A Romaria dos Cavaleiros de Sant’Ana, mais uma vez, foi um bonito espetáculo. Com os devotos da padroeira de Vargem Grande do Sul seguindo em procissão em suas montarias, o público acompanhando o cortejo, as crianças encantadas com os animais e muitos momentos de emoção e demonstrações de fé. Como acontece há quase cinquenta anos, centenas de romeiros fizeram questão de homenagear a padroeira, nessa que é a maior romaria de cavaleiros do Estado.
Passada a Romaria, após a procissão, quase que a totalidade das comitivas e dos cavaleiros retornaram às suas casas, para passar o domingo em família e ainda houve muitos que, à noite, aproveitaram para prestigiar o último dia da Festa da Batata. Restaram pelas ruas do Centro, uma pequena minoria que, deixando para trás todo o sentido religioso dessa tradição, permaneceram com os cavalos amarrados em lugares inadequados, bebendo e causando confusão. Tanto que as autoridades tiveram que intervir e colocar fim a uma situação de maus tratos.
Esse caso, prontamente noticiado pela Gazeta de Vargem Grande em suas redes sociais, levantou um debate muito importante: a questão dos maus tratos aos animais que são levados por seus cavaleiros à Romaria.
A discussão é muito válida e os argumentos apresentados eram os mais variados. Houve quem pedisse o aumento da fiscalização, a alteração de horário e trajeto da procissão montada e até quem pedisse o fim da Romaria de Sant’Ana. O debate entre a manutenção de uma tradição e o combate de excessos e maus tratos é bem antiga e engloba desde o fim das tradicionais touradas em países hispânicos à proibição de rodeios e vaquejadas no Brasil, entre outros eventos.
É fato que a humanidade evoluiu muito e a dependência do animal, nesse caso cavalos e bois, para locomoção e lida no campo, é infinitamente menor. Mas a Romaria, assim como outros eventos similares, nasceu justamente em um período fortemente rural e que ainda traz um simbolismo muito forte atualmente.
A Romaria dos Cavaleiros de Sant’Ana nasceu com os pioneiros a cavalo, transportando um cruzeiro e orando pela cidade, pedindo a intercessão da Padroeira. Ela segue por mais de quarenta anos sendo a mais importante manifestação religiosa da cidade, atraindo fiéis de toda região. Além do caráter ecumênico, há também o impacto na economia de Vargem, com movimento em restaurantes, lanchonetes, hotéis e pousadas. É sim um dos principais eventos do calendário cultural da cidade.
A discussão iniciada nas redes sociais da Gazeta, as ideias propostas e as críticas feitas, são argumentos que precisam ser muito bem estudados. A população precisa fazer parte desse debate, propondo ideias e ouvindo especialistas sobre animais para se discutir como o trajeto, o calor, a hidratação afetam os cavalos, burros, mulas e bois que participam do cortejo.
Proibir a venda e consumo de bebidas alcoólicas em dias de Romaria, proibir o uso de caixas de som em charretes e carroças, limitar o número de pessoas em charretes e carroças, realizar uma dispersão mais intensa de participantes logo após o término da procissão são medidas que podem ser estudadas para a próxima edição. Além disso, a população também poderia ser mais ativa nesse evento, para que a Comissão Organizadora possa contar com mais voluntários que possam fiscalizar mais ativamente os participantes que estiverem saindo da linha. Todos devem pensar juntos para que um dos principais eventos da cidade siga sua tradição de fé e louvor.