Descendentes dizem ter orgulho dos fundadores

Antigas fotos da Rua do Comércio e Praça da Matriz, que retratam as primeiras décadas de Vargem Grande do Sul, herança deixada por seus fundadores, cuja história contamos nesta edição

Saber que um bisavô ou bisavó ou mesmo um tataravô/ó foi fundador de uma cidade, é de encher de orgulho qualquer cidadão. Este sentimento foi o que mais aflorou nas entrevistas feitas pela reportagem da Gazeta de Vargem Grande com algumas pessoas descendentes diretas dos fundadores de Vargem Grande do Sul, que viveram lá por meados e final do século XIX, compreendido entre os anos de 1801 a 1900.


Era uma época de desbravamento do Brasil pelos Bandeirantes, que partiam de São Paulo em busca de ouro e outras riquezas em Minas, Goiás, Mato Grosso, com Vargem ficando no caminho da Estrada Grande, conhecida ainda como Estrada Boiadeira ou Francana, que vinha de Santos, passando por São Paulo, atravessando os rios Atibaia, Jaguari, Mogi, Pardo, Sapucaí e Rio Grande, segundo o historiador João Alfredo de Souza Oliveira, no seu relato ao jornal A Imprensa, publicado em 24 de dezembro de 1952.


A Bandeira Paulista avançava, passando pelos postos e paradas onde hoje se erguem cidades como Jundiaí, Campinas, Mogi, Casa Branca, Batatais, Franca, e daí seguindo por Minas, rumo a Goiás. “Seguia-se o traçado quase idêntico ao da Mogiana por Mogi Mirim, entreposto criado pelos Bandeirantes nos meados do século XVII”.
Prossegue o historiador dizendo que dessa Estrada Grande, de ponto não longe de Cascavel, (hoje Aguaí) partia uma ramificação em direção à Caldas, em Minas. “Nessa época é ainda pequena a quantidade de cidades paulistas, devido à emigração do bandeirante”, relata João Alfredo.


Cessado o êxodo do paulista e com a inclusão de elementos vindos das Gerais, surgem as sesmarias povoando os claros (espaços) deixados pelo bandeirante em sua peregrinação. A do Sargento-mor José Garcia Leal e do seu irmão alferes Salvador Garcia Leal, conhecida por Sesmaria de Vargem Grande, começava no alto da serra dos Rabelos (Vargem Grande) até Baguassú (Pirassununga), para os lados do córrego do Aterrado (próximo a Casa Branca) até o rio Itupeva (São João da Boa Vista), na fazenda do Embirussú (imediações de Cascavel, hoje Aguaí).


Uma contribuição do historiador Sérgio Scacabarozi para a presente edição, que consta do “Repertório das Sesmarias”, traz o seguinte: “José Garcia Leal, sargento-mor e seu irmão o alferes Salvador Garcia Leal, de Villa de Mogy Mirim. Duas léguas de terras de testada e três léguas e meia de fundo, com mais meia légua de testada de matos lavradios, distante da Villa três léguas mais ou menos, na paragem chamada Rio Jaguary Mirim, principiando da mesma estrada correndo para a parte direita pelo rio acima até dar na serra do rio Pardo para a parte da Nascente e da parte esquerda, correndo pela mesma estrada até a lagoa chamada Lagoa Grande do Olho d’Agua e desta seguindo pela mesma estrada até dar nas aguadas do lugar chamado Pissarrão, que correm para o Nascente até onde fazem Barra no Rio Pardo, cujo terreno é cercado por natureza. Possui por compra feita aos primeiros possuidores e guarda-mor Agostinho Delgado Arouche, o capitão José de Siqueira Camargo e Francisco Xavier de Camargo”.


Contando sobre a criação do município de Vargem Grande do Sul, o historiador João Alfredo de Souza Oliveira afirma que da vasta Sesmaria dos Garcia Leal surgiu a fazenda Vargem Grande, uma das propriedades derivadas da sesmaria, que já existia no começo do século XIX e pertencia à freguesia de Casa Branca.
“Tinha essa propriedade agrícola, 1.300 alqueires e estava compreendida entre os seguintes limites: Ribeirão São João, Belarmino Peres, seguindo em direção às fazendas dos sucessores do sr. João Costa e Amadeu Andrade; Rabelos, Barro Preto, Chapadão, Barreiro, Vicente Ribeiro, Cachoeira e Estiva.


A Fazenda “Várzea Grande”, como era conhecida, a requerimento de Antônio Rodrigues do Prado e outros, foi outra vez dividida judicialmente em 65 outros sítios e fazendas, conforme se verifica pelo auto de divisão iniciado em 9 de setembro de 1873 e terminado em 26 de setembro de 1874, data em que se comemora a criação do município de Vargem Grande do Sul.


Conforme consta no livro “História da Câmara Municipal de Vargem Grande do Sul”, cujas pesquisas foram feitas por Maria José Pereira Miranda, já em 1873, o cel. Francisco Mariano Parreira vai ao fórum de Casa Branca tratar das doações de terrenos destinado à fundação do povoado de Vargem Grande, que na época contava com 600 eleitores e estava subordinado à administração de São João da Boa Vista, da qual Mariano Parreira era funcionário público.


Os terrenos foram doados por três herdeiros do clã Garcia Leal para a formação do povoado, sendo eles Antônio Rodrigues do Prado, José Moreira e dona Maria Antônia Eufrazina Alves da Cunha, que são considerados fundadores de Vargem Grande junto com o coronel Francisco Mariano Parreira e os irmãos José e Salvador Garcia Leal. Suas doações no valor de trezentos mil réis, configuram patrimônio pago a Sant’Ana.

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