Sobre pertencer

Chico Malagutti

Vocês já repararam no tanto que a gente tenta se encaixar em lugares aos quais não pertencemos?
Quando a gente quer muito alguma coisa, a gente se aperta, a gente se sufoca, se engana, tenta mudar, se adapta. Tudo pra caber naquele lugar que não é nosso. Esse lugar pode ser qualquer coisa, depende da fase da vida que a gente tá.
Esse lugar que não nos cabe pode ser o curso da faculdade que a gente descobriu que não tem nada a ver com a gente. Pode ser um emprego que nos deixa infeliz, mas que também provê nosso sustento. Pode ser aquela reunião de família que a gente acaba descobrindo que virou reunião com os parentes. Pode ser num relacionamento que desde o começo prometeu que não ia dar certo. Mas a gente quis…
Somos teimosos, obstinados, cabeças duras. No fim das contas, todos somos um pouco aquelas crianças que a gente vê jogadas no chão do mercado chorando e gritando, fazendo birra pra mãe levar doce, danoninho ou bolacha.
E o mesmo olhar condescendente que a gente troca com as mães das crianças birrentas nos corredores dos mercados, é o olhar que eu imagino que a vida dá pra gente enquanto estamos teimando em algo.
A gente acaba vencendo a vida pelo cansaço. Aí ela suspira resignada e pega a bendita bandeja de danoninho pra gente. Mas aí que começa o problema.
Quando a gente força algo que não era pra ser, logo a gente percebe que tem coisa estranha. Não é vingança do universo, não. Mas é que o mundo tem um jeito incrível de tentar equilibrar as coisas. E ele é mais sábio e centrado que a gente, graças a Deus!
Isso me faz lembrar uma coisa que minha mãe me dizia quando eu pedia pra ela abrir algum pote que eu não conseguia porque não tinha força. Ela sempre dizia: não é força, é jeito.
A gente devia prestar mais atenção aos conselhos das nossas mães. De fato, a vida não precisa que a gente empurre, revire ou force as coisas. O que falta pra gente é jeito.
É entender que a gente não precisa se anular pra fazer algo dar certo. E se a gente quer muito uma coisa, mas essa coisa exige que a gente se modifique tanto ao ponto de não nos reconhecermos mais, então, talvez, isso não deveria ser nosso.
O que não quer dizer ficar sentado, esperando a vida chover sonhos realizados no nosso colo. Tudo exige esforço. Mas se esse esforço mata um pouquinho do que a gente tem dentro do coração, não pode estar certo.
Se tá doendo, incomodando, fazendo chorar, sufocando, tirando nossa paz… talvez seja hora de parar de forçar. E de tentar algo mais leve, que nos peça jeito e não força bruta.

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