Há muito ter um cachorro em casa deixou de ser algo tão natural quanto as crianças ficarem brincando até altas horas da noite nas ruas. Os cães de antigamente ficavam soltos pelos quintais, perambulavam pelas vizinhanças e quase ninguém se importava muito com ele. Comiam restos de comida e embora os donos nutrissem amor pelo bicho, não se tinha o glamour que hoje a maioria dos cães ostentam.
Eram poucas as raças, a maioria de cães caçadores e de estimação, quem sabe um da raça pequinês. O que proliferavam mesmo, eram os vira-latas, ou tomba-latas, como alguns preferiam ao se referirem aos cachorros sem pedigree. Não se compravam cães, ganhava-se de parentes, amigos ou escolhia um daqueles sem donos, que andavam aos bandos pelas ruas da cidade.
De algum tempo para cá, a situação mudou muito, cachorro de estimação passou a ser denominado pet, petshop casas de rações e de outros produtos para cães ‘pipocaram’ pela cidade e com o desenvolvimento da sociedade, como muitas pessoas não podem passear com seus cães, criou-se a oportunidade de trabalho para o “dog walker”, ou um passeador de cães para alegrar e cuidar do animalzinho de estimação.
Foi vislumbrando esta oportunidade de trabalho, que o jovem Rarison Wilian Rodrigues da Silva, 24 anos, natural de Vargem, tornou-se um “dog walker/trainer”, ou um passeador de cães, em 2015. Ele atende principalmente pessoas que têm dificuldade de passear com seus cães, muitos são idosos ou pessoas atarefadas no seu dia a dia, com pouco tempo para dedicar aos seus pets.
Para quem não sabe, pet é uma palavra inglesa e significa animal de estimação. Segundo uma rápida consulta no Google, o registro deste termo apareceu por volta de 1530, na Escócia, e era usado como sinônimo de “animal preferido”. Ele foi incorporado à língua portuguesa há algum tempo.
A Gazeta de Vargem Grande tem uma coluna muito lida, chamada “Momento Pet”, e é dedicada aos leitores do jornal que têm um animalzinho de estimação e contam através da coluna, como é o dia a dia do mesmo, suas peraltices, falam de amor e companheirismo que os cães ou gatos lhes oferecem, tornando a vida de quem tem um animal de estimação, mais leve de se viver.
Esse mesmo amor aos animais, foi o que levou Rarison a se tornar um passeador de cães. Profissão que a princípio, muitas pessoas viam com preconceito e até um certo desdém, como ele admitiu na entrevista que concedeu ao jornal para falar sobre sua atividade.
Aos poucos as barreiras foram sendo vencidas e hoje ele cuida de cerca de 30 cães, de 17 donos diferentes. Rarison trabalha com pacotes de 30 minutos, três vezes por semana, todos os dias. Têm pacotes mais completos, com uma hora de duração, isso, segundo explicou, vai depender do porte e das necessidades do cão.
Nas suas tarefas, ele tem a ajuda da esposa Gabriella, mas na maioria das vezes, é ele que executa o trabalho. É comum vê-lo pelas ruas da cidade com um ou mais cães atrelados, passeando com os animais. Também realiza adestramento, o que, segundo comentou, torna o cão mais educado, executando ordens como sentar, ficar, deitar, controle de alimentação, dentre outros ensinamentos.
Manter o animalzinho ativo, menos ansioso, com reflexos positivos na sua saúde física e mental, está entre os benefícios dos cães que têm um passeador. Com os passeios, eles ganham mais saúde e qualidade de vida, se socializando também com outros bichinhos que encontram durante as caminhadas.
O passeador também realiza a hospedagem de cachorros, quando seu dono vai se ausentar. Ele não retira o cão da residência, da sua área de conforto, conforme explicou na entrevista. “Vou até a casa do cliente, faço a alimentação, ministro os remédios que o cão está tomando e que o veterinário indicou, realizo a limpeza do local e o levo para passear”, explicou.
Rarison disse que gosta muito do que faz e tem planos para o futuro. Dentre eles, está a criação de um hotel próprio para cães, que terá várias atividades com os animais hospedados, muitas brincadeiras, aulas, passeios, descanso e possivelmente banhos. “Também estou pensando em uma creche, onde o cão ficaria por poucas horas de hospedagem, enquanto seu dono precisa se ausentar por pouco tempo”, falou.
Apaixonado por cães, descobriu esta vocação aos nove anos de idade. “Tenho este dom, de os animais se sentirem mais confortáveis perto de mim. Também acho muito necessária esta minha atividade, muitos animais precisam do passeio para ter uma saúde e um comportamento melhor”, afirmou.
Sobre ser um passeador de cães, disse que já sofreu bastante preconceito por parte de algumas pessoas, que não têm o devido conhecimento do trabalho que realiza. “Em centros maiores ou em países mais desenvolvidos, é uma atividade reconhecida e valorizada. Estamos procurando mudar estes pensamentos, trabalhando com responsabilidade nestes cinco anos, para que as pessoas saibam reconhecer da necessidade de se cuidar bem de seus animais de estimação”, finalizou.
Fotos: Arquivo Pessoal