Investimentos não acompanharam crescimento da cidade

Reservatório construído pelo ex-prefeito Huber Braz Cossi. Foto: Reportagem

Em cinquenta anos, desde que foi inaugurado o sistema novo de tratamento de água da cidade em 1950, Vargem Grande do Sul passou de 10.925 moradores para 36.302 pessoas no ano de 2.000, um acréscimo de 25.377 pessoas em cinquenta anos, um aumento de 332,28% em meio século e o sistema de captaçãocontinuou com a matriz construída na década de 50, com investimentos que não acompanharam o desenvolvimento que o município requeria no tratamento da água.
Para que os leitores tenham ideia do impacto desse crescimento populacional, conforme matéria já publicada pela Gazeta de Vargem Grande, “De 1950 a 1960, o crescimento foi de 815 habitantes, sendo 0,74% ao ano. Em 1960 o Censo apontava uma população de 11.740 pessoas.
Na década seguinte, de 1960 a 1970, Vargem Grande do Sul passou de 11.740 habitantes para 13.369, um aumento importante de 1.629 pessoas, que resultou numa taxa de crescimento de 1,39% por ano.
Porém, foi na década de 70 que o município experimentou um crescimento muito grande, de 5,23% ao ano. Nesta década, saímos de 1970 com 13.369 pessoas e chegamos em 1980 com 20.363 habitantes, um crescimento de 6.994 pessoas, cravando 52,31% em uma década, o que resultou em uma média de 5,32% ao ano.
Na década seguinte, o Censo só viria a ser realizado em 1991, com Vargem apresentando uma população de 30.952 pessoas, um aumento em relação a 1980 de 10.589 pessoas, uma taxa de crescimento expressiva, quase idêntica à da década anterior, na ordem de 52%, mas que dividido pelos onze anos pesquisados, deu uma taxa anual de crescimento de 4,73%.
Em 2000, o crescimento da população começou a diminuir, como aconteceu em todo o Brasil. Em nove anos, saímos de 30.952 pessoas em 1991, para 36.302 habitantes no novo milênio, acrescentando neste período 5.350 pessoas, o que baixou nossa taxa de crescimento para 1,92% ao ano”.
Neste interim, governaram Vargem Grande do Sul os prefeitos Francisco Ribeiro Carril (1948/1952), dr. Gabriel Mesquita por três vezes (1944/1947, 1952/1956 e 1960/1964), Alfeu Rodrigues do Patrocínio por três vezes (1956/1960, 1969/1973 e 1982/1989), Nestor Bolonha (1964/1969), Huber Braz Cossi (1973/1977), Homero Correa Leite (1977/1982), José Carlos Rossi (1989/1992), José Reinaldo Martins (1993/1996), Denira Rossi (1997/1999 e José Locatelli (1999/2000).
A cidade viveu um grande crescimento populacional, com dezenas de novos bairros sendo aprovados e os avanços maiores verificados foram a mudança da captação que passou em parte da barragem do “Laçadinha” que vinha por gravidade, para o Rio Verde, cujas águas passaram a ser bombeadas para o tratamento na ETA do Pacaembu.
Conforme apurou o jornal em entrevista ao sr. José Rotta Neto, 96 anos e atual proprietário do sítio onde se localizava a barragem do córrego “Laçadinha”, o prefeito dr. Gabriel Mesquita, que também governou a cidade por três vezes (1944/1947, 1952/1956 e 1960/1964) fez uma tentativa de captar a água no Rio Verde e com bomba a recalcava na mesma adutora que vinha do “Laçadinha”, mas coube ao prefeito Alfeu Rodrigues do Patrocínio fazer os investimentos que permitiram captar a água no Rio Verde e através de uma nova adutora, levar a água do rio ao tratamento na ETA do Pacaembu, passando desde então, provavelmente no final da década de 60, a água do Rio Verde a abastecer a população vargengrandense, além das águas do “Laçadinha”.

O diagnóstico feito no governo de Huber Cossi
Um importante documento foi feito na administração do prefeito Huber Braz Cossi em 1973, intitulada “Meta da Prefeitura: 5.000.000 de litros de água por dia”, publicado no jornal “A Pérola” editada por Manoel Rubens Pereira e Luiz Alberto dos Santos. Segundo o documento, a meta do prefeito era fornecer na sua gestão, o dobro de água que a população consumia naquela época. Para elaboração do diagnóstico, foi contratado os serviços do engenheiro civil José Fábio Raimundo que elaborou o diagnóstico que publicamos abaixo.
Com relação à captação, a água continuava vindo ainda da barragem do “Laçadinha” por gravidade e também bombeada do Rio Verde. O tratamento era o convencional, funcionando 24 horas por dia. O armazenamento era feito em um único reservatório, do tipo enterrado, localizado na ETA do Pacaembu, com capacidade de 620.000 litros.
A distribuição era feita através de canos de ferro fundido com diâmetros que variavam de 7 polegadas até ¾ de polegadas. Não há planta indicativa da rede. Cita o engenheiro que a medida que a cidade foi sendo expandida, o sistema de distribuição também foi, sem critério algum.
Com relação à medição, o engenheiro elogia o sistema com a implantação dos hidrômetros, sem os quais, segundo ele, já teria entrado em colapso total. A população estimada em 1973 era de 12.500 habitantes, com 2.497 ligações de água, sendo que 2.100 possuíam hidrômetros. O volume tratado era de 2.720.000 litros por dia e o consumo per capta era de 218 litros/habitante/dia, bem acima da média estimada que era de 150 litros/habitante/dia.
O funcionamento do tratamento era das 6hs às 22hs, com vazão de 140.000 litros/hora, provenientes das bombas (Rio Verde) e gravidade (Laçadinha) e das 22hs às 6hs, vazão de 60.000 litros/hora, só funcionando a gravidade.
Com relação às falhas do sistema, o diagnóstico do engenheiro José Fábio Raimundo aponta que o sistema entrava em crise nas fases de estiagem, notadamente em dois pontos, um na zona do Cemitério da Saudade, outro na saída de Itobi, além do parque industrial, hoje nas imediações do Jd. São José.
Para sanar as falhas apontadas, a curto prazo o engenheiro recomendou a colocação de uma tubulação de 5 polegadas entre as ruas Francisco Ribeiro Carril e Santo Antônio, para aliviar a falta de água na zona do cemitério na Vila Santana. A médio prazo, ele pede a ampliação da rede de distribuição com a finalidade de atender populações futuras e corrigir falhas existentes.
Dentre as prioridades, indica a construção de um reservatório elevado na ETA do Pacaembu, o que possibilitaria que a água chegasse a todos os pontos da cidade. Este reservatório seria de 300 mil litros, que somados aos de 620 mil litros já existente, elevaria a capacidade de reservação de água na década de 70 para 920.000 litros de água.
“O plano que ora se pretende introduzir visa abastecer uma população futura de 25.000 habitantes que deverá ser atingida nos próximos 15 anos. Para o fim deste período o volume de água a ser tratado por dia deverá ser de 5.000.0000 litros de água”, informa o engenheiro contratado pelo prefeito Huber Braz Cossi.
Também aponta a necessidade de ampliação da estação de tratamento de água, com um remanejamento que iria propiciar o tratamento de 3.360.000 litros por dia, funcionando num regime de 24 horas ininterruptos nos dias de maior estiagem. A capacidade da estação exigia também a construção de um novo decantador e mais dois filtros de areia com as mesmas dimensões dos atuais.
Também previa a construção de um reservatório para abastecer a nova zona industrial, com capacidade de 300.000 litros e um remanejamento da rede de distribuição visando a formação de anéis de distribuição onde se possa separar as três zonas que naturalmente se forma na cidade em função da topografia existente.
Cita então as três zonas existentes, sendo a da alta pressão, representadas pelos bairros situados nas zonas baixas, as de média pressão, representada pelo centro da cidade e adjacências e a de baixa pressão, que são os pontos mais altos da cidade, onde já começava a haver os primeiros sintomas de má distribuição de pressão na rede.

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