Onde o coração mora

Vargem Grande do Sul sempre foi minha casa. É onde eu nasci e onde vivi até os 17 anos, quando fui aprovada para cursar jornalismo, em uma faculdade em outra cidade. Me mudei para Bauru, de lá fui para São Paulo, retornei a Bauru e segui por lá até completar 30 anos.
Em 2011, voltei a morar em Vargem Grande do Sul. Mas parece que nunca tinha deixado a cidade, já que passava todos os finais de semana possíveis na cidade. Nesses 13 anos que deixei de participar do dia a dia da cidade, Vargem estava sempre muito presente na minha vida. Então, voltar foi uma decisão que apesar de trazer uma mudança muito profunda em minha vida, pareceu muito natural.
Os 11 anos seguintes foram muito intensos. Acompanhei ativamente as transformações da cidade, não apenas como moradora, mas também como editora da Gazeta de Vargem Grande. Pelo meu trabalho, conheci profundamente cada cantinho da cidade e fazia questão de levar os repórteres e colaboradores do jornal para entender as muitas realidades que existem numa cidade mesmo pequena como Vargem.
E de repente, quando achava que tudo seguia seu curso, veio a vida me lembrar que ela é uma história em aberto e não somos nós que escrevemos o seu enredo. A vida é água que flui, que vai levando a gente. Essa correnteza de fatos que foram se sucedendo, me levaram de volta para Bauru em março do ano passado, somente para que em junho, eu tivesse que voltar para Vargem e me preparar para uma nova mudança: a de país.
Assim, desde dezembro do ano passado, moro não apenas longe da cidade que amo, mas longe do Brasil. Estou há 10 meses morando na Dinamarca, um país encantador, com uma cultura muito diferente, um idioma impossível, mas com um povo extremamente amável.
Tudo isso para dizer que em 42 anos de vida, essa é a primeira vez que passo tanto tempo longe da minha aldeia. E agora que a cidade faz aniversário, penso nas coisas que eu sinto falta, como caminhar pela represa nos finais de tarde, de poder chegar na casa das minhas amigas andando poucas quadras, de tomar café da tarde com minha família, de escapar no meio do trabalho para a casa de uma tia para matar a saudade, levar meu filho no bosque, passear de carro pelas ruas dos bairros mais antigos e reconhecer muitos de seus moradores e até de dirigir pelos bairros novos e me espantar como ainda tenho tanto a conhecer sobre Vargem.
A vida com certeza vai me trazer de volta para Vargem. Pode ser já no ano que vem ou pode demorar um pouquinho mais. Enquanto isso, Vargem segue comigo, em meu coração, para qualquer lugar que a vida me levar.

Por Lígia de Paiva Ligabue

DEIXE UMA RESPOSTA

Por favor insira seu comentário
Por favor insira seu nome aqui