O drama de conduzir o Hospital de Caridade se repete a cada dois anos, quando termina uma gestão e não se encontram pessoas com vontade e determinação de conduzir a mais importante entidade ligada à saúde dos vargengrandenses. Não é difícil de se achar a causa por tal situação, ela existe e é bem visível, más há outros problemas. Como toda instituição que não visa lucro, as dificuldades e barreiras são muitas para quem se propõe a prestar os serviços de direção que o Hospital precisa. Sem dúvida o déficit orçamentário, a conta que não fecha, é o maior deles. Houve um tempo que a Loja Maçônica Renascença II se incumbia de tal tarefa, sendo responsável nas últimas décadas pelos avanços realizados na entidade, mas, os problemas que enfrentavam os diretores pela crônica falta de verbas, foram aos poucos minando o interesse da maioria dos maçons da Renascença a participar das diretorias futuras. Como os membros da diretoria tem de sair da sociedade civil e a falta de participação e interesse desta mesma sociedade no dia a dia do Hospital é cada dia mais evidente, vai se criando um vácuo que nada contribui para solucionar a questão. Também faz falta um trabalho a longo prazo de preparar pessoas e lideranças para dirigir entidades com as especificações do nosso único nosocômio, o que torna cada vez mais raro encontrar dirigentes para o Hospital. Nas próprias diretorias que se formam, já devia ter um trabalho nos dois anos em que são eleitos para dirigir a instituição, de preparação de possíveis substitutos para os cargos, principalmente o de provedor, que requer mais cuidados e precisa de um certo conhecimento e qualidades para tocar um empreendimento de vulto e responsabilidade como o Hospital, que acima de tudo, lida com a vida humana. Como disse o provedor Jair Gabricho em recente entrevista ao jornal, para ser um provedor é preciso ter algumas características como um senso de negociação, porque o cargo exige muita negociação, sempre estar conversando, um pouco de visão administrativa, um pouco de tempo, mas principalmente a vontade de fazer um trabalho beneficente, gratuito, mas acima de tudo muita vontade de estar trabalhando para ajudar pessoas que precisam.
Vargem conta com mais de 40 mil habitantes e, como é difícil achar pouco mais de uma dezena de cidadãos com algumas qualidades como as acima descritas, para contribuir com a principal entidade que salva vidas na cidade, vida de seus próprios cidadãos, vidas de seus semelhantes. Alguma coisa está errada com esta sociedade que não consegue dispor seus homens e mulheres com capacidade de dirigir o Hospital. Também o cargo de provedor tem de ter uma certa afinidade com o administrador municipal de plantão, no caso o prefeito, pois como pudemos averiguar na entrevista dada por Jair na última edição, a prefeitura nos dias atuais é a maior parceira e tomadora de serviços do Hospital e uma boa parceria entre a municipalidade e a entidade é vital para sua sobrevivência e para a mesma prosperar. O SUS é o grande vilão da história, ao não pagar o que realmente devia pelos serviços fornecidos pelo Hospital aos seus pacientes, mas não é o único e os problemas têm de serem enfrentados, ou então, o caminho é o fechamento da instituição com todas as consequências e sofrimento para a população, principalmente a mais pobre. Mas, com boa gestão e bom entrosamento, o Hospital não só sobrevive, como também evolui. Basta ver os dois anos de administração da diretoria com o provedor Jair e do Conselho sob a batuta de Cássio Abrahão Dutra. De fato, é uma grande perda a não continuidade da atual Mesa Administrativa e Conselhos, pois havia planos e projetos importantes, como transferir o atendimento do PPA para o Pronto Socorro do Hospital, programa que se bem cuidado e planejado, pode contribuir enormemente para diminuir o déficit do Hospital, que passaria a ter mais uma importante renda ao prestar estes serviços à municipalidade, que pagaria ao Hospital ao invés de a uma empresa privada para realizar os atendimentos neste setor de saúde. Certamente um sonho do provedor Jair e sua diretoria, que merecia ter continuidade para o bem da saúde pública de Vargem. Como dizia Cervantes na sua magistral obra Dom Quixote, “Sonhar o sonho impossível, sofrer a angústia implacável, pisar onde os bravos não ousam, reparar o mal irreparável, amar um amor casto à distância, enfrentar o inimigo invencível, tentar quando as forças se esvaem, alcançar a estrela inatingível”.