Salvador não é citado como fundador de Vargem

Christiano Garcia Leal é citado como fundador

Quando das comemorações do Centenário de Vargem Grande do Sul, em 26 de setembro de 1974, o então prefeito Huber Braz Cossi mandou instalar um monumento na Praça da Matriz, onde consta os nomes dos fundadores do município como sendo José Garcia Leal, seu neto Cristiano Garcia Leal, os doadores das terras para que fosse erguido uma capela, Antônio Rodrigues do Prado, José Moreira e dona Maria Antônia Eufrazina Alves da Cunha e o Cel. Francisco Mariano Parreira.
Como se pode notar, o nome do alferes Salvador Garcia Leal, que era o proprietário da Fazenda Vargem Grande, não está entre os citados fundadores da cidade. Como os historiadores da época e também as autoridades não o citaram e sim Cristiano Garcia Leal, que viria a ter um papel anos depois quando da emancipação de Vargem da cidade de São João da Boa Vista, da qual era distrito, isso quase 50 anos depois, é uma incógnita.
Poucos documentos temos às mãos que possam ajudar a esclarecer porque é citado o sargento-mor José Garcia Leal como fundador e não seu irmão o alferes Salvador Garcia Leal, que em tese, teve mais importância para os destinos de Vargem Grande do Sul, que o próprio José Garcia Leal.
A primeira referência que aparece o nome de Cristiano Garcia Leal como fundador de Vargem Grande do Sul, é de uma edição do jornal A Imprensa de 1957, quando era proprietário o senhor Pedro dos Santos Tatoni e tinha como redator, Walter Tatoni. Foi uma edição especial dedicada ao lançamento da pedra fundamental da construção da atual Igreja Matriz de Sant´Ana.
Na matéria “Vargem Grande do Sul – Dados históricos sobre o movimento religioso de nossa terra, de 1874 até os nossos dias”, consta o seguinte: “Em 1874, com a divisão judicial da Fazenda Várzea Grande, de 3.146 hectares, em pequenas fazendas e sítios, Antônio Rodrigues do Prado, José Moreira e dona Maria Antônia, fizeram doação do patrimônio, pelo qual se estendeu o povoado, origem da atual cidade. Ainda neste ano, o Tenente Coronel Francisco Mariano Parreira obteve a licença para erigir uma pequena capela no povoado. Todas as pessoas acima citadas, mais o sr. Cristiano Garcia Leal, são considerados os fundadores de Vargem Grande, que era então conhecida por “Bairro da Porteira”, passando a denominar-se “Distrito Policial de Sant´Ana da Vargem Grande, em 2 de agosto de 1888”.

Quem foi Christiano Garcia Leal

Segundo o livro “Clã Garcia Leal”, Christiano Garcia Leal era filho de Bernardo Garcia Leal e Marianna Constança de Figueiredo, nascido em 13/01/1859 e falecido em 25/3/1936 em Rio Claro, aos 77 anos. Portanto, quando da fundação de Vargem Grande do Sul em 26 de setembro de 1874, ele teria tão somente 15 anos de idade. Ele era neto do sargento-mor José Garcia Leal.
Casou-se em 1878 com Faustina Francisca do Nascimento, é citado como chefe político de Vargem Grande do Sul, foi dono de farmácia, cervejaria e outros estabelecimentos comerciais. Em 1907 consta como eleito Juiz de Paz em Vargem com 116 votos, ficando em primeiro lugar. Residia no largo da Matriz de Sant’Ana.
Em 1919, volta a constar como eleito Juiz de Paz, o capitão Christiano Garcia Leal, que nesta condição, esteve presente na ata da instalação do município de Vargem Grande do Sul realizada no dia 24 de fevereiro de 1922, quando a cidade consegue sua emancipação de São João da Boa Vista. Talvez por isso sua citação como fundador de Vargem. Mas, a emancipação política do município teve a presença de outras importantes figuras políticas da época, como o Cap. Belarmino Rodrigues Peres, eleito por seus pares o primeiro prefeito da cidade em 1922.
Como se pode verificar, embora Christiano Garcia Leal tenha tido participação importante na história da cidade, não se deve creditar a ele, o título de fundador do município, a ter como parâmetros, os mesmos que fizeram constar os nomes dos outros cinco fundadores, devendo por analogia e direito, constar o nome do alferes Salvador Garcia Leal, que foi o possuidor das terras que originaram o povoado de Vargem Grande do Sul.
O mesmo equívoco citando Christiano Garcia Leal como fundador, aparece em outros importantes documentos, como o livro que consta a “História da Câmara Municipal de Vargem Grande do Sul” e se repete em vários outros documentos e também jornais editados no passado, o que pode ter levado alguns historiadores e a administração municipal a constar como algo oficioso, o nome de Christiano Garcia Leal como um dos fundadores do município.

Corroborando o fato de a Fazenda Vargem Grande pertencer a Salvador Garcia Leal e seus descendentes

Na edição especial do jornal A Imprensa, datada de 29 de setembro de 1974, que tratou do Centenário do município, tendo como redator o professor Osvaldo Pereira. Na matéria intitulada “Vargem Grande do Sul – Dos Primeiros Tempos à Fundação”, consta em parte da matéria “A sesmaria de José Garcia Leal, conhecida por sesmaria de Vargem Grande, ia desde a Serra dos Rabelos (Sant’Ana ou Fartura) até Baguassú (Pirassununga), do Córrego do Aterrado (Casa Branca) até o rio Itupeva (São João da Boa Vista) limitando-se com Aguaí na fazenda Embirussú.
Para escrever seu artigo, o professor Osvaldo Pereira buscou em suas fontes, os autores João Alfredo de Souza Oliveira, com base nos artigos que escreveu para o jornal O Vargengrandense e A Imprensa; nos escritos do professor Gilberto Giraldi, no seu artigo “Vargem Grande de Outr’Ora”; A. M. Magalhães Jr. “Almanack de Casa Branca – 1904”; Arigyone Costa “Arqueologia Brasileira” e Cel. Mariano Parreira – “Autobiografia”, em “A Imprensa”.
Ele cita que em 1828 surge uma questão de terras envolvendo a Fazenda Vargem Grande e, naquela época, o sesmeiro José Garcia Leal já havia falecido, bem como Salvador Garcia Leal, que não aparece no texto. Prossegue dizendo que Francisco Pereira Lima Jordão faz citar Diogo Garcia Leal e Manoel Martins Coelho para que compareçam à audiência do Juiz de Paz de Casa Branca, capitão Joaquim Gonçalves dos Santos, para resolverem uma pendência a respeito de terras. Diz Lima Jordão que, sabemos que haviam terras devolutas, sem marcas de posse no local chamado Palmital, nos limites de Casa Branca e levou consigo três testemunhas, Joaquim Dutra do Nascimento, João Dutra Pereira e Francisco Xavier da Costa para confirmá-lo. Em seguida iniciou a construção de casa e plantação de roça. Certo dia na sua ausência chegaram ao local Diogo Garcia Leal e Manoel Martins Coelho com “alguns camaradas e gente sua, e sem atenção, entraram a fazer os despotismos queimando os serviços e trastes”.
Por isso Lima Jordão denunciou-os ao Juiz de Paz. Estas terras em questão pertenciam a Dona Maria das Candeias, a José Garcia Leal, também filho do sesmeiro, portanto, todos herdeiros.
Na pesquisa realizada no livro “Clã Garcia Leal”, temos que Diogo Garcia Leal, conhecido também como Dioguinho é filho do alferes Salvador Garcia Leal e dona Izabel Maria das Candeias, portanto, herdeiro da Fazenda Vargem Grande. Já Manoel Martins Coelho é casado com Cecília Constância Garcia, segunda filha de Salvador e Izabel Maria e herdeira de Salvador.
Pelo que se depreende da história, tanto Diogo como também Manoel Martins, são descendentes de Salvador e estariam lutando pelo patrimônio do qual eram herdeiros. Essa linhagem de herdeiros é que no final ficou com as terras pertencentes ao alferes Salvador Garcia Leal e que na divisão, deu origem a Vargem Grande do Sul.
O primeiro a citar Salvador Garcia Leal como também fundador de Vargem Grande do Sul, foi o editor Ângelo Fasanella, já falecido, na revista “Vargem em prosa, verso e fotos”. Também o historiador José Osvaldo Garcia Leal no seu outro livro, “A Pérola da Mantiqueira”, questiona na página 39, porque o nome de Salvador não figura entre os fundadores de Vargem Grande do Sul, se desde o início ele esteve com seu irmão José sendo proprietário da Sesmaria de Vargem Grande.

Placa do Centenário de Vargem

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