A ditadura temia mulheres

Marília Toneto, 27 anos, pedagoga, psicopedagoga e escritora

Silêncio ensurdecedor
A cada boca fechada
O sistema se consolidava
Muitos se calavam
Mulheres silenciavam-se

Ela não,
Enquanto o Brasil carregava
O absurdo da injustiça
Não se fechou
Abriu as portas da casa
Para acolher famílias despedaçadas
Sob seu olhar sensível
Que enfrentava o momento desprezível
Escrevia carta
Às mulheres de presos políticos.
Datilografava relatos sobre violências cometidas
Enviando-os para o exterior
Em envelopes escondidas
Com todo o dano
Sob o forro de bonecas de pano

Arma?
Era sua máquina de escrever
Cada toque na tecla
Um golpe contra o esquecimento
Transformou o seu tormento
Em resistência e intervenção
Deu à vida munição
Transformava a dor em memória
E a memória em revolução

O marido tinha o dom
E sumiu
Como nas palavras de Drummond:
“Estava sob o vento da história”
Permanece hoje em nossa memória

A periculosidade de Eunice
Estava em sua capacidade
De tecer redes invisíveis
De solidariedade.
Calma,
Enquanto o regime caçava corpos
Ela salvava almas.

Faleceu em 2019
Revelou o paradeiro de Rubens?
Não!
Mas deixou um poema escrito à mão:
“(…) Aqui jaz uma mulher
Que amou além do seu tempo
E resistiu além do seu medo.”
Hoje não nego
Eunice vive
E isso não é apenas uma nota de rodapé
É um incêndio!

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