Um dos prováveis motivos que afetou um jovem que recentemente teve problemas envolvendo familiares e também a polícia, segundo vários comentários, teria sido a perda de dinheiro em jogos de apostas na internet, especificamente um conhecido como Jogo do Tigrinho.
A Gazeta de Vargem Grande abriu uma discussão em suas redes sociais sobre o tema, questionando o que os leitores acham de jogos de apostas na internet, se conhecem alguém que tenha tido algum resultado positivo ou negativo com estes jogos e se acham que os mesmos viciam.
A participação foi grande, com cerca de 9 mil impressões na publicação. Até o fechamento desta edição, mais de 90 pessoas haviam comentado sobre o assunto.
Entre os comentários, muitos leitores se mostraram preocupados com essas plataformas, alegando o quanto são viciantes. Outros, contaram suas experiências com a perda de dinheiro. Algumas pessoas comentaram que é possível ganhar e perder no jogo, sendo preciso ter muita consciência na hora de parar.
Uma mulher afirmou que esses aplicativos são viciantes e os resultados são desastrosos. “Há relatos terríveis de como essa prática trouxe consequências para a família brasileira. Sem falar em vidas ceifadas. É algo muito sério e tem que se falar mesmo sobre esse assunto como alerta e prevenção”, disse.
Outra leitora comentou que os jogos destroem a vida de qualquer pessoa. “São viciantes, horrorosos. Coitado de quem começa com isso, perde trabalho, dinheiro, perde a honestidade, perde o caráter e depois para sair dessa só com ajuda de psiquiatra, psicólogo e internação em clínicas psiquiátricas. Não caiam nessa, se livrem enquanto é tempo, conheço pessoas que não têm mais nada porque mexeram com isso”, ressaltou.
Para um rapaz, esses jogos deveriam ser proibidos pelo Governo. Para outro, pode ser considerado um jogo de ilusão. Uma mulher comentou que essa é uma droga virtual, sendo muito triste ver pessoas serem influenciadas a jogar.
Na publicação, uma mulher comentou que os jogos são viciantes, sendo que ela já chegou a perder várias vezes o seu salário e não consegue parar de apostar. Outra, comentou que já teve problemas sérios com o jogo do Tigrinho.
Pesquisas sobre o assunto mostram que a ilusão com dinheiro fácil, curiosidade e fascínio alimentam o vício em sites e aplicativos de apostas. Um estudo da USP estima que há 2 milhões de pessoas viciadas em jogos no Brasil, causando perda na economia financeira e na saúde mental da população.
Para tratar o problema, o Ministério da Saúde já oferece tratamento para dependentes de jogos e grupos de apoio estão sendo criados em diversas cidades. A pessoa pode buscar tratamento gratuito no Programa Ambulatorial Integrado dos Transtornos do Impulso (Pro-Amiti), do Hospital das Clínicas de São Paulo, acessando proamiti.com.br/transtornodojogo; na irmandade Jogadores Anônimos, acessando jogadoresanonimos.com.br; e no Programa de Orientação e Atendimento a Dependentes (Proad) da Unifesp, com agendamento pelo WhatsApp (11) 99645-8038.
Governo está regulamentando sites de apostas
No dia 11 de outubro, a Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel) começou a desligar mais de 2 mil sites de apostas irregulares. Até o final de setembro, as casas de jogos que buscassem seguir em operação no país deveriam comunicar o Ministério da Fazenda sobre suas intenções, devendo estar em conformidade com regularizações propostas pelo governo.
Além de regularizar o mercado, a legislação ainda buscou reforçar penalidades contra o uso das plataformas por menores de 18 anos. A regulação também estabeleceu que as casas de apostas autorizadas apenas poderão operar com instituições financeiras ou de pagamentos autorizadas pelo Banco Central. Os apostadores podem sacar seu dinheiro a qualquer momento e o receberão na sua conta em, no máximo 120 minutos, do pedido.
O governo estabeleceu que as empresas devem avaliar a capacidade financeira dos apostadores para garantir que seus gastos não comprometam sua renda. De acordo com o Banco Central, beneficiários do Bolsa Família gastaram cerca de R$ 3 bilhões com bets no mês de agosto.
O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, reforçou no dia 10 de outubro que, se necessário, o governo tem condições para barrar qualquer tipo de pagamento utilizado pelos apostadores.
A regulamentação começou a caminhar em 2023, quando a Presidência da República enviou uma Medida Provisória ao Congresso Nacional para aprimorar a Lei de 2018, onde a quota fixa de eventos esportivos foram legalizadas por meio da Lei 13.756/2018.
Juntamente com outro projeto de lei que já estava em tramitação, a Câmara dos Deputados e o Senado Federal incluíram entre as apostas de quota fixa legalizadas no Brasil, os chamados jogos on-line. Assim, foi sancionada então a Lei 14.790/2023.
A partir da lei de 2023, o Ministério da Fazenda recebeu a competência de regular o setor de apostas de quota fixa e criou, em 2024, a Secretaria de Prêmios e Apostas (SPA-MF). Sua prioridade é fazer o setor atuar de forma regulada e controlada. Diversas portarias de regulamentação foram publicadas referente à lei. As normas para os jogos de azar online entrarão em vigor em janeiro de 2025.
Estudo alerta para os riscos de sites e aplicativos de apostas
A revista científica Lancet publicou um estudo na última semana sobre os riscos de sites e aplicativos de apostas. O documento mostra um risco crescente à saúde pública mundial provocado pelo advento de bets, apostas esportivas e cassinos digitais e foi divulgado pela Folha de S. Paulo na edição de segunda-feira, dia 28.
Segundo a reportagem, a revista montou um time de especialistas para investigar o problema, “negligenciado e pouco estudado”, e constatou que cerca de 46,2% dos adultos do planeta e 17,9% dos adolescentes fizeram alguma aposta no ano passado.
O estudo mostrou que 450 milhões de pessoas estão apostando e 80 milhões apresentando algum tipo de distúrbio relacionado à prática. A análise de metadados da investigação, iniciativa da própria revista, mostra que, entre apostadores de cassinos online, 15,8% dos adultos e 26,4% dos adolescentes apresentaram algum distúrbio relacionado à compulsão ao jogo; no caso das apostas esportivas, foram 8,9% dos adultos e 16,3% dos adolescentes.
A revista informou que as apostas atingem cada vez mais mulheres e crianças porque aplicativos e sites de apostas são desenhados para viciá-las; e, no caso dos menores, ficam evidentes as falhas na fiscalização do acesso.
No editorial, a revista pontuou que o setor de apostas promove seus produtos e protege seus interesses com práticas desenhadas para influenciar não apenas o comportamento do consumidor, mas a narrativa e o processo político em torno da regulação.
O relatório demonstra que a indústria de apostas não se compara a qualquer outro negócio. Não há limite físico que interrompa o consumo, como comida, álcool e cigarro. A oferta online é 24 horas por dia, sendo o único limite a quantidade de dinheiro que o apostador consegue empenhar. A Lancet também destaca a falta de um preço definido, pois uma sessão de aposta tem uma estrutura opaca de custo e probabilidades.