Márcia Ribeiro Iared
Inspirados nas saudosas “pamonhadas” que nós aqui das beiras de Minas criamos a tradicional Festa do Milho.
Este produto, um dos mais tradicionais de nossa cidade sempre aguçou nossa memória afetiva e gustativa pelos antigos e mutirões das pamonhadas, que reunia famílias e famílias em torno das latas e tachos que, ao fim do dia dispunha sobre as grandes peneiras as desejadas pamonhas.
Era lindo de se ver!
Nesta ocasião, aproveitando a lida, saiam múltiplos pratinhos do delicioso e dourado curau enfeitado de canela e o tradicional bolo de milho.
Nesta função, cada um tinha uma obrigação. A colheita e o descascar, no meu caso específico, eram realizados pelo meu pai. As crianças ajudavam a retirar os cabelos e a nós cabia costurar os saquinhos.
Moer, espremer em peneiras, temperar, preparar as palhas, enchê-las, colocar o esperado pedaço de queijo, fechar e por no tacho era um ritual trabalhoso, mas cheio de prazer, sempre realizados pelas mães e tias.
As pamonhas fumegantes eram dispostas nas peneiras quando então se planejava quantas iam para cada lugar, vez que, mesmo os que moravam em São Paulo, não perdoavam ficarem fora da distribuição.
Dizia minha mãe que nos tempos das vacas magras, enterrava as palhas no quintal para que a vizinhança não ficasse com vontade ao ver o descarte das mesmas.
Enfim, era a cultura da região, transformada em um verdadeiro “cerimonial” imprescindível que despertava as lombrigas de todos ao perceberem evidências desta função.
Era necessário um espaço grande para que todas as funções da lida acontecessem. Aí então, saia o curau delicioso e rápido, e também bolo, que associado ao queijo, fazia por si só o milagre do delicioso creminho na sua superfície corada.
A função era grande, mas o prazer era imensurável.
A Festa do Milho faz este milagre de nos trazer imensa saudade das histórias ocorridas nas cozinhas e quintais no inesquecível mês de fevereiro, onde o Carnaval e as pamonhadas nos transportavam a picos de alegria.
Saudades!