Relembrando os brinquedos da vida

Tadeu Fernando Ligabue
Estava matutando sobre a presente matéria na hora do almoço, quando tive a curiosidade de perguntar à Terezinha, que nos presta serviços, sobre qual presente ela mais lembrava de sua infância. Sempre bem humorada e com um vasto sorriso no rosto, disse-me que na sua infância não tinha essa coisa de ganhar presentes de Natal, tão pouco festas de aniversário. Rindo ainda mais, contou que quando tinha 18 anos e trabalhava no corte de cana, ganhou uma enorme boneca de presente de suas amigas e essa imagem é que ficou para ela com relação aos brinquedos que ganhou na sua vida.
Fiquei surpreso com a resposta. Infância difícil da Terezinha, mas que não perde um momento para agradecer a Deus por tudo que conquistou. Ainda naquele lapso de momento, deu para eu fazer um balanço e ver o quanto de brinquedos estão espalhados pelos cômodos da nossa casa, reflexo da passagem dos dois netos Francisco e Pedro, mesmo sabendo que suas mães tentam inutilmente, livrar seus filhos do consumismo que assola o mundo atual.


A matéria versa sobre brinquedos de antigamente e um dos brinquedos mais antigos que me vêm à mente, foi um revólver de espoleta da Estrela que ganhei de Natal. Presente do Tião Aliende, mais conhecido como Tião Louco e que gostava muito de meu pai, que era seu funcionário. Não durou um dia a caixinha de espoleta. Era início da década de 60 e essa imagem mais a de um jipe de plástico verde e um caminhãozinho de madeira que ganhei de minha avó Sinhana, são riquezas da minha infância que guardo no profundo do meu ser.


Ganhar uma bola de capotão (de couro e costurada) no Natal de antigamente era para poucos e quem tinha uma, era dono do time. Depois vieram as bolas com materiais sintéticos, isso já no início dos anos 80. Lembro que meu padrinho Tonho Ligabue me deu uma bola de plástico, bem simplesinha e fizemos a festa com os meninos da minha rua.


Também soltar papagaio ou pipa como hoje são chamadas, era outra brincadeira gostosa, que podia substituir um presente de Natal, quando Papai Noel não tinha grana para presentear as crianças mais pobres, além é claro, de rodar pião com os amiguinhos, que fatalmente terminava em uma disputa e com os piões destroçados dentro da roda.

Consultando a internet, tomamos conhecimento que nesta década, os brinquedos mais em voga eram o bambolê, o ioiô, o forte apache, bolinha de gude, boneca beijoca, pega varetas, dentre outros. Qual menino dessa época que não babava com o coleguinha, cujos pais mais abastados lhe presentearam com um forte apache? Bolinha de gude cansei de brincar e até fiquei com um calo no dedão de tanto jogar. Sem falar no carrinho de rolimã que nós mesmos construíamos e descíamos as calçadas e ruas de terra da Vila Polar, deixando nossas mães com as mãos na cabeça de tanta aflição.


Para as meninas, o lançamento da Barbie foi um divisor de água, mas pouquíssimas crianças naquela época tinham acesso a este incrível brinquedo lançado nos Estados Unidos. No Brasil, para competir com ela, a Estrela lançou a boneca Susi, com o corpo mais parecido com as brasileiras. Outra boneca que fez muito sucesso entre as meninas, foi a Dorminhoca.


Na década de 70 e 80, os brinquedos eram para as minhas filhas e nesta época aparece o pogobol, coisa esquisita que as crianças tinham de se equilibrar e sair pulando. A boneca Bolinha de Sabão encantava as meninas e o autorama era para poucas crianças e tinha ainda os ursinhos de pelúcia. Também por esta ocasião aparece o tamagotchi, o tal de bichinho virtual que os japoneses criaram e virou uma febre nos anos 80/90.
Nesta época começam a aparecer os carrinhos da Hot Wheels, verdadeiras joias que até hoje encantam além das crianças, os marmanjos que ainda não envelheceram para as brincadeiras infantis. Outra febre que tirou o sossego de muitos pais, eram os blocos de montar, com a Lego faturando alto com seus brinquedos, tidos como ‘mais inteligentes’ para presentear as crianças.


Na década de 90 e início dos anos 2.000, começam a aparecer no mercado os mini games, também o aquaplay é daquela época, juntamente com as cartas de Pokémon. Tivemos entre os anos 80 e 90, vários games que marcaram gerações de crianças, como os games do Atari e o Nintendo com o Super Mario Bros e o Donkey Kong, que minhas filhas jogavam e eu não ganhava nenhuma queda.
Nos últimos 20 anos os brinquedos proliferaram e inundaram o mercado, principalmente os vindos da China. O que antes era uma verdadeira mágica, um carrinho de controle remoto por exemplo, que no início encantava a toda criança, tornou-se banal com tantas engenhosidades feitas pelos asiáticos nos brinquedos produzidos em massa.


Acredito que o excesso não faz bem a ninguém, tão pouco às crianças que logo se desencantam com o que tem e querem mais novidades, num círculo de massificação que todos um dia teremos de pagar a conta. Dou um pulo para os brinquedos atuais, dos meus netos, que ainda brincam com blocos de encaixar, dinossauros, massinha, mas o que mais gostam mesmo é de ficar no celular brincando e as mães, mesmo que contra suas vontades, ficam um pouco aliviadas de verem os pequenos rebentos sossegados, fixos na telinha do celular que já dominam muito melhor do que eu.

Fotos: Reprodução Internet

1 COMENTÁRIO

  1. Viajei no tempo com a crônica do Tadeu Ligabue.
    Lembrei das aulas de artes manuais do Professor Ângelo Perroni, nas quais incentivava os alunos a produzirem brinquedos para doar no natal às crianças pobres.
    Saudades!

DEIXE UMA RESPOSTA

Por favor insira seu comentário
Por favor insira seu nome aqui