A presença dos chineses na Rua do Comércio

Suzi Center acabou de ser inaugurada na Rua do Comércio

Tadeu Fernando Ligabue

Me surpreendi quando vi a grande loja aberta onde era a casa do Netinho e da dentista Rosedi Ribeiro, na Rua do Comércio, ou indo um pouco mais no passado, onde funcionava a loja de calçados do sr. Rosalvo Ribeiro, ao lado do prédio onde funcionou o açougue do Leonel Mazeto, se não me engano ou melhor, a Caixa Econômica Estadual ou a Lojas Americanas na atualidade. Assim é a Rua do Comércio, mutante, sempre nos surpreendendo com novas fachadas, novos comércios, novos investidores.
Acompanhei de longe a venda do prédio, a sua derrubada, os comentários de que quem tinha comprado eram os ‘coreanos’ e vi a construção surgindo, sem muitos adereços, quase um barracão, ao contrário de vários prédios antigos da Rua do Comércio, onde o construtor da época se preocupava um pouco mais com sua beleza, com uma fachada mais elaborada, alguns até com pequenas esculturas no alto das fachadas.
O prédio ficou pronto, com duas portas de aço grandes de enrolar e o rosa tomando a frente do prédio, onde o nome Suzi Center foi estampado. Quem adentra ao local recentemente inaugurado, sem muita festa, como é típico da índole dos asiáticos, se depara com um imenso espaço, todo tomado por modernas prateleiras e uma escada que leva a um pavimento superior, onde mais produtos estão à espera dos clientes.
Lá dentro, um misto de supermercado, loja de presentes, produtos das antigas lojas de R$ 1,99, materiais de construção, cama, mesa e banho, ferramentas, artigos para o lar, doces, biscoitos, detergentes, papel higiênico, enfim, tem de tudo um pouco. O local é simples e espartano.
Essa metamorfose da Rua do Comércio sempre me fascinou e andar por ela, sempre me traz recordações e um pouco da história do desenvolvimento de Vargem Grande do Sul, afinal, é a principal rua da cidade, onde o comércio impera e gera riquezas e empregos para a população. Ela não é tão extensa, mas ao terminar na Praça da Matriz, onde também estão várias lojas de comércio e prestação de serviço, torna o local o centro nervoso da cidade.
É observando os prédios antigos e novos, ou os velhos com novas roupagens, que podemos notar o passar dos anos e a história sendo contada em cada comércio na rua instalado. Ao longo dos quase 150 anos de existência de Vargem Grande do Sul, quantas transformações ocorreram na Rua do Comércio, quantas histórias de famílias vargengrandenses que por lá passaram e porque não dizer, muito da nossa elite econômica e social que fizeram riquezas no comércio desta rua tão emblemática de Vargem.
Também nos conta um pouco da formação da população vargengrandense, do tempo dos portugueses, dos mineiros que por aqui aportaram, dos fazendeiros do café que abasteciam nos seus estabelecimentos, das antigas vendas, dos italianos que depois lá se estabeleceram, dos imigrantes espanhóis, depois os turcos da Rua do Comércio, como eram chamados os sírios e libaneses que tanto impactaram positivamente o comércio da rua e agora, a presença dos chineses.
Começamos a notar a presença dos até então para mim e muitos vargengrandenses ‘coreanos’, há uns 15 anos atrás, quando o primeiro chinês comprou e montou a Pastelaria Pequim, onde antigamente era a oficina do Sábado de Rosa, se não me engano. Já havíamos notado a presença deles em São João da Boa Vista e foi uma questão de tempo para se instalaram em Vargem.
O dono da Pastelaria Pequim, o senhor Xingting Chen, também conhecido como Beto, é um empreendedor e foi ele o primeiro chinês a aportar em Vargem Grande do Sul, aqui se estabelecendo com sua família lá pelos idos de 2008.
Depois veio a família de Zhu Jianyi, proprietários da Suzi Bijoux, ou Suzi Presentes, que alugaram o prédio construído também pelo sr. Chen, onde foi a mercearia São João, da família Ferri. Posteriormente o prédio foi adquirido pela família Jianyi, que prosperou e inaugurou agora a Suzi Center, objeto da presente matéria. O prédio, segundo apurou a reportagem, foi erguido pelo sr. Xingting Chen (Beto), que o aluga para a família proprietária da Suzi Presentes e agora a Suzi Center.
Os chineses são muito reservados, pouco falam, focam mais no trabalho e nos resultados. A reportagem da Gazeta de Vargem Grande procurou maiores informações junto aos proprietários da Suzi Presentes, mas não houve retorno. Portanto, a presente matéria pode ser passível de alguma revisão, caso os dados não estejam corretos.
Sem conseguir falar com os proprietários, foi conversando com algumas pessoas e procurando na internet que estamos escrevendo a presente matéria, que tem como foco, os investimentos que os chineses estão fazendo no comércio local e contar um pouco da rua onde eles estão instalados.
Também o jornal tomou conhecimento que o sr. Shaoyan Tan, chinês residente em São João da Boa Vista se sentiu atraído pelo comércio de Vargem e comprou o prédio que antigamente era da família Forlin e funcionava a Casa das Roupas. Demoliu o mesmo há mais de um ano e está construindo um outro prédio, com mais de 500m2 no local, que deverá ficar pronto dentro de alguns meses e onde provavelmente vai instalar uma loja de produtos no estilo da Suzi Center.
Hoje a China e seu gigantesco desenvolvimento está presente na maioria dos países do mundo, influenciando com sua presença industrial e tecnológica, se tornando a segunda nação mais rica do planeta, atrás apenas dos Estados Unidos. Mas, pesquisando sobre a presença dos chineses no Brasil, é tido como marco da vinda dos orientais para cá, a data de entrada no porto do Rio de Janeiro do navio Malange, em 1900, vindo de Lisboa com imigrantes chineses na sua tripulação. Trata-se apenas de um marco oficial, uma vez que muito antes do século XX, já havia marca da presença chinesa na arte e no cotidiano dos habitantes do Brasil.
O professor José Roberto Teixeira Leite, em uma pesquisa feita em 1990, denominada “A China no Brasil – Influências, Marcas, Ecos e Sobrevivências Chinesas na Sociedade e na Arte Brasileira”, fala da presença chinesa na arte colonial brasileira, em especial a arte sacra, e no cotidiano da população, quando navios vindos da China chegavam a Salvador, então capital da colônia, carregados de porcelanas, leques e seda.
Também existiam evidências dessa presença no cotidiano, tais como o hábito de empinar pipas, estourar fogos de artifício, que já eram conhecidos no Brasil colonial, usar roupas de seda ornamentadas e coloridas.
Hoje, a maioria dos chineses no Brasil está envolvida no comércio, importação e exportação. Na cidade de São Paulo existe uma concentração significativa de lojas, restaurantes e mercados chineses. Também estão investindo em diferentes setores da economia brasileira, como infraestrutura, agricultura e tecnologia, como construção de estradas, portos e energia.
Como aconteceu com diversos povos que vieram para o Brasil e para Vargem Grande do Sul, todos sendo acolhidos e contribuindo com o desenvolvimento da cidade, o mesmo deve acontecer com os chineses e quem sabe no futuro alguns coreanos, africanos, árabes aportem por aqui, e com seus investimentos e trabalho, contribuem para o enriquecimento do nosso município, como lá no passado fizeram outros imigrantes. Que sejam todos bem-vindos.

Pastelaria Pequim foi o primeiro empreendimento chinês na cidade

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