O médico e pesquisador Otavio Tavares Ranzani (foto), natural de Vargem Grande do Sul, foi o principal autor de uma pesquisa que circulou pelos portais de notícias e jornais do mundo todo, como o El País.
Filho de Maria Jacira Tavares Ranzani e Américo Antônio Ranzani, Otavio morou em Vargem até os 17 anos e depois foi para São Paulo fazer faculdade e seguir carreira, no entanto, sempre está em Vargem para visitar seus pais, tios, tias, primos e amigos, que ainda moram na cidade.
Atualmente, o vargengrandense trabalha em São Paulo no Hospital das Clínicas, na Universidade de São Paulo (USP) e no Hospital Israelita Albert Einstein, e em Barcelona no Instituto de Saúde Global de Barcelona (ISGlobal), autor da pesquisa.
Já é de conhecimento de todos que a poluição atmosférica é nociva à saúde e que câncer de pulmão e várias doenças respiratórias estão ligadas a inalação de partículas. No entanto, o estudo, que foi feito na Índia pelo ISGlobal aponta os efeitos da poluição do ar na saúde óssea.
O estudo publicado no JAMA Network Open, um periódico científico, analisou a associação entre a saúde óssea e a poluição do ar em mais de 3.700 pessoas que moram em 28 aldeias fora de Hyberabad, que fica no sul da Índia. Seus autores utilizaram um modelo desenvolvido no local para estimar a exposição do ar por partículas finas, que são partículas suspensas com diâmetro de 2,5 µm ou menos, e carbono preto.
Nele, os participantes preencheram um questionário sobre o tipo de combustível usado para cozinhar. Durante a análise, seus responsáveis vincularam as informações a saúde óssea avaliada através de uma radiografia que mede a densidade dos ossos, a absorciometria, a qual mede a massa óssea no quadril esquerdo e na coluna lombar.
À Gazeta de Vargem Grande, Otavio falou sobre o estudo que realizou e a divulgação pela mídia. “Já sabemos que a poluição afeta vários órgãos, incluindo principalmente o pulmão e coração. Este estudo é bastante original porque encontramos também esta associação com a saúde óssea. Por ser tão original, com alto rigor científico e ter sido publicado em uma grande revista internacional, este estudo recebeu uma cobertura massiva da mídia global, com entrevistas e matérias em mais de 300 jornais por todos os continentes. Isso foi muito importante. Acredito que os achados da ciência devem ser comunicados com a comunidade e também favorecem a uma abertura para discussão entre o mundo da pesquisa e a sociedade”, avaliou.
O pesquisador explicou como a pesquisa foi feita. “Esse estudo iniciou-se em 2015, com um grande projeto financiado pelo Conselho Europeu de Pesquisa (European Research Council – ERC). Em uma região peri-urbana, próxima a uma grande cidade na India, incluindo regiões rurais, mediu-se a poluição do ar e também a poluição causada por queima de biomassa (carvão, lenha, etc). Também medimos vários fatores de saúde da população em quase 7 mil indivíduos. Na metade deles, avaliamos com densitometria óssea, a massa e densidade óssea, nas regiões da coluna lombar e femoral. Observamos que com maior exposição a poluição do ar, em termos de maior quantidade de partículas no ar, menor a massa e densidade óssea. Esse efeito foi ainda mais importante nos participantes com mais de 40 anos”, pontuou.
A pesquisa mostrou que a exposição a poluição do ar no ambiente, particularmente exposição as partículas finas, foi associada a níveis mais baixos da massa óssea e o uso de combustível de biomassa para cozinhar não foi considerado um fator de risco.
De acordo com o estudo, a inalação de partículas poluentes pode levar a perda da massa óssea por meio do estresse oxidativo e da inflamação causada pela poluição do ar.
Otavio comentou que seguirão estudando os efeitos da poluição no corpo humano em geral, mas também nos ossos. “Novos estudos para replicar estes resultados em outros países são importantes, assim como entender melhor os mecanismos. Os efeitos da poluição de partículas são muito similares aos do cigarro, assim, muitos dos mecanismos já são conhecidos”, disse.
Segundo o pesquisador, em cidades pequenas como Vargem Grande do Sul, a poluição local também pode afetar a saúde óssea. “Um adulto, em média, respira 10 litros de ar por dia. Se este ar contém partículas de poluição, nossos pulmões são verdadeiros filtros e essas partículas podem ir para o sangue e se acumular no corpo. Estas partículas também ‘incomodam’ nosso corpo, pois são corpos estranhos e ativam o nosso sistema de defesa, gerando inflamação e aumentando o stress oxidativo”, disse.
“Estes mecanismos da poluição no nosso corpo já foram demonstrados para vários níveis de poluição, afetando assim a todos, inclusive em cidades com menor tráfico (grande fonte de poluição em cidades). Assim, mesmo com menor níveis de poluição do que na Índia, onde nosso estudo foi realizado, essa inflamação ocorre”, completou.
Otavio acredita que para amenizar o problema, é necessário diminuir os níveis de poluição e melhorar a qualidade do ar. “A principal fonte são os veículos motorizados, o que deveremos sempre tentar diminuir o seu uso. Mas isso exige melhor transporte público de qualidade, uso de alternativas como aplicativos de carona, e uso de bicicletas. Também outra fonte é industrial, assim exigir que as leis sejam seguidas”, pontuou.
“Por fim, melhor planejamento urbano, como arborização, espaços verdes, incentivo à atividade física. Mas tudo isso exige um esforço conjunto da sociedade e vontade política para investimento. Além disso, manter hábitos saudáveis, principalmente atividade física e boa dieta”, finalizou o pesquisador.