo e cada cidade que vai ter que seguir adiante.
Amigos, vizinhos, familiares que tão logo encerrada a apuração terão que voltar a conviver sem a faca nos dentes. O próximo presidente terá que desarmar o espírito da população que se acostumou nas últimas semanas a assistir um jogo baixo e sem regras. Por isso o momento é histórico. É a oportunidade de mostrar que existe um país civilizado sob essa névoa que tomou conta das últimas semanas.
Que os 32 mil eleitores de Vargem compareçam às urnas com o coração e a mente em paz. E que independente do resultado, o mais votado assuma seu cargo, o derrotado reconheça a vontade da maioria e que a Democracia, que tantos morreram e foram torturados nesse país para que fosse restabelecida, saia fortalecida.