Editorial: “Bandido bom, é bandido morto…”

No governo passado aumentaram significamente as armas de fogo em circulação no país. Foto: Tania Rego / Agência Brasil

Cansamos de ouvir de pessoas até próximas e ver publicado nas redes sociais, que “bandido bom, é bandido morto”, “que no Brasil a Justiça não funciona”, que “temos de fazer justiça com as próprias mãos”, de pessoas se sentindo feliz “pois foi apagado o CPF de mais um” e por aí vai a receita dos que acham que desta maneira a violência no Brasil vai acabar.
A turma do “faz uma arminha” é enorme e parece entranhada na sociedade brasileira, tomando maior vulto depois que Bolsonaro e seus pares defensores da turma da arma, passou pela presidência da República, deixando ainda mais sequelas em um Brasil que tristemente ostenta taxas de ser um dos mais violentos do mundo.
As consequências são gravíssimas quando pessoas passam a acreditar que a Justiça não funciona, quando se sentem fortalecidas o suficiente para fazerem justiça com as próprias mãos e desprezando a vida do próximo, do ser humano, matam por motivos banais, torpes.
Dois assassinatos ocorreram em Vargem Grande do Sul em menos de 10 dias, e embora seja difícil julgar os motivos que levaram aos bárbaros homicídios, pode-se notar em ambos o estigma dos que apregoam que “bandido bom é bandido morto” ou “fazer justiça com as próprias mãos”, ou o quanto o valor da vida humana foi banalizado.
A facilidade com que atualmente se fala em matar o próximo, o bandido, é tão presente, que pessoas crentes, tementes a Deus, religiosas, que são devotas de Cristo, passam a assimilar este fato como verdadeiro, esquecendo o que Jesus pregou e morreu por esta verdade, amar e perdoar.
Foram milhares de anos até a humanidade conseguir chegar ao Estado de Direito, sair da barbárie. Se alguém comete um crime, deixa que o Estado através de seus poderes constituídos, cuide do caso. Bem ou mal, esse deve ser o caminho a ser trilhado e aperfeiçoado.
Se o rapaz que furtou uma televisão ou outro objeto qualquer, tivesse sido denunciado à Polícia, ao invés de ser morto e queimado, a história dos seus assassinos certamente seria outra. Por não acreditarem na Justiça, isto é, no Poder Judiciário, foram presos, certamente serão condenados e pegarão muitos anos de prisão. Prova de que a Justiça funciona no Brasil. Que precisa evoluir e melhorar, todos têm conhecimento.
Se por acaso a morte do jovem no Jd. Santa Marta deveu-se a uma discussão banal, se houve ofensas, que as mesmas fossem reportadas a quem de direito, à Polícia, ao Ministério Público, enfim, que se utilizassem os ofendidos dos canais do Estado de Direito e não resolvessem a questão de maneira tão atroz, matando o próximo.
É bom as pessoas irem entendendo e passarem a dizer que bandido bom, é bandido preso e condenado. Que a Justiça funciona sim, que tenhamos paciência e lutemos para que ela evolua e melhore, que nossas cortes judiciais passam a dar bons exemplos, para que a barbárie e salvadores da Pátria não achem campo fértil para se instalarem no Brasil.
Que cada vez mais se proceda o desarmamento no país, que ao invés de sentirmos felizes e nos regozijarmos com “mais um CPF que foi apagado”, tenhamos tristeza de morar em um Brasil violento, que não nos exultemos com a morte do próximo, mesmo que seja um bandido, pois cada vez que assim procedermos, estaremos nos afastando de sermos civilizados, humanos e cristãos.

DEIXE UMA RESPOSTA

Por favor insira seu comentário
Por favor insira seu nome aqui