Tadeu Ligabue
No findar de 2024, mais precisamente no domingo do dia 29 de dezembro, Vargem Grande do Sul perde mais uma de suas referências históricas antigas, que a ligava ao antigo ciclo do café, que gerou muita riqueza na cidade e possibilitou que o município se transformasse em um dos mais desenvolvidos da região de São João da Boa Vista. Outra riqueza, a da batata e outros interesses, colocaram o velho casarão no chão.
Não foi na calada da noite, mas no sossego do último domingo do ano, quando quase nada poderia ser feito, que com maquinário apropriado, rapidamente tudo foi demolido, quase nada se aproveitando. O temor de que alguém poderia intervir, não tinha fundamento, pois a cidade é terra sem lei neste quesito de preservação histórica.
Mas, se há culpados nesta história, nãos são os novos proprietários que o demoliram, mas sim a inércia dos poderes municipais constituídos, leia-se Câmara Municipal e Prefeitura Municipal de Vargem Grande do Sul e seus ocupantes, vereadores e prefeito municipal, além de diretores ligados à área, que até hoje não foram capazes de aprovar uma lei que norteia e proteja o patrimônio histórico e cultural do município.
O casarão centenário em questão, estava localizado na esquina da Avenida Regato com a Coronel Lúcio, sendo seus últimos donos os proprietários do Varanda Restaurante e Pizzaria, que adquiriram o imóvel da família de Hildebrando Cossi, já falecido e o venderam recentemente.
Em matéria publicada pela Gazeta de Vargem Grande quando o casarão foi adquirido com a intenção na época de se tornar um restaurante, havia a possibilidade do mesmo ser preservado, tanto que foi restaurado para esta finalidade, conforme informou o antigo proprietário Luís Fernando Gentina. “Vimos uma oportunidade de investimento em um imóvel central de grande potencial para receber futuros empreendimentos”, falou na época.
O empresário se preocupou inclusive em preservar a arquitetura do casarão, recuperando o telhado, trocando o forro de estuque, tipo de forro usado nas construções feitas entre 1900 a 1930, e pretendia modernizar toda a parte interna do imóvel, adequando-o para se tornar um restaurante. Preservando, porém, a fachada da casa, mantendo sua arquitetura original.
História
Conforme a matéria publicada pelo jornal na edição do dia 26 de julho de 2019, o casarão de estilo alemão contava com projeto e construção de Miranda e Fontão, tendo sido construído em 1911 e era um retrato do progresso vargengrandense no século passado. O casarão foi adquirido em 1964 da viúva do Major Antônio de Oliveira Fontão pelo senhor Hidelbrando Cossi e passou por ampla reforma naquele ano, mas todas as características originais da casa foram mantidas.
Tudo caminhava para o local abrigar o novo restaurante Varanda, mas os planos mudaram, ele foi vendido e os novos proprietários só tinham interesse pelo terreno, no qual provavelmente deverão construir lojas e escritórios para serem alugados e servirem de renda extra para seus novos donos. Estão no seu papel, são investidores.
Sobraram pouquíssimos casarões em Vargem Grande do Sul e provavelmente deverão ter o mesmo destino, serão colocados “na chão”, como dizia antigo personagem da novela Tieta, que acabou por apelidar um investidor gramense que aportou em Vargem, destruiu vários casarões importantes, construindo prédios quadrados no seu lugar e ficou conhecido por “Tieta” em toda a cidade e região.
Mas, novamente voltamos a enfatizar que a culpa não é dos investidores, mas sim das autoridades locais, leia-se vereadores, prefeito, e por que não, a população de maneira geral que não está nem aí com o que acontece com seu patrimônio.