Marília Toneto – escritora e pedagoga social
Neste fim de ano gostaria de fazer uma breve reflexão: Com corações acalorados pelo clima natalino a vida parece ser para todos uma festa, recheada de amor, compaixão, abraços apertados e mãos estendidas. Isso nos remete muito à memória de nossos avós, comemorações em família ao redor da mesa que por vezes não comportava todos, mas sempre havia reservado um espaço a cada um em um outro cantinho da casa. Cheiro de lar, de paz… Mas, ao contrário daquela época hoje estamos nós repletos de informações instantâneas, telas acesas e disparados em um clique milhares de estímulos virtuais que nos convidam a passar horas interagindo ou apenas “rolando”.
Jogos, a cena mais emocionante da novela, danças, a música do momento, uma fofoca sobre algum famoso há milhares de quilômetros de distância, tudo isso invadindo nosso cérebro em poucos minutos de acesso.
Os avós ficaram para trás, enquanto os jovens expandem mais uma vila no joguinho do momento, constroem mais uma casa virtualmente, são donos de uma infinidade de animais enquanto não coordenam ainda nem a própria rotina.
A tela coordena a vida, seus horários, suas ações. Boas ações são postadas porque “se eu sou uma boa pessoa todos precisam saber disso”, a boa propaganda de si mesmo é o que vale. Não mais o afeto envolvido, não mais as mãos estendidas, mas sim as câmeras apontando as mãos.
O tempo dos avós se foi, ficaram lembranças de como era boa a vida antes, mas o mundo não parou de girar e acredito que a vida pode ser boa agora se pararmos para questionar acerca das nossas atitudes. Hoje o mundo é outro, talvez a porta da casa dos seus avós tenha se fechado para sempre e o que te resta é relembrar com afeto, mas se ela ainda não se fechou vá visita-los, pense em qual foi a última vez que você pegou seu filho no colo para lhe contar uma história ou apenas ouvi-lo contar as suas.
Apesar de estarmos em uma nova era, nada deixou de ser, tudo sempre foi, nós quem deixamos de valorizar. Nossos filhos não viveram, eles nasceram tecnologicamente conectados e isso pode não ser algo tão ruim se começássemos a pensar a respeito com mais sensibilidade e atenção.
Vocês me perguntam como educar uma geração tecnológica, mas não questionam como aprender com a geração que você gestou e está ajudando a construir futuramente.
Eu queria um Natal com mais carinho, cuidado, proteção e amor pra essas crianças. Eu queria que você perguntasse, não aos profissionais, mas primeiramente à sua criança como ela espera que esse Natal seja, afinal há alguém atrás dos cliques. Desta forma, então, entenderá que o significado do Natal pode estar em suas memorias de infância, mas que hoje ele é diferente, único, substancial, individual e NOVO.
Relembre o passado, mas ouse experimentar o novo, deixe o seu filho convidar a sua criança interior pra brincar, aprenda com eles e jamais preferirão as telas ao amor ensinado pelos nossos avós e lapidado por nós.
Feliz Natal!