Institucionalização do Caminho da Fé gera polêmica

O Caminho da Fé foi inaugurado em 2003, em Águas da Prata. Foto: Caminho da Fé

O Caminho da Fé foi inaugurado em 11 de fevereiro de 2003, na cidade de Águas da Prata, passando por diversos municípios, inclusive Vargem Grande do Sul, onde segue até a Catedral Basílica de Nossa Senhora Aparecida, em Aparecida. Há 20 anos, milhares de peregrinos passam pela trilha religiosa todos os anos. Contudo, o senador astronauta Marcos Pontes (PL) quer instituir por lei o Caminho da Fé, através do projeto de lei 2.992/2023.
Conforme sua justificativa, a ideia é atrair investimentos e desenvolvimento para cidades de Minas Gerais e São Paulo que fazem parte da trilha religiosa que leva à Basílica de Aparecida. Marcos Pontes destaca que outro objetivo é trazer segurança e conforto para os peregrinos. A proposta foi aprovada no Senado e será analisada pela Câmara dos Deputados e, posteriormente, poderá seguir para sanção presidencial.
Segundo a Rádio Senado, o senador afirma que setas e sinalizações implantadas pela Associação dos Amigos do Caminho da Fé auxiliam os peregrinos, assim como a indicação de pousadas, locais de descanso e de alimentação. No entanto, ele considera que é necessário desenvolver as estruturas turísticas dos municípios e melhorar a trilha, que às vezes tangencia estradas e cruza vias urbanas.
“Isso vai atrair investimentos para essas cidades, mais negócios, mais possibilidades de desenvolvimento e com isso certamente nós teremos aí um melhor conforto para todos aqueles que fazem o caminho, que virão não só desses dois estados logicamente, mas de outros estados, de outros países”, disse Pontes.
O senador avalia que a aprovação de seu projeto de lei poderá levar à criação no Brasil de um dos mais importantes caminhos religiosos do mundo, aumentando os atuais vinte mil peregrinos anuais para números como os do Caminho de Santiago de Compostela, na Espanha, por onde passam mais de 300 mil pessoas por ano.

Responsáveis pelo Caminho questionam a lei
De acordo com informações do jornal O Município, membros da Associação dos Amigos do Caminho da Fé (AACF) estão de olho em Brasília (DF) assistindo de forma indigesta e apreensiva aos trâmites da proposta do senador, considerando que ele pretende ‘criar’ a rota turística que já existe há 20 anos.
A expectativa da AACF, segundo o informado, é para que a ideia seja interrompida. “Estivemos no gabinete do senador, em Brasília, nos apresentando e apontando as considerações sobre o instrumento. Após a visita, estamos analisando os desdobramentos para podermos assertivamente nos posicionarmos”, explicou a gestora-executiva, Camila Bassi Teixeira.
A gestora disse que em março deste ano, um dos assessores do senador contatou a associação, com sede em Águas da Prata, e fez uma espécie de pesquisa sobre a rota turística.
Na ocasião, ninguém suspeitou que a conversa poderia causar tamanho incômodo. “Entraram em contato conosco e dispusemos das informações solicitadas. Após meses sem comunicação, tivemos conhecimento do projeto de lei já em processo de análise de validação pelo Senado. E somente a partir desta ciência é que iniciamos os contatos para entender do que se tratava”, afirmou Teixeira.

O Caminho
O Caminho da Fé é inspirado no milenar ‘Caminho de Santiago de Compostela’, na Espanha, e está em atividade desde 2003. Dados de 2022 apontam que 51 municípios paulistas e 21 cidades mineiras fazem parte do trajeto.
A rota até Aparecida soma mais de 2 mil quilômetros e dispõe de pontos de apoio, infraestrutura e informações. Aproximadamente 400 quilômetros atravessam montanhas da Mantiqueira entre estradas vicinais, trilhas, bosques e asfalto.

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