O Natal na infância da descendente de alemães, Salete Hattnher, sempre foi cheio de expectativas, especialmente pela ansiedade compartilhada com crianças do mundo inteiro: a espera pelo presente.
Além disso, ansiava pela oportunidade de dormir mais tarde na véspera, algo que não acontecia no resto do ano. Confraternizar e encontrar familiares de outras cidades, como São Paulo, era uma rara e muito aguardada ocasião.
Entre essas memórias, uma era particularmente especial. “É o meu aniversário e também o aniversário de casamento dos meus pais. O almoço era na casa do meu avô, com toda a família reunida. Montava-se um ‘mesão’, e no final da tarde vinham amigos para celebrar o meu aniversário”, relembra.
A ceia era composta por arroz temperado, frango, pernil, leitoa, e sempre havia sobremesa. “Minha avó fazia cerveja em casa. Sem geladeira, guardávamos as coisas para ficarem fresquinhas dentro da pia, por isso tudo era feito no dia.
Não que fosse um problema ‘dividir’ a data com o aniversariante mais celebrado do mundo. De família católica, participava da Missa do Galo à meia-noite desde muito nova. Relembra que a antiga celebração, que não acontece mais, era celebrada de costas para a congregação e em latim pelo saudoso Monsenhor Celestino C. Garcia.
A tradição, infelizmente, foi interrompida por um motivo triste. “Aos 15, a minha mãe faleceu. Então acabou. Os parentes não vinham mais porque era a minha mãe que agregava”.
Uma mudança visível para ela com o passar do tempo é o objetivo da data. “Pode ser a minha visão, mas as pessoas não priorizavam tanto o comércio, era mais sobre a amizade, pelo menos é o que eu percebo”.
Salete também comenta sobre a antecedência na decoração hoje em dia, algo que não acontecia antigamente. “Árvores de Natal eram montadas praticamente na semana e desmanchavam no Dia de Reis”.
A professora observa a escassez de opções de lojas para a compra de brinquedos infantis antigamente. “Íamos na Gráfica Tatoni e na Dona Armanda para escolher o presente. Lembro-me de uma loja de aviamentos ao lado do Benjamin Bastos, onde a dona, Naná, também vendia brinquedos em um período”.
Sobre os pedidos ao Papai Noel, ela confessa com bom humor: “Sempre fui atendida, ganhando brinquedos icônicos como a boneca Mãezinha. Nessa parte, fui privilegiada e não tenho queixas.”