Vacina em gotinhas da poliomielite é substituída por dose injetável

As gotinhas contra a pólio não são mais aplicadas desde o início do mês

O Ministério da Saúde substituiu as duas doses de reforço da VOPb, a vacina oral poliomielite bivalente, por uma dose de vacina injetável da VIP, a vacina inativada poliomielite. Assim, desde o dia 4 deste mês, o esquema vacinal contra a doença está sendo exclusivo com a vacina injetável.
No esquema atual, a criança recebe três doses da VIP aos 2, 4 e 6 meses e duas doses de reforço da VOP, a gotinha, aos 15 meses e aos 4 anos de idade. Com o nome esquema, sendo todas as doses com a vacina injetável, a criança toma a primeira dose aos 2 meses, a segunda aos 4, a terceira com 6 e o reforço aos 15 meses.
Seguindo uma tendência mundial, a substituição foi amplamente discutida na Reunião da Câmara Técnica Assessora em Imunizações (CTAI), com a participação dos representantes da Sociedade Científica, com o Conselho Nacional de Secretários de Saúde (Conass), Conselho Nacional de Secretarias Municipais de Saúde (Conasems), Organização Pan-Americana da Saúde (Opas) e Organização Mundial da Saúde (OMS).
A Gazeta de Vargem Grande procurou a Prefeitura Municipal para saber sobre a vacinação na cidade. Segundo o explicado, a vacina contra Poliomielite que substituiu a “gotinha (VOP)” é a mesma que se faz aos 2, 4 e 6 meses (VIP). Portanto, a prefeitura informou que o município já possui essas vacinas.
Explicou que a aplicação da vacina já teve início conforme a orientação do Ministério da Saúde. “A vacina substituirá a VOP que era feita aos 15 meses de idade. A aplicação acontecerá na rotina vacinal de cada criança”, disse.
Questionada se Vargem mantinha estoque da vacina em gotinha, a Prefeitura Municipal pontuou que o município não possui mais nenhuma dose de VOP, visto que todas foram recolhidas pelo Ministério da Saúde no final de setembro.
Ao portal de notícias G1, o vice-presidente da Sociedade Brasileira de Imunizações (SBIm), Renato Kfouri, explicou que a vacina em gotinhas foi muito importante para a imunização no país, uma vez que o Brasil está há 34 anos sem a doença. “A vacina oral era excretada nas fezes de quem recebia o imunizante. E quando a gente vacinava milhares de crianças, esse vírus era eliminado na comunidade e acabavam imunizando indiretamente mesmo aqueles que não apareciam nas campanhas. A vacina oral atingia vacinados e não vacinados, levando a uma ampla vacinação”, pontuou o infectologista e pediatra.
Hoje, porém, o vírus selvagem é encontrado apenas no Afeganistão e no Paquistão. O médico explicou que, além disso, mesmo que muito raro, o vírus vacinal que fica circulando no ambiente pode sofrer uma mutação e reverter sua atenuação. “Ele pode se tornar virulento e causar paralisia em quem não foi vacinado. Hoje se tem mais casos de paralisia derivados desse vírus vacinal do que pelo próprio vírus selvagem que já eliminamos praticamente do planeta, restrito hoje a dois países”, completa.
Ressaltou ainda que a vacina é segura e que já faz parte do calendário de imunizações. “Não há mudanças no esquema de prevenção. As crianças precisam ser vacinadas. A paralisia só ocorre em quem não tem vacina”, disse.

A campanha
Símbolo da vacinação no Brasil, o personagem Zé Gotinha surgiu pela primeira vez no fim da década de 80, encabeçando a luta pela erradicação da poliomielite nas Américas. Na época, a doença, provocada pelo poliovírus selvagem, só podia ser prevenida por meio de duas gotinhas aplicadas na boca das crianças.
Anualmente, todas as crianças menores de 5 anos devem ser levadas aos postos de saúde durante a Campanha Nacional de Vacinação contra Poliomielite para checagem da caderneta e atualização das doses, caso haja necessidade. Mesmo as crianças que estão com o esquema vacinal em dia, mas na faixa etária definida pela pasta, devem receber as gotinhas ou doses de reforço.
Dados do Ministério da Saúde indicam que, desde 1989, não há notificação de casos de pólio no Brasil. As coberturas vacinais contra a doença, entretanto, sofreram quedas sucessivas ao longo dos últimos anos. Em 2022, por exemplo, a cobertura ficou em 77,19%, longe da meta de 95%.

Foto: Paulo Pinto/Agência Brasil

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