Médicos negam problemas em transferência do PPA ao Hospital

Em entrevista à Gazeta de Vargem Grande, médicos Fábio Visconde e Guilherme Martins, atual diretor técnico, negaram que há ordem para dificultar transferência de pacientes do PPA para o Hospital. Foto: Reportagem

As pessoas que acompanham as sessões da Câmara Municipal podem ver os vereadores discutindo, sessão após sessão, sobre a transferência de pacientes do Posto de Pronto Atendimento (PPA) Alfeu Rodrigues do Patrocínio para o Hospital de Caridade de Vargem Grande do Sul, um dos temas mais abordados e debatidos na Casa de Leis atualmente.
Isso tem preocupado os munícipes, uma vez que os vereadores alegam que existem muitas dificuldades nessas transferências. O tema foi pautado pela primeira vez há mais de um ano e a diretora do Departamento de Saúde, Maria Helena Zan, esteve na Câmara para esclarecer o caso, afirmando com veemência que os médicos podem sim transferir os pacientes quando necessário e que não há nenhum impedimento ou ordem que restrinja essa ação.
Ainda assim, principalmente neste ano, alguns vereadores têm usado as sessões para afirmar que os médicos do PPA não conseguem transferir pacientes para o Hospital.
Com a discussão recorrente do tema e a preocupação com os cidadãos de Vargem Grande do Sul, que se assustam com a forma como a situação é colocada, a Gazeta de Vargem Grande procurou saber melhor sobre o caso.

Interventor afirmou que a conduta médica é que prevalece
O jornal procurou o atual interventor do Hospital de Caridade, José Geraldo Ramazotti, para saber sobre a situação, questionando como ele vê as críticas e reclamações dos vereadores com relação a atuação PPA/Hospital no tocante a transferência de pacientes. O jornal também buscou saber o que compete ao Hospital de Caridade com relação aos pacientes do PPA, quem avalia essas transferências e se há algum impedimento na transferência de pacientes do PPA para o Hospital.
Ramazotti afirmou que, sobre as críticas dos vereadores, não tem o que comentar, pois sobre pacientes é a conduta médica que prevalece. “Sobre os pacientes do PPA nada compete ao Hospital. Se os médicos avaliarem a necessidade de uma internação, será feita como sempre foi, a administração do Hospital atende a todas as indicações vindas dos médicos sem distinção”, pontuou.
O interventor ressaltou que não existe, em nenhuma hipótese, impedimento da administração da entidade quando tem indicação médica para internação. “Acolhemos todos que necessitam de internação. São os médicos que avaliam as transferências, ninguém mais”, finalizou.
Questionado sobre como está a situação do diretor clínico e diretor técnico, Ramazotti ainda explicou que a questão do diretor técnico está resolvida e que sobre o diretor clínico, estão aguardando o Corpo Clínico do Hospital fazer a indicação.

É política ou politicagem?
Questionados pelo jornal, o prefeito Amarildo Duzi Moraes (MDB) e a diretora de Saúde Maria Helena, informaram que a função do PPA é atender a população nos casos de urgência e emergência e que nos demais casos, os pacientes são atendidos nas Unidades Básicas de Saúde e nos eSF – equipe de Saúde da Família.
Conforme o explicado, no total, quatro médicos prestam atendimento no PPA, sendo três clínicos geral e um pediatra. Além disso, mais um médico presta atendimento no dengário, totalizando cinco médicos atendendo urgência e emergência no Município contratados pela prefeitura, além dos atendimentos realizados nas 17 Unidades de Saúde.
Ao jornal, pontuaram que, para conhecimento, o número de médicos atendendo na urgência e emergência do município é a mesma quantidade que atende na cidade vizinha de São João da Boa Vista, que tem o dobro da população. A empresa médica que presta serviços para o Departamento de Saúde é a Alphamed Serviços de Saúde Ltda.
Para o prefeito e para a diretora, quando se trata de saúde, toda e qualquer crítica deve ser analisada com profundidade, e, havendo fundamento deve proceder a correção. “Mas, obviamente que estamos em um ano eleitoral e muitas vezes confunde-se política com politicagem, dessa forma isso também deve ser avaliado e diferenciado uma coisa da outra”, disse Amarildo.
Para a administração não existe polêmica. “Quando há necessidade de transferência do paciente atendido no PPA para o Hospital de Caridade de Vargem Grande do Sul, a decisão final é do médico do PPA. Se ele achar que o paciente deve ser transferido, o mesmo tem total liberdade para fazer, a decisão é médica. A transferência geralmente acontece em comum acordo, sendo que há um diálogo entre o médico do PPA e do Hospital, no entanto, a decisão final para encaminhamento do paciente é do médico do PPA, basta realizar o encaminhamento, pois é ele que está acompanhando o quadro clínico do paciente, se o médico do Hospital não aceita, ele se responsabiliza pela sua decisão”, disse.
Para o Departamento de Saúde não há nenhum conflito, o que existe muitas vezes é o ponto de vista diferente dos médicos. “Mas, como dissemos, a palavra final de encaminhamento é do médico que está respondendo pelo paciente, que no caso é do PPA”, completou.

Médicos negam que há ordem para dificultar transferência
No Hospital de Caridade, o plantão na emergência é feito de 12 em 12 horas, realizado por um único médico por plantão, de acordo com a escala. A reportagem da Gazeta de Vargem Grande também entrevistou o médico Guilherme Martins de Souza, atual diretor técnico, e o médico ortopedista Fábio Visconde. Os dois são plantonistas na emergência do Hospital de Caridade e foram questionados sobre a situação.
Ao jornal, Fábio afirmou que ele e Guilherme são os dois médicos que mais dão plantões e garantiu que nenhum paciente grave foi negado de ser transferido do PPA ao Hospital. “Nunca teve essa negativa. Jamais”, pontuou.
Guilherme também afirmou que nunca houve resistência por parte de médicos em aceitar a transferência do PPA para o Hospital. “Mesmo se houver algum médico mais resistente, se o médico do PPA achar que deve mandar para o Hospital, ele manda. Ele tem o dever de mandar e quem está no Hospital vai atender”, disse.
Durante a entrevista ao jornal, Fábio explicou que às vezes o médico do PPA liga para o médico do Hospital para discutir o caso e não necessariamente para transferir o paciente. “E aí depois dessa conversa clínica, dessa discussão de caso, fica acordado entre ambas as partes, chega-se no consenso de que esse paciente não precisa vir ao Hospital para ser internado, que o tratamento dele pode ser via ambulatorial com determinada medicação, acompanhamento clínico do posto, acompanhamento ambulatorial, etc., sem necessidade de internação. Porém, pacientes graves, com critério clínico que precisam vir para cá, jamais foram e jamais serão negados”, afirmou.
Guilherme ainda ressaltou que, mesmo assim, se o médico do PPA tiver alguma dúvida e achar melhor transferir para o Hospital, também não será negado atendimento. “Em momento nenhum será negado, falo por mim, pelo Fábio e com certeza pelos outros. Sobre todos os pacientes que ligam para a gente, falamos para mandar para cá, mas lógico que os graves têm prioridade. Só que mesmo assim, se pela demanda de atendimento que tiverem lá, eles tiverem dúvidas, nada impede de mandar para cá também para ser avaliado. Se ver que é uma questão que realmente é tratamento ambulatorial, que dá pra ser tratado em casa, se houver alguma necessidade de retornar aqui, também a porta está aberta”, informou.
Para Fábio, o critério de avaliação precisa ser exclusivamente clínico. Assim, caso o paciente não possa ser tratado de outra maneira que não seja regime de internação hospitalar, o paciente é encaminhado ao Hospital.
Outra demanda, segundo os médicos, é a questão de exames. Fábio comentou que há pacientes que estão no PPA que o médico não consegue fazer o exame naquela hora e precisa do exame naquele dia. “O paciente às vezes vem para cá só para fazer exame. Ficou pronto o exame e viu que não precisou internar, o paciente será medicado e mandado para casa. Não necessariamente todos que vêm para cá são internados, uma grande parte vem, faz exame e informamos qual o tratamento, como acompanhar, se ele volta no Hospital, acompanha no posto ou passa por especialista”, disse.
Guilherme afirmou que os médicos não são informados pelo Hospital de que não podem aceitar paciente do PPA, que essa é uma autonomia do médico.
Fábio pontuou que não há uma ideologia ou uma orientação com esse viés na entidade. “Jamais, nunca tivemos uma orientação da instituição para dificultarmos a transferência de pacientes para cá, não existe isso, não tem sentido, os critérios são clínicos. O paciente precisa vir? Ele vai vir e acabou. O critério é do médico para o médico”, disse.
Quando o paciente precisa ser transferido, é preciso que o médico do PPA faça contato com o médico do Hospital para passar o caso. “Porém, eles têm total autonomia de mandar os pacientes”, disse Guilherme.
Fábio informou que essa ligação é uma discussão clínica. “É passado o caso. O que compete ao Hospital quanto a pacientes do PPA é dar suporte para casos graves e quando há necessidade ou de internação hospitalar ou de exames complementares.

Hospital está com apenas um plantonista
Eles explicaram que o Pronto Socorro do Hospital é de porta aberta para urgências e emergências, então todo paciente esfaqueado, baleado, atropelado, infartado, AVCzado e gestantes vão para lá. O local recebe pacientes levados pelos Resgates da GCM e da Renovias e também pelo Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu). Além disso, se o paciente grave procura o Hospital por demanda espontânea, ele também é atendido.
“O paciente grave nem vai lá no PPA, ele já vem direto aqui, dificilmente vai um paciente grave para lá, eles já vêm direto para cá. Então além dessas demandas, das urgências que vêm via Resgate, temos porta aberta para todos os pacientes de convênio, Unimed, Hospital Saúde, todos vêm para cá. E isso acaba gerando uma demanda enorme de atendimento para o nosso Pronto Socorro. Isso não é atendido lá no PPA, aqui chegamos a atender 80 pacientes com um único médico sozinho, então temos um volume muito grande de atendimentos”, disse Fábio.
Enquanto no PPA, há quatro médicos atendendo no plantão, o Hospital conta com um único médico que também responde pelas intercorrências que podem ocorrer na enfermaria. Até o mês passado, por conta da epidemia de dengue, haviam dois médicos atendendo no Hospital e o segundo plantonista foi cortado por questões administrativas e financeiras. A justificativa do corte, segundo o informado, foi falta de verba.
Fábio ressaltou que é preciso ter dois médicos para dividir o atendimento, uma vez que a responsabilidade das urgências e emergências de mais de 40 mil habitantes estão sob a responsabilidade de um único médico. “Ter um único plantonista no Hospital foi instituído na década de 90. Então, há 30 anos temos um único plantonista. Nessa época também era um único plantonista no PPA, então, ao longo de 30 anos, os plantonistas do PPA passaram de um para quatro. Em 30 anos continua com um único plantonista aqui no Hospital de Caridade diante de todo esse aumento da população. Se aumentou o serviço e aumentou a população, tem que aumentar a quantidade de pessoas para atender. É como aconteceu lá, a população aumentou e o PPA aumentou o número de médicos, hoje tem quatro. A população aumentou e continua um único médico atendendo aqui na urgência do Hospital”, pontuou.
Além do PPA, os médicos informaram que os postinhos de saúde também encaminham pacientes ao Hospital quando necessário. Outro ponto que tem sobrecarregado a carga de atendimento do médico plantonista do Hospital é que os pacientes que possuem convênio estão com dificuldade em conseguir atendimento em consultórios. Quando ligam, a vaga é para daqui dois meses e o paciente vai ao Hospital e é atendido junto com as urgências e emergências, não importa o que esteja sentindo.
Assim, o médico que está de plantão no Hospital torna-se um para-raios da cidade toda. “Tudo vem aqui nas costas dele para resolver. Isso não é justo, não é bom para a população, não é humano com a população um único sujeito que está aqui atender 80 pessoas. Precisamos encarar e enfrentar essa questão estrutural para resolver o problema. Estou aqui há 10 anos e o Guilherme há 5, nossa intenção é melhorar a saúde daqui”, comentou Fábio.

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