O volume de famílias com contas atrasadas mantém o nível de inadimplência em alta no país, atingindo novo recorde entre famílias de rendas média e baixa, segundo a Pesquisa de Endividamento e Inadimplência do Consumidor (Peic), apurada mensalmente pela Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC). O estudo mostra também que em um ano, no entanto, a proporção de endividados está com a menor taxa anual desde julho de 2021.
Se considera endividado o consumidor que tem parcelas para pagar nos próximos meses. Já o consumidor que por algum motivo não conseguiu pagar as parcelas já vencidas é considerado inadimplente.
O estudo apontou queda de 0,1 ponto percentual na proporção de endividados em outubro, após três altas consecutivas. No total, 79,2% das famílias pesquisadas relataram ter dívidas a vencer (cheque pré-datado, cartão de crédito, cheque especial, carnê de loja, crédito consignado, empréstimo pessoal, prestação de carro e de casa). Em um ano a proporção de endividados avançou 4,6 pontos percentuais, a menor taxa anual desde julho de 2021.
Os dados de inadimplência mostram que a proporção de famílias brasileiras com contas atrasadas cresceu de 30% para 30,3%, quarta alta mensal seguida. Em um ano, o avanço de 4,6 pontos percentuais no indicador foi o maior desde março de 2016.
Conforme a pesquisa, o endividamento está menor tanto entre as famílias de renda média e baixa (até 10 salários mínimos) quanto para aquelas na faixa de maiores rendimentos (acima de 10 salários mínimos). A redução, na passagem mensal, foi mais expressiva entre os consumidores de renda elevada, para quem houve queda de 0,5%. Porém, em um ano, a proporção de endividados cresceu mais, justamente, nesse grupo a alta foi de 5,8%, sendo 4,3% para os que recebem até 10 salários mínimos.
Juros altos
Mesmo com a retomada progressiva do fôlego na economia, segundo o estudo, os orçamentos domésticos seguem apertados, principalmente entre as famílias de menor renda devido ao nível de endividamento alto e os juros elevados.
Os dados do Banco Central (Bacen) mostraram que os juros anuais em todas as linhas de crédito às pessoas físicas atingiram 53,7% em média, em setembro, crescimento de 12,5%. No entanto, a proporção de famílias com dívidas atrasadas por mais de 90 dias vem se reduzindo desde abril, onde os consumidores têm buscado renegociar as dívidas. Em outubro, esse indicador alcançou 41,9% dos inadimplentes, a menor proporção desde dezembro de 2021. A porcentagem de famílias que afirmaram não ter condições de pagar as contas caiu 1 ponto percentual de setembro para outubro, representando 10,6% do total de famílias.
Cartão de crédito e cheque especial
As proporções de endividados no cartão de crédito e no cheque especial aumentaram em um ano, embora sejam as modalidades com as maiores taxas de juros.
Já o crédito consignado, um dos tipos de crédito com juros mais baixos (cerca de 25% ao ano, segundo dados do Banco Central), perdeu espaço no endividamento dos brasileiros: 5% do total de consumidores endividados têm dívidas consignadas atualmente, ante 7% em outubro de 2021. Entre setembro e outubro, a Peic mostrou que o endividamento no consignado teve a primeira alta em cinco meses, com avanço de 0,1 ponto.
Em Vargem
De acordo com o presidente da Associação Comercial e Industrial de Vargem Grande do Sul, Marcelo Terra, o índice de inadimplência no comércio da cidade teve aumento em relação aos últimos meses.
Marcelo explicou que em agosto, o índice de inadimplência (em relação às consultas feitas pelas empresas associadas) estava em torno de 28,9%. Em setembro, contudo, o índice subiu para 31,2% e, em outubro, para 31,5%, registrando aumento na inadimplência.
O dirigente avaliou o índice de outubro deste ano em comparação ao mesmo período do ano passado. “Em outubro de 2021, o índice foi de 25,3% e em outubro de 2022, foi de 31,5% (consumidores em relação às consultas), o que confirma elevação da inadimplência”, disse.
O combate
Ele informou quais são as ações da entidade para combater a inadimplência na cidade. De acordo com Marcelo, o registro de nomes e documentos de identificação dos consumidores inadimplentes é mantido no Serviço Central de Proteção ao Crédito (SCPC) por cinco anos, como determina a legislação, sendo somente os nomes dos consumidores registrados no sistema pelas empresas associadas.
“Por outro lado, as consultas feitas pelas empresas filiadas à entidade informam não só os registros negativos, mas também os positivos, ou seja, a regularidade ou não no cumprimento de seus compromissos (se o consumidor paga rigorosamente em dia, se atrasa um pouco ou se atrasa mais, mas que ao final, liquida a sua obrigação). Essa inovação veio transmitir mais confiança às empresas que querem ter mais segurança de que irão receber seus créditos”, pontuou.
Para que isso funcione, no entanto, Marcelo explicou que as empresas contam com uma ferramenta muito interessante: a pontuação de crédito do indivíduo, conhecida como Score. “Ela indica as chances de uma pessoa continuar a honrar seus compromissos e é muito usada por financeiras, bancos, prestadores de serviços e varejistas para conceder crédito. Esse score, com base no histórico de pagamentos do consumidor, informa uma pontuação de zero a mil para cada pessoa, de modo a indicar a possibilidade dela poder ou não honrar o pagamento de suas contas no futuro”, finalizou.
Farmácia
Antônio Sérgio da Silva, o Serginho da Farmácia, proprietário da Drogaria Santa Rita, relatou que a inadimplência tem subido sim e que a procura para abrir conta em sua farmácia tem aumentado.
A procura para quitação, no entanto, conforme informou, está devagar. A estratégia usada por Serginho para evitar o prejuízo é bloquear o cliente até que o pagamento seja efetuado.
Endividado
Um morador, que não quis se identificar, está com dívidas e contou ao jornal como o problema teve início. Para ele, a alta dos produtos nos supermercados, farmácias e comércios em geral é a vilã da história. “Está tudo subindo frequentemente há anos e o salário está sempre igual. As compras sobem, os juros sobem e o dinheiro na carteira no final do mês, não. A conta nunca fecha”, disse.
O morador contou que, para correr atrás de resolver o problema das dívidas, busca renegociações a fim de diminuir os juros e que está, frequentemente, pegando trabalhos por fora para conseguir um dinheiro extra. A principal dívida do morador atualmente é o carro, que está com parcelas atrasadas, mas não tem dinheiro para tentar uma renegociação das parcelas.
Mutirão para quitar dívidas
Pessoas endividadas terão a oportunidade de limpar o nome durante todo o mês de novembro. Até o dia 30 ocorre o segundo mutirão nacional de negociação de dívidas e orientação financeira deste ano, que teve início no dia 1º deste mês.
Ação conjunta do Banco Central, da Federação Brasileira de Bancos (Febraban), da Secretaria Nacional do Consumidor (Senacon) e dos Procons de todo o país, o mutirão oferece oportunidade de renegociação de dívidas com desconto e parcelamentos que caibam no bolso.
De acordo com a Agência Brasil, podem participar do mutirão pessoas físicas com débitos em atraso com bancos e demais tipos de instituições financeiras, desde que a dívida não esteja atrelada a bens dados em garantia. As negociações podem ser pedidas por meio da plataforma Consumidor.gov.br ou diretamente nos bancos.
No site do mutirão, o interessado também terá acesso ao link do Registrato, sistema do Banco Central que informa todos os relacionamentos do cidadão com o sistema financeiro. A página permite consultas sobre informações de dívidas com bancos e órgãos públicos, cheques devolvidos, contas, chaves Pix e operações de câmbio.
Neste ano, o mutirão alertará os cidadãos sobre o superendividamento e a possibilidade de pedir renegociação, conforme previsto na Lei 14.181/21. Pela lei, os cidadãos superendividados têm direito a renegociar o valor global do débito, simultaneamente com todos os credores. Segundo o BC, isso permite acordos mais vantajosos do que negociar uma dívida com cada banco.
O BC orienta as pessoas com suspeita de superendividamento a buscarem ajuda especializada nos órgãos de proteção e defesa do consumidor.